terça-feira, junho 03, 2008

Br 163, uma aventura na selva amazônica

Aritigo do professor Jadir Fank

Com o avanço do desenvolvimento no Norte do Brasil, Governantes se sentiam obrigados a oferecer o mínimo de dignidade a esses brasileiros, isolados até então. Foram rasgadas diversas Rodovias Federais na mata amazônica, trazendo esperança de dias melhores a estes brasileiros. Assim surgiram duas das mais importantes rodovias federais na região. A BR 230 conhecida com Transamazônica, ou por muitos descrito como a Transamargura, pelas péssimas condições que oferece na maior parte do ano e durante quase todo período de sua existência, desde 1972 e a BR 163, famosa Santarém-Cuiabá, que liga o Norte ao Sul. Nesse período o Governo Federal incentivou brasileiros de outras regiões, para colonizar a Amazônia, usando inclusive uma celebre frase “integrar para não entregar”.
As famílias se instalaram a beira das rodovias, nos projetos de assentamentos do INCRA. Muitos não agüentaram o abandono e retornaram à suas origens, outros não resistiram às bruscas mudanças de região, e acabaram partindo dessa para melhor e os que ficaram, enfrentaram uma luta árdua e sobreviveram todos os obstáculos, mas sempre na esperança de dias melhores. Esses dias melhores estavam baseados em nossa Constituição Federal, o direito de ir e vir. Porém esse artigo da Constituição não vale para os brasileiros que vivem nas margens da BR 163. A mesma nessa época do ano é um descaso total, impedindo que os mesmos tenham o direito de ir e vir.
Escrevo sobre isso, pois vi de perto esta triste realidade, quando do retorno da Agrovila de Bela Vista do Caracol, distrito do Trairão, há apenas 130 km de Itaituba e 50 km da sede do Município. Às 4 horas madrugada do último dia 27 de maio, embarquei no microônibus que faz linha Caracol – Itaituba, a previsão de chegada ao Trairão, meu destino, era entre 5:30 a 6:00 horas da manhã. Não demorou mais do que 15 km essa expectativa, até enfrentar o primeiro dos quatro grandes obstáculos. Um atoleiro de grandes proporções, onde nada mais do 2 horas foram perdidas. O motorista do microônibus fazendo de tudo para reduzir o tempo de espera, mas não adiantava, o desgaste do motor era alto sem contar os pneus, que sofriam um desgaste acima do normal.
Ultrapassado esse obstáculo um pequeno alívio, que não durou muito, pois o que havíamos passado era galho fraco em relação ao que nos esperava. Todos tiveram que sair da condução, crianças, mulheres e homens. Os passageiros auxiliavam o motorista e seu ajudante. Enxadões foram utilizados, como se fossem máquinas arrumando a estrada, sem contar a força empregada pelos passageiros no sentido de empurrar o micro, como se fosse obrigação dos mesmos, só para ter o direito que lhes é assistido, o de ir e vir. Nada disso ajudou, foi necessária a utilização de um trator, que estrategicamente se encontra naquela região, nosso salvador da pátria, não só do Micro como dos caminhões, pois os que possuem carro baixo nem se arriscam enfrentar a BR.
Até o terceiro atoleiro o trator nos acompanhou, resolvendo facilmente a situação. Quando tudo parecia resolvido, estando apenas 15 km do Trairão, mais um atoleiro, onde o microônibus praticamente sumiu na lama e no buraco. Lá estavam os passageiros caminhando no barro, sujando seus calçados e roupas. O motorista sofrendo na tentativa de ultrapassar o obstáculo. Foi difícil e demorado, somente possível com a ajuda de uma Toyota Bandeirantes, que apareceu depois de um tempo, se assim não o fizesse não teria o direito de se deslocar. Quando ultrapassado esse último obstáculo, todos estavam aliviados, alguns já haviam perdidos compromissos assumidos mais cedo, mesmo assim todos comemoraram. Minha aventura terminou no Trairão. Exatamente as 9:00 horas da manhã, 5 horas depois da minha saída. Que País é esse! “Enquanto isso em Brasília ...”. Até a próxima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário