Um grupo bi-nacional, formado por instituições do Brasil e do Canadá está desenvolvendo um projeto de pesquisa na região do Tapajós, entre Aveiro e Itaituba, região essa considerada das mais críticas quanto à concentração de mercúrio nas águas desse grande rio e nos peixes que vivem no mesmo. Nesse caso, não se trata apenas de analisar os efeitos do mercúrio lançado no rio através da garimpagem de ouro, assunto que foi exaustivamente estudado nos anos 90. Estuda-se primordialmente, agora, o mercúrio que chega até o rio lançado pelas águas pluviais provenientes de terrenos utilizados na agricultura familiar e suas conseqüências para os seres humanos que vivem nesses locais. Como se sabe, no solo existe uma gama de minerais, variando sua composição de um lugar para outro. No caso da região do Tapajós estudada, há uma elevada concentração de mercúrio que foi confirmada através de pesquisa. Quanto mais mata for derrubada, mais mercúrio o rio vai receber.
A pesquisa tem a finalidade de prevenir que os pequenos agricultores contraiam doenças originadas pela ação do mercúrio, como o consumo de peixes contaminados, por exemplo. Contudo, o trabalho não se restringe somente ao aspecto acadêmico. O projeto visa, sobretudo, oferecer conhecimento técnico para quem trabalha na agricultura familiar, objetivando alcançar maior produtividade, para evitar derrubadas em novas áreas cobertas por vegetação. Ao conseguir isso, haverá um enorme impacto positivo na saúde dessa população. Nessa parte entra a Embrapa, um dos organismos mais respeitados do mundo no setor de pesquisas agropecuárias. Deixando de retirar a cobertura do solo, seja ela de mata ou de capoeira, evita-se que o processo de erosão provocado pelas chuvas transporte mais mercúrio do solo para o rio.
Os integrantes do projeto intitulado Saúde Mundial estiveram recentemente em Araipá, município de Aveiro. Eles voltarão em breve, com uma equipe de aproximadamente 45 pessoas para dar continuidade nos trabalhos de coleta de sangue de parte da população e orientação técnica, passando pela agrovila Araipá Lago, indo até a comunidade Nova Estrela, ainda em Aveiro, carregando um grande aparato que inclui motor de luz, computadores e equipamentos para a realização de exames.
O projeto Saúde Mundial abrange o estudo da contaminação mercurial dos
ecossistemas aquáticos do Rio Tapajós, sendo uma alavanca para a implementação de
modelos agrícolas ribeirinhos baseados no desenvolvimento sustentável. Visa a orientar as práticas agrícolas familiares em direção a uma melhor gestão das terras, objetivando preservar e restaurar os ecossistemas altamente significativos da Amazônia e por conseguinte melhorar a qualidade de vida dos agricultores carentes da região do Tapajós, com previsão de durar quatro anos.
Através da Embrapa e de outros órgãos de pesquisa, o trabalho vai identificar as práticas agrícolas realizadas na área estudada, estudar as propriedades físicas e químicas dos solos em função das práticas agrícolas existentes, com enfoque principal em relação ao ciclo do Hg (mercúrio), avaliar a erosão dos solos e estudar a hidrologia com destaque para a questão da erosão dos solos e a transferência de sedimentos orgânicos e minerais para os cursos de águas.
Faz parte do projeto, avaliar as condições gerais de saúde e de saneamento
básico nas comunidades envolvidas em práticas agrícolas, avaliar indicadores de saúde e de condições sanitárias, avaliar a exposição ao Hg e os teores de Hg na biota (conjunto dos seres animais e vegetais da região estudada), relacionar a degradação ambiental decorrente das práticas produtivas e a qualidade de vida e saúde das comunidades.
Depois de concluídas algumas etapas, o projeto vai elaborar junto com as comunidades, estratégias de desenvolvimento em áreas alteradas através da educação
ambiental e de práticas auto-sustentáveis, bem como vai envolver as comunidades nos procedimentos da abordagem a respeito do ecossistema por meio de práticas auto-sustentáveis e educação ambiental. O Projeto Saúde Mundial vai chegar até a vila de São Luis do Tapajós, sendo essa a última etapa do atual estágio do trabalho.
Faz parte do projeto fomentar o reflorestamento das beiras de rios e lagos com espécies que desempenhem importante papel ecológico na conservação do solo e na alimentação de peixes herbívoros; as espécies a serem plantadas devem ainda ser úteis para o uso medicinal e/ou para a economia das populações dessas áreas.
Mercúrio no Rio Tapajós - A partir dos anos 90 o mundo ficou sabendo que havia preocupante contaminação da bacia do Rio Tapajós por mercúrio depositado durante a extração de ouro aluvionar. A exposição humana ao metilmercúrio através da ingestão de alimentos contaminados tem sido associada a tragédias ambientais, em diferentes partes do mundo, como conseqüência principalmente das atividades industriais. Hoje são conhecidos importantes acidentes ambientais decorrentes da descarga de resíduos industriais contendo mercúrio, em baías, rios e lagos, contaminando animais de vida marinha e secundariamente as populações humanas.
A contaminação mercurial dos rios e lagos decorrentes das atividades garimpeiras de ouro, com conseqüente contaminação dos peixes e humanos, tem sido caracterizada na região Amazônica brasileira. Na região do Rio Tapajós, a contaminação pelo mercúrio, vem sendo estudada através da análise do metal nos peixes e nas amostras de cabelo das populações de diferentes comunidades ribeirinhas.
Sabe-se que, no processo da garimpagem do ouro nos rios da Amazônia, grande quantidade de mercúrio é utilizada na captação de finas partículas do metal nobre, formando um amálgama ouro-mercúrio que posteriormente é submetido a queima para separação dos metais. O excesso do mercúrio líquido e o vapor resultante da queima do amálgama, depositavam-se quase que totalmente nos rios e lagos da região, antes que chegasse a tecnologia atualmente utilizada, que faz com que isso não mais ocorra da mesma forma que antes.
Estudos demonstraram que determinadas espécies de peixes da região, consideradas de hábito carnívoro, como traíra, tucunaré, pescada, peixe cachorro, dentre outras, freqüentemente consumidos pela população local, apresentaram níveis de mercúrio total acima do limite recomendável para consumo humano pela Organização Mundial da Saúde.
Depois de todos esses estudos conclusivos e após a desaceleração da atividade garimpeira, parecia que ficaria mais fácil controlar esse problema da contaminação das águas do Tapajós e seus afluentes. Mas, eis que surgiu essa novidade da transferência desse metal por meio das águas das chuvas que caem em terrenos desmatados à beira do Rio Tapajós, de seus afluentes e de lagos da região.
Participam do projeto Saúde Mundial, Biodôme de Montreal, CIAT : Centro Internacional de Agricultura Tropical, EMBRAPA : Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, FCAP : Faculdade de Ciências agrárias do Pará, IEC : Instituto Evandro Chagas, IBAMA : Inst. Bras. do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
INCRA : Instituto Nacional de Colonização e reforma agrária, MPEG: Museu Paraense Emílio Goeldi, NAEA (UFPA) : Núcleo de Altos Estudos Amazônicos
Saúde e Alegria (ONG-Santarém), SECTAM : Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, UFRJ : Universidade Federal do Rio de Janeiro e
UQAM : Université du Québec à Montreal
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