quinta-feira, julho 12, 2007

Artigo do Jota Parente

Este é o artigo que está na edição 45 do JC

Nós, cidadãos brasileiros, temos o péssimo hábito de colocar a culpa no governo, por tudo de ruim e de errado que acontece à nossa volta. Se a educação não vai bem, a culpa é exclusivamente do governo; se jogamos lixo, detritos ou galhadas na frente de nossa casa e o carro do lixo não recolhe, a culpa é do prefeito. Existe um monte de coisas erradas que os governantes fazem e é nosso dever vigiar para que isso não continue acontecendo, mas, passou da hora de deixarmos de olhar somente para o próprio umbigo.

Semana passada, um bate papo com o amigo Francisco Trentino despertou minha atenção para a questão da ausência dos pais no acompanhamento da vida escolar dos filhos. Trentino tinha assistido a uma entrevista do ministro Fernando Haddad, da Educação, quando de sua passagem por Belém há poucos dias. O ministro ressaltou a importância dos pais serem presentes em cada momento do processo educacional de seus filhos. "A sociedade precisa incorporar a educação como um valor seu. Sem isso, é impossível exercermos a cidadania e atingirmos uma distribuição justa da renda", disse.

Incorporar a educação como um valor seu, significa participar do dia-a-dia da escola, saber que tipo de professor está lidando com seu filho; qual é o nível desse profissional e da Educação em geral; que progresso seu filho está alcançando. Isso dá subsídio para que se questione com argumentos fortes e se contribua para a melhoria da qualidade do ensino.

Não é preciso recorrer a nenhum tratado de educação para chamar a atenção para a importância da participação dos pais nas atividades de seus filhos. E isso não serve apenas para a escola. Julgada pelo tribunal da nova psicologia e pedagogia, a educação que nos foi legada parece ter sido condenada por formar adultos cerceados, intimidados, inseguros, traumatizados, ou com baixa auto-estima.

Muitos pais, no caso os de melhor poder aquisitivo, confundem as coisas. Acham que participar da vida dos filhos é dar-lhes tudo que puderem de bens materiais. É o telefone celular de última geração, é filmar todos os momentos da vida deles, presenteá-los com o último modelo de vídeo game, etc. etc. etc...

Segundo o filósofo francês Michel Foucault , a educação deve conduzir à autonomia, palavra grega cujo significado é a capacidade de reger-se a si mesmo livremente, sem a coerção externa. Tal autonomia é alcançada quando se educa para amar desde cedo aquilo que realmente importa: o Bom, o Belo e o Verdadeiro. Nessa perspectiva da boa tradição, participar talvez seja tomar parte na educação de nossos filhos para guiá-los na direção da autonomia. Implica em termos e sermos parceiros de outros agentes de educação, cabendo a nós julgar quais os que são realmente imprescindíveis.

Em plena era da supervalorização do indivíduo e do esvaziamento do espaço público provocado pela descrença em relação ao que é coletivo (sobretudo a política), talvez a escola seja um dos últimos espaços em que a coletividade é preservada, com a grande vantagem de não ameaçar a individualidade de seus membros. Assim, cabe a nós fazermo-nos presentes na escola, mas não apenas para fotografarmos nossos filhos no primeiro dia de aula, à chegada do piquenique, na festa de fim-de-ano, ou para exigirmos alguma coisa simplesmente porque pagamos ou porque a escola é do governo.

Precisamos levar a sério o significado de participar como parceria e assim tomarmos parte - aquela que cabe a nós pais, e não aos psicólogos, psicopedagogos e cia. - em ocasiões que realmente importam, como por exemplo, acompanhando a escola na busca do efetivo alcance desses elementos indissociáveis: a Ética (por uma vida justa), a Estética (por uma vida admirável) e o Conhecimento (por uma vida dedicada ao Amor à Sabedoria). Eu tenho a consciência tranqüila de que fiz o meu dever de casa, pois acompanhei cada passo da vida escolar dos meus filhos, interagindo com a escola. O resultado tem sido o melhor possível. Infelizmente, a maioria dos pais transfere para os professores a responsabilidade total pela educação de seus filhos. Não sabe se o professor é bom ou ruim, bem ou mal preparado. O resultado disso é trágico para o futuro.

Ditos assim, parecem ideais por demais sublimes e intangíveis, mas talvez estejam ao alcance de nosso dia-a-dia, como quando fazemos sugestões e críticas construtivas ao planejamento de aulas, à programação das tarefas, à prática docente, à seleção do conteúdo a ser transmitido não apenas em Matemática, Português e Ciências, mas em História e Geografia, em Religião e Filosofia, em Inglês e Educação Física. Enfim, participamos quando contribuímos para aquilo que não necessariamente aparece no boletim, mas que marca muito mais a alma daqueles a quem tanto amamos. Espelhemo-nos então em Platão, que, apesar de provir da mais alta aristocracia ateniense, dedicou sua vida ao cultivo de outra nobreza: a nobreza da alma, algo muito distinto do culto às celebridades.
Jota Parente - Jornalista

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