A (linda) festa da democracia
“A democracia é muito linda.”O comentário, feito em tom de êxtase por uma cara amiga de longas datas, diante da comemoração pela vitória da petista Ana Júlia Carepa, a primeira governadora eleita da história do Pará, resume a festa da cidadania que representa cada nova eleição, ao consagrar a alternância de poder, essência da democracia. E é justamente essa possibilidade da alternância de poder que faz da democracia política, a despeito de suas eventuais mazelas, o melhor regime para qualquer sociedade que não queira ficar na contramão da história.
A exemplo da minha amiga a qual me reportei, faço parte de uma geração que floresceu para a vida sob a égide da ditadura militar que assaltou o poder em 1º de abril de 1964. Vivemos os anos de chumbo, o silêncio imposto pela censura, o temor de sermos vítimas da ignomínia da tortura, o eventual desalento provocado pelo sentimento de impotência, os equívocos próprios de quem acaba refém involuntário do dualismo do bem e do mal, e até mesmo a tentação totalitária embutida na utopia socialista mais radical.
Por isso, certamente, o valor que costumamos conferir à virtude dos matizes e à importância do contraditório, pré-requisitos para a liberdade, que é sobretudo e fundamentalmente a liberdade de quem discorda de nós.Lula, reeleito presidente, pode até não ser a melhor opção, mas se há de respeitar ele ganhar um segundo mandato legitimado pelo voto universal. O mesmo respeito que se deve à petista Ana Júlia Carepa, que já detinha a marca de ser a primeira senadora do Pará e, agora, é a primeira governadora eleita do Pará.Mudar, experimentar coisas novas, é extremamente saudável. Só o que está morto não muda. Sempre na perspectiva, acentue-se, que mais importante que a velocidade é a direção.
publicado por Augusto Barata
Jader: o acerto final
A eleição de Ana Júlia Carepa como a primeira governadora eleita do Pará é, em especial, a vitória do ex-governador Jader Barbalho. Ele ressurge como o epicentro da política paraense, depois de sugerir uma decadência política após ser compelido a renunciar à presidência do Senado e posteriormente ao próprio mandato de senador, como alternativa para evitar a cassação, em um julgamento político sumário, no qual antecipadamente já estava condenado.
Depois ele ressurgiu como deputado federal, mas operando nas sombras, para não fazer recrudescer a artilharia pesada que atrai, depois que ousou enfrentar e derrotar Antônio Carlos Magalhães, o ACM, até passado recente o babalorixá da Bahia e uma liderança temida no plano nacional.
Jader foi o artífice da engenharia política que, via Palácio do Planalto, fez o PT repensar sua estratégia eleitoral, trocando Mário Cardoso por Ana Júlia Carepa, equilibrando a correlação de forças na sucessão estadual. Ao mesmo tempo, ele reforçou as oposições com a chapa do PMDB, pela qual foram candidatos a governador e vice-governador, respectivamente, o deputado federal José Priante e o ex-vice-governador Hildegardo Nunes.
publicado por Augusto Barata
O cotejo fatal para Almir José
Com essa troika, Jader fez o contraponto desfavorável a Almir José Gabriel. Os três – Ana Júlia, Priante e Hildegardo -, pela própria juventude, evidenciavam o caráter extemporâneo da candidatura de Almir José, com seus 74 anos, a voz rouca e uma aparência alquebrada, própria de um idoso que leva uma vida sedentária e é um fumante inveterado.
Ao mobilizar o PMDB em apoio a Ana Júlia, no segundo turno, Jader fez pender definitivamente a balança eleitoral a favor da candidata petista, da qual foi o principal cabo eleitoral, mais até que o próprio presidente Lula. Este, embora o mais votado no Pará na sucessão presidencial, não conseguiu transferir votos, com a intensidade desejável, para a candidata tucana a governadora – o que Jader fez.
Jader teve a inteligência indispensável para aprender com a adversidade e sair dela maior do que entrou. De resto, impôs uma derrota letal a Almir José Gabriel, que aos 74 anos não dispõe de tempo para tentar se recompor. Agora, diante da derrota para Ana Júlia Carepa, o ex-governador tucano parece condenado a fazer parte da história do Pará.
publicado por Augusto Barata
Reconhecimento popular
O reconhecimento popular ao papel da Jader Barbalho na vitória de Ana Júlia Carepa foi evidenciado pela festa que tomou conta da sede do diretório regional do PMDB, na rua dos Mundurucus, entre a avenida Serzedelo Corrêa e a travessa Doutor Moraes. O perímetro ficou congestionado por carros e eleitores do PMDB, comemorando a vitória de Ana Júlia.Na ocasião, Jader foi reverenciado como se fosse ele o governador eleito.
publicado por Augusto Barata
Barraco tucano 1
Segundo vazou do bunker tucano, Almir José recebeu a derrota em clima de barraco.Reunido com seus principais assessores, no comit}ê eleitoral da rua Senador Manoel Barata, por volta das 8 horas da noite de domingo, 29, o ex-governador tucano teria reconhecido a derrota e responsabilizado nominalmente, pelo desastre eleitoral, o seu sucessor, governador Simão Jatene, o secretário de Gestão, Sérgio Leão, e o marketeiro Orly Bezerra.
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Barraco tucano 2
Agora, segundo relato do jornalista Mauro Bonna, em sua coluna deste domingo, 29, no caderno “Negócios”, no jornal “Diário do Pará”, barraco, mas barraco mesmo, foi o que protagonizaram a atual primeira dama, dona Ana Maria Cunha Jatene, e a ex-primeira dama dona Socorro França Gabriel.Dona Socorro acusou dona Ana Maria de fazer corpo mole e em nada ajudar na campanha do seu marido, Almir José Gabriel. A acusação, dizem, foi repelida de forma cáustica pela atual primeira dama.
publicado por Augusto Barata
Preocupação hilária
Uma outra nota publicada na coluna de Mauro Bonna, de acordo com a qual os petistas estariam de olho “naquela ridícula e célebre foto de Paulo Chaves”, na entrada do teatro da Estação das Docas, fez o secretário executivo de Cultura deflagrar uma verdadeira operação de guerra.Logo ao amanhecer de domingo, 29, o poster do Landi da tucanagem havia sido recolhido, por ordem do próprio Paulo Chaves.
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O desafio de Ana Júlia
Primeira governadora eleita do Pará, do qual foi a primeira senadora, na sua estréia no Executivo o desafio de Ana Júlia Carepa será honrar os compromissos de campanha. Nas oposições vendem-se sonhos, mas no governo é indispensável mostrar resultados. Só com soluções para os problemas é viável dar argumentos de defesa aos aliados e retirar as armas de ataque das mãos dos adversários.
Sem um governo de coalizão, Ana Júlia acabará confinada a um gueto, deixando escapar aquilo que lhe será vital, que é ficar em sintonia com as vozes das ruas.Repetir a política de compadrio será um erro crasso. O recado das urnas foi bem claro. O eleitorado reclama por uma administração que efetivamente privilegie a excelência e, assim fazer, priorize o social.
O segredo para tanto é buscar, com determinação política, compatibilizar o socialmente justo com o financeiramente possível.Em resumo, Ana Júlia não poderá esquecer que não é a governadora do PT, mas do Pará e do seu povo.
publicado por Augusto Barata
Almir: mito e realidade
De acordo com o marketing tucano, Almir José Gabriel despontava como vestal, ou seja, pessoa que deseja ser ou apregoa ser muito honesta, em contraposição a Jader Barbalho, do qual tudo se saberia de mal, obviamente com ênfase para as acusações de corrupção que estigmatizam o ex-governador. Denúncias que voltaram à cena no rastro da atual sucessão estadual, em conseqüência do apoio do PMDB à candidatura ao governo da senadora petista Ana Júlia Carepa, em oposição ao ex-governador tucano Almir José Gabriel.
Jader, no discurso do tucanato, seria a quinta-essência do mal, o Anhangá, que na mitologia tupi-guarani é o espírito do mal. Almir, claro, seria o casto, o puro, o honesto.A partir daí, a tucanagem tentou, com o dinheiro público, impingir ao eleitorado um mito, que como todo mito foi construído a partir de meias verdades. E meias-verdades são piores que a mentira, porque escamoteiam os fatos, a pretexto de esclarecê-los.
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A gênese do tucanato
No Pará, ironicamente, a gênese do tucanato se confunde com a ascensão de Jader Barbalho.
Depois de notabilizar-se como médico de inegável competência durante a ditadura militar – durante a qual diplomou-se pela Adesg (Associação dos Diplomandos da Escola Superior de Guerra), condição sine qua non para que os quadros civis fizessem carreira no regime totalitário -, Almir José foi secretário de Saúde nas duas administrações do ex-governador Alacid Nunes.
Eleito governador em 1982, no período de transição da ditadura militar para o regime democrático, Jader Barbalho manteve Almir José como secretário de Saúde. Depois, o fez prefeito biônico de Belém. Naquela altura os prefeitos das capitais eram virtualmente nomeados pelo governador, do qual acaba sendo uma espécie de supersecretário.
Tratava-se, é claro, de um entulho autoritário, do qual ficamos livres com a emergência da Nova República, cujo marco foi a eleição, no colégio eleitoral, do ex-presidente Tancredo Neves, que morreu sem tomar posse, na esteira de uma diverticulite.Nas eleições de 1986, para consolidar sua base política, Jader abdicou de lançar-se candidato, mantendo-se no cargo, para eleger seus candidatos. Foi quando elegeu senador, pelo PMDB, Almir José Gabriel.
Naquela altura, convém esclarecer, Almir José Gabriel não conseguiria se eleger, por conta própria, sequer síndico de prédio, porque lhe faltava substância eleitoral para tanto.Dois anos depois, Almir José deixou para trás Jader e o PMDB, para ser um dos fundadores do PSDB.
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A falta de pudor ético
A aparente indignação de Almir José Gabriel, sempre que se recorda que ele já teve como patrono político o ex-governador Jader Barbalho, foi a face mais acabada da sua compulsão pela perfídia. Era tudo mise-em-scène.
Almir José decolou politicamente, tendo como patrono político Jader Barbalho, quando contra este se acumulavam as acusações de corrupção que até hoje o estigmatizam e que são requentadas a cada disputa política.Naquela altura, como era beneficiário do carisma de Jader, desde então uma liderança inconteste no Pará, Almir José não teve nenhum pudor ético e tratou de usufruir dos dividendos políticos que lhe rendiam a popularidade do seu chefe político.
publicado por Augusto Barata
Sucessão de derrotas
Candidato a vice-presidente na chapa de Mário Covas, pelo PSDB, na eleição presidencial de 1989, Almir José Gabriel amargou o vexame, de corar anêmico, de ter uma votação pífia em seu próprio estado. Candidato a governador em 1990, não chego0u ao segundo turno.
Naquela eleição, o segundo turno foi disputado por Jader Barbalho, que se elegeu para seu segundo mandato como governador, e o empresário Sahid Xerfan, do PTB, ex-prefeito de Belém. Xerfan foi apoiado pelo então governador Hélio Gueiros, que rompera com Jader, e pelo grupo Liberal, hoje ORM (Organizações Romulo Maiorana), que se engajou escandalosamente na campanha contra Jader.
Em 1992, apoiado dentre outros por Jader Barbalho, Almir José Gabriel saiu candidato a prefeito de Belém, contra o ex-governador Hélio Gueiros, então no PFL, que acabou eleito, derrotando Socorro Gomes (PC do B). Foi quando o vestal tucano protagonizou a patética renúncia à candidatura, que decidiu solitariamente, sem discutir com quem quer que seja, a pretexto de desvios éticos incompatíveis com seus princípios. Como nunca ofereceu qualquer justificativa para seu gesto, nem responsabilizou ninguém pelos supostos desvios éticos, ficou a impressão de que apenas fugiu da disputa, por temer mais uma nova derrota.
publicado por Augusto Barata
A ciranda de traições
Exilado em Brasília, após a vexatória renúncia à candidatura a prefeito de Belém, Almir José foi catapultado de volta para o proscênio por Hélio Gueiros (PFL), com o apoio do qual saiu candidato a governador, pelo PSDB, contra o então senador Jarbas Passarinho (PPR, hoje PP), apoiado por Jader, que se desencompatibilizou, para sair candidato ao Senado.
Tendo como vice Hélio Gueiros Júnior, o Helinho, Almir José venceu Jarbas no 2º turno, e continuou pavimentando sua ascensão com uma ciranda de traições. Depois de trair Jader, a quem passou a satanizar, tratou de dar uma rasteira nos Gueiros, dispensando um tratamento desrespeitoso a Helinho, a quem desconheceu solenemente, desdenhando por extensão do pai, Hélio Gueiros, a quem devia sua eleição.A perfídia definitiva de Almir José contra Hélio Gueiros foi lançar, nas eleições de 1998, a candidatura de Luiz Otávio Campos, o “Pepeca”, ao Senado, nela investindo maciçamente, inclusive a partir do slogan – “O senador do governador”.
Desgastado, Gueiros terminando por sucumbir eleitoralmente, ao acabar atrás de Ana Júlia Carepa, cuja derrota para Luiz Otávio Campos foi atribuída à corrupção eleitoral.Antes de formalizar sua candidatura, Almir tentou desesperadamente uma composição com Jader Barbalho, a quem acenou com a proposta do líder do PMDB indicar seu vice e dispor ainda de R$ 10 milhões para financiar a campanha peemedebista Jader recusou a proposta e logo depois passou a ser politicamente satanizado .justamente por aquele que poucos meses antes buscava seu apoio.
publicado por Augusto Barata
A traição aos Nunes
Reeleito em 1998, ao vencer Jader Barbalho no 2o turno, com uma campanha milionária e pontuada por denúncias de uso da máquina administrativa do estado, Almir José voltaria sua perfídia contra seu novo vice, o engenheiro agrônomo Hildegardo Nunes, filho do ex-governador Alacid Nunes e que fora secretário de Agricultura no seu primeiro mandato.
Os Nunes, pai e filho, desdobraram-se nas eleições de 1994 e 1998, nas campanhas vitoriosas do governador tucano.Um profissional competente e um vice eficiente e leal, nos palanques de campanha Hildegardo foi apresentado como o futuro interlocutor do governo junto as classes produtivas, o que o credenciava, naturalmente, para a estratégica Seprod (Secretária Especial de Produção).
Eleito, Almir José nomeou para a Seprod Simão Robison Jatene, que faria seu sucessor, ao rasgar o compromisso de dar apoio, na sua sucessão, a quem estivesse melhor posicionado nas pesquisas de intenção de votos.Naquela época, as pesquisas apontavam Hildegardo como o nome mais palatável ao eleitorado, dentre as alternativas disponíveis. Almir José passou, então, a investir maciçamente em Simão Robison Jatene e a relegar ao ostracismo Hildegardo, a quem passou meses sem receber para os despachos habituais entre governador e vice.
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A humilhação a Jatene
Para eleger Jatene, em 2002, Almir José precisou de Jader Barbalho e não teve nenhum pudor em recorrer a quem elegeu como inimigo figadal. Jatene esteve pessoalmente na casa de casa de Jader, pedindo o apoio deste, quatro vezes. E foi com o apoio do ex-governador do PMDB que conseguiu vencer a petista Maria do Carmo, em 2002.
Na ocasião, no comício de encerramento da campanha tucana em Castanhal, terra de ambos, Jatene e Almir, este bradou, repetidas vezes, que seu candidato tinha também o apoio de Jader Barbalho. O episódio, ilustrativo do oportunismo do vestal tucano, foi bem recordado pela senadora petista Ana Júlia Carepa, agora a primeira governadora eleita da história do Pará, no debate realizado pela Rede Globo, quando se defrontou com Almir José Gabriel.
Quando se configurou a possibilidade da reeleição de Jatene, que passaria por uma composição com Jader Barbalho, Almir José atropelou de forma humilhante seu sucessor. Sem a elegância de um comunicado prévio, se lançou candidato à sucessão daquele que fizera seu sucessor.Jatene – que fez um governo marcado sobretudo pela letargia e pelo nepotismo, no qual se alapardaram os Cunha, da primeira-dama, dona Ana Maria, os Silva, da ex-mulher do governador, a doutora Eliana Jatene, e os Jatene – se curvou submisso à vontade do seu patrono tucano.
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