terça-feira, junho 03, 2008

Cada um tem um pouco de culpa

Artigo do Jota Parente
Tendo conhecido de perto as entranhas do poder, sinto-me à vontade para falar de muitos assuntos atinentes ao mesmo em muitos dos seus setores. Muitas das hipóteses que formulava quando olhava de fora tornaram-se certezas quando passei para o seu interior.
Achei sempre que a sociedade dispunha de poucos recursos para controlar o monstro sem cabeça chamado Poder Público e que era preciso fazer alguma coisa para que se tivesse um controle maior, sobretudo no que diz respeito ao modo como são empregados os recursos repassados aos poderes. Digo aos poderes, porque num primeiro momento o cidadão costuma voltar os olhos apenas para o Poder Executivo.
É óbvio que é o Poder Executivo que detém o maior poder entre os três poderes constituídos, porque é para lá que convergem os recursos da arrecadação pública, de lá sendo encaminhados os repasses constitucionais para o Legislativo e para o Judiciário. Mas, não se pode deixar que esses dois trabalhem sem a vigilância do contribuinte, pois é freqüente ouvirem-se notícias de mau uso do dinheiro público pelos mesmos.
Uma coisa puxa outra. Exatamente por ter conhecido tão de perto os caminhos e os atalhos do Poder Executivo é que me sinto em condições de ratificar algumas coisas que defendia no passado e de rever alguns pontos de vista, posto que é próprio do ser humano rever seus conceitos, quando isso se faz necessário.
Hoje em dia entendo que a sociedade dispõe, sim, de mecanismos que poderiam ser eficazes para o controle do funcionamento da máquina pública em todos os seus níveis. O que está faltando é a gente prestar mais atenção nas decisões que tomamos na ocasião em que somos chamados para delegar poderes aos concidadãos que escolhemos para nos representar.
Qual é o sentimento que em nós desperta o ato de votar? Infelizmente, tem muita gente que acha isso uma grande chatice. Só vai votar porque se lembra que poderá precisar estar em dia com suas obrigações eleitorais. Obrigações, já que o voto e obrigatório no Brasil. Se não fosse, milhões não iriam votar.
Para mim, a pessoa que só vota por que o voto é obrigado, ou, simplesmente ignora o processo eleitoral e não comparece para votar é um cidadão que colabora para que a situação mude menos do que todos esperam. Além disso, não tem o direito de reclamar que o governo não está fazendo nada, ou está indo muito mal. Quem se decepciona com o candidato que ajudou a eleger pode evocar o direito de errar, inerente a todo ser humano. Quem é omisso não tem esse direito.
Outra questão diz respeito aos mecanismos de fiscalização, mais voltados para o Poder Executivo, pela razão precípua de ser esse o que tem a chave do cofre que guarda o dinheiro que é fruto dos impostos que pagamos. São eles, Câmara Municipal, Câmara Federal e tribunais de conta, dos municípios e dos estados.
A partir do momento em que votamos em qualquer porcaria de candidato, alguém sem escrúpulos, nem elevados princípios morais, estamos entregando a chave do galinheiro para a raposa tomar conta. Quando colocamos algum político ímprobo no Poder Legislativo, o que se pode espera que ele faça como nosso fiscal, alem de se locupletar? Nada. Pior é que muitos deles terminam trabalhando seus nomes para os tribunais de contas, e conseguem aprovação.
Numa palestra que fez em 2006 em Itaituba, foi perguntado ao ilustre tributarista Helenilson Pontes, num encontro realizado no salão de convenções do Hotel Apiacás, se ele considerava que o Congresso Nacional, bombardeado por denúncias de todos os lados, podia ser considerado o retrato da sociedade brasileira. Helenilson respondeu que o Congresso era, é e sempre será a cara da sociedade, que é quem o elege.
A Câmara Municipal de Itaituba tem a nossa cara. O mesmo pode-se dizer da Assembléia Legislativa do Pará. Eu posso até não ter votado em nenhum dos atuais vereadores ou deputados estaduais. Mas, alguém votou e eu faço parte desta sociedade. Não tenho o direito de achar que, na hipótese do candidato em quem votei não ter sido eleito, que eu nada tenho a ver com isso. Se não, eu não seria um democrata. Portanto, vamos parar de botar a culpa nos outros, pelos governantes ou legisladores que temos, no caso não estarmos satisfeitos com os mesmos, e vamos prestar mais atenção na próxima vez que entrarmos numa fila de votação, como vai ocorrer em outubro deste ano. Votar com a razão, não com o coração é o que deve ser feio por. Cada um de nós tem um pouco de culpa nisso tudo que está aí.

Nenhum comentário:

Postar um comentário