quarta-feira, março 19, 2008

Perfil do Empresário


Edson Gonçalves Menezes, que nasceu na cidade de Xambrê, no Paraná, no dia 5 de janeiro de 1964 é o entrevistado desta edição do PERFIL DO EMPRESÁRIO. Edson é filho de José Gonçalves Menezes e Dalila de Oliveira Menezes. É casado com Silvanete Santos Costa e pai de quatro filhos, James, Marcos Paulo, Pedro Henrique e Letícia.
JC - Como foi sua infância?
Edson - Minha infância foi bem simples. Foi a infância de um filho de agricultor, que tem que trabalhar desde pequeno. Na adolescência e na juventude não foi diferente; sempre trabalhando.
JC - Como foi a vida escolar?
Edson - Muito difícil. Estudar sempre foi a parte mais complicada, porque a gente sempre morou no interior e longe de escola. A gente começava um ano e não conseguia concluir. O pouco que eu estudei foi fruto de muito esforço, já na minha juventude.
JC - Enquanto viveu no Paraná, o trabalho foi sempre na agricultura?
Edson - Até chegar aos dezessete anos, trabalhei sempre na agricultura. Depois, trabalhei em uma empresa, a construtora F. Andrade, quando já estava aqui no Pará.
JC - Como se deu a mudança para o Pará?
Edson - Em 1980 a família toda veio para o Pará. Viemos para o Jamanxinzinho. Chegamos no dia 25 de julho de 1980. Aquele foi um período muito difícil. O modo de trabalhar era totalmente diferente. No Paraná a gente trabalhava com tudo mecanizado. Chegando aqui, teve que ser feito tudo no braço.
JC - Como foi esse impacto de mudar para um lugar totalmente diferente?
Edson - Foi muito complicado. Andei muito a pé em vicinal, carregando carga na costa, pois se a gente quisesse comer, tinha que levar os gêneros alimentícios no ombro; no Inverno, chuva demais, diferente do Sul, onde o período chuvoso não é longo, são praticamente seis meses, aqui na Amazônia. Passei dois anos nessa luta, trabalhando na agricultura. Viemos todos; os pais, os nove filhos naturais e os dois adotivos. Depois fui para o quartel, servir o Exército, onde fiquei um ano, de 1983 a 1984. Daí, já fiquei na cidade.
JC - Como se deu a mudança da família para a cidade?
Edson - O capital que meu pai trouxe do Paraná, gastou todo e o resultado foi praticamente nulo. Meu pai trouxe um bom dinheiro e empregou tudo lá dentro, no Jamanxinzinho. Quando a gente veio para a cidade de Itaituba, viemos sem nada; o dinheiro foi gasto todo lá. Ao chegar aqui, fomos morar na vila do nosso amigo Maranhão, na 5ª Rua. Morava todo mundo em dois quartos. Foram tempos de muitas dificuldades. Nesse tempo meu pai começou a fazer pistas de garimpos. Ao sair do Exército eu aprendi a profissão de barbeiro, tendo trabalhado do salão Ás de Ouro, mas não encaixou bem no meu perfil. Aquele negócio de ficar alisando cara de homem eu não gostei. Então, eu resolvi ir para a região de garimpos com meu pai, ajudar na abertura de pistas. A primeira em que trabalhei foi a do garimpo Tabocal. Com o dinheiro que ganhei lá, junto com meu irmão mais velho, Valdir, compramos um táxi, na revendedora Ford. Essa vida de taxista durou do final de 1984 até o começo de 1988. Em dezembro de 1987 eu casei. Nessa época a praça estava fraca e eu decidi vender o táxi; gastei o dinheiro e foi mais uma vez um tempo duro. Foi quando fui trabalhar de vendedor ambulante, vendendo na feira (banana, farinha); vendi, também, roupa, colchão e outras coisas.
JC - Como começou a mudança até chegar a empresário?
Edson - Após esse tempo como vendedor ambulante eu fui trabalhar na Auri Peças, com o seu Valdir. Vendia peças para garimpo. Ele abriu lojas no Crepurizinho, Crepurizão e km 140. Durante três meses eu trabalhei no Crepurizão. Aí, recebi uma proposta para trabalhar no Império das Máquinas, mas, dei azar, pois logo depois que eu comecei a trabalhar a loja fechou. Fiquei, de novo, sem trabalho. Então, apareceu a oportunidade de trabalhar na Coman, no km 140. Lá foi onde eu posso dizer que tudo começou, para chegar onde cheguei hoje. Eu agradeço até hoje ao seu Joel, que me deu a oportunidade, pois foi nessa época que eu consegui fazer uma economia de 200 gramas de ouro, que eu transformei nisso tudo que eu tenho, que não é muito, mas é fruto desses 200 gramas de ouro. Eu passei dois anos com esse ouro guardado. Nesse tempo eu fazia bico de carpinteiro, de pedreiro, de taxista, mas, não mexia no ouro. Eu guardei esse ouro numa barrinha, embutida numa tomada de energia. Alguns me pediam emprestado e eu dizia que já tinha vendido.
JC - Como e quando esse ouro começou a ser multiplicado?
Edson - O Davi, meu irmão, trabalhava no Patrocínio e só ele sabia que eu ainda tinha o ouro comigo. Ele perguntou se eu não queria começar um negócio em sociedade com ele. Ele disse que já mexia com peças para garimpo e que eu, também, sabia mexer com isso. Ele trabalhava na Coman. Então, meu sogro me emprestou mais 135 gramas de ouro, perfazendo 335 gramas, mesmo tanto que o Davi colocou. Fomos até a Imatec, fizemos um cadastro, que foi aprovado, comprando o equivalente ao total do ouro que tínhamos e mais outro tanto na nota; levei tudo num avião do Zé Arara; peguei a mulher e os meninos e fomos para o Patrocínio onde a gente ganhou dinheiro, de 1989 até 2003. A sociedade com o Davi durou apenas três meses, pois ele propôs que eu comprasse a parte dele, três meses depois de montado o negócio.
JC - E depois disso?
Edson - Depois em vendi a loja do Patrocínio e montei a Ciclobike, aqui em Itaituba, cujo nome mudou mais tarde para Brava Norte; depois vieram o provedor Zum e a BNcom. E assim estamos no mercado.
JC - Para chegar a esse ponto você tem noção exata das dificuldades e deve valorizar cada centavo que ganha...
Edson - Com certeza. A gente procura saber onde aplica. Nem sempre o empresário acerta. Errar faz parte, para a gente corrigir na próxima. Empresário tem que ter caráter e responsabilidade, coisa que a gente trás de berço. Hoje, a gente (os filhos) se sente feliz por poder oferecer uma boa qualidade de vida aos nossos pais, que graças a Deus estão os dois vivos.
JC - Você se sente escravo do dinheiro?
Edson - Não! De jeito nenhum! Eu sou escravo do trabalho. Minha jornada é de mais de 12 horas por dia, embora tenha recomendação médica para trabalhar menos, em torno de seis a oito horas, no máximo. Estou com estresse e o médico pediu para maneirar.
JC - Quantos empregos diretos você gera hoje?
Edson - Hoje, são 22 empregos de carteira assinada.
JC - Valeu a pena toda essa trajetória?
Edson - Valeu e continua valendo a pena. Eu me sinto gratificado por ter vencido. De onde eu saí, até onde cheguei, considero que foi uma grande vitória, embora dê para crescer mais ainda. Se tivesse que fazer tudo de novo, faria; não mudaria muita coisa na minha trajetória; talvez, um ou outro ajuste.
JC - A BNcom e a Zum funcionam em prédios próprios?
Edson - Sim. Foi conseguido com muito sacrifício, mas alcançamos mais esse objetivo.
JC - Qual é a visão que você tem de Itaituba do presente e sua previsão para o futuro?
Edson - Eu vejo Itaituba como um município que tem chance de crescimento. Falta um pouco mais de responsabilidade no campo político; tem um índice de violência consideravelmente baixo e boas possibilidades para o futuro. Itaituba tem muito a crescer. É preciso investir mais na agricultura.
JC - Para aqueles que ainda não fizeram a transição da época do auge do garimpo e a realidade atual o que você tem a dizer?
Edson - Muita gente achou que aquela fartura, aquele dinheiro fácil seria para sempre. Tem que aprender a administrar, a empregar o dinheiro de forma correta; aí tem tudo para dar certo.
JC - Tem intenção de entrar para a política.
Edson - Não, por enquanto não. Eu sou filiado a um partido político, o PT, mas, não tenho intenção de me lançar candidato. Pelo menos, por enquanto.

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