quinta-feira, setembro 11, 2008

Léo Resende: 20 anos voando para os garimpos do Tapajós


Léo Cassiano Resende nasceu no dia 27 de maio de 1957, na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul. Sua família trabalhava na agricultura mecanizada, onde ele também atuou, tendo feito alguns cursos relativos ao uso e à manutenção de máquinas agrícolas. Porém, desde muito cedo despertou a paixão pela aviação. Aos 18 anos de idade já se encontrava fazendo o curso para piloto privado, em Bagé. Pouco tempo depois de concluir esse curso ele foi para São Paulo estudar para ser piloto comercial. Terminada essa etapa, teve uma rápida passagem por Goiânia, de onde veio para Itaituba, ainda muito jovem. O comandante Léo Resende é o destaque desta edição, na série 50 Anos do Garimpo de Ouro do Tapajós.
“No começo era para eu trabalhar na aviação agrícola; mas, eu fui direto para a aviação comercial. Muito tempo depois de formado piloto, dez anos após chegar a Itaituba é que eu fui atuar como piloto agrícola, por pouco tempo.
Minha vinda para Itaituba teve uma trajetória interessante. Quando eu fui estudar aviação comercial em São Paulo, eu conheci um colega que era de Goiânia, que se chamava Adolfo Herten Rossi. Ele era catarinense, mas morava em Goiânia. Nós fizemos o curso juntos. Logo que nós terminamos o curso fomos para Goiânia. Ficamos tentando uma coisa e outra. Foi nesse tempo, final de 1979, que eu conheci o comandante Wagner Domingues da Fonseca, o Pai Velho. Ele tinha ido buscar um avião que estava em manutenção, lá. Como ainda iria demorar uns dias para aprontar o avião, ele contratou esse meu amigo para traze o avião para Itaituba. Eu fui convidado pelo meu amigo para trazer a aeronave junto com ele, em janeiro de 1980. Eu vim e a gente acabou ficando. Eu acabei ficando por vinte anos. O Adolfo terminou tendo uma morte trágica. Foi assassinado.
Meu primeiro emprego foi no Táxi Aéreo Crepuri, do seu Lourival; depois eu fui trabalhar na empresa do Pai Velho e dos filhos dele. Eles tinham vários aviões. Mais tarde fui trabalhar para o Sebastião Balbino de Sousa, o Sabá do Piranha, que tinha aviões, mas ainda não existia o Táxi Aéreo Piranha. A rigor, esses foram os meus três únicos empregos fixos em Itaituba. Fiz muitos vôos como freelance. Ao longo desses vinte anos que fiquei em Itaituba eu voei aproximadamente 15 mil horas.
Desde 1984, quando começaram a usar as máquinas conhecidas como chupadeiras, quando o Sabá começou a colocá-las nos garimpos dele, eu também coloquei uma para mim no garimpo São Sebastião. Aquela foi a primeira vez que eu trabalhei com garimpo. Depois eu coloquei mais alguns pares de máquinas, até que em 1987, eu e mais dois sócios fizemos uma pista. Eu fui sócio do Xerife, um piloto bastante conhecido, que voou nessa região e do Maetano, famoso e lendário garimpeiro Maetano. Essa pista ficava entre o Piranha e o São João, na qual colocamos o nome de Comandante Arara, em homenagem a um piloto que morreu ali por perto, no ano de 1983 ou 84. Fiquei um tempo nesse garimpo com os sócios, depois fiquei só, mais tarde, em 1991, eu vendi para o Sabá e fui trabalhar no Piranha. Durante quase todo o tempo que eu vivi em Itaituba eu estive mexendo com garimpo.
Depois da morte do Sabá, que aconteceu em 1993, eu acertei com a D. Tereza, esposa dele, que morava fora, para tocar o Piranha, ficando desde então, até o ano de 1999, pouco antes eu me mudara para Macapá, como arredantário da Pista do Piranha. Foram seis anos cuidando, inclusive, dos interesses da família (do Sabá).
Tudo valeu a pena! No período em que vivi em Itaituba em trabalhei, também com barco, usina de arroz, minha esposa Lia teve loja. Eu nunca me limitei a apenas uma atividade. Tenho certeza que valeu muito a pena. Financeiramente, eu também segui a sina do garimpeiro, mesmo sendo muito comedido na minha vida. Às vezes as coisas não saem como a gente planeja. Eu vim para Macapá e num primeiro momento as coisas não deram certo. Mas, assim é a vida. Repito que valeu a pena em todos os sentidos, pois adquiri uma experiência de vida fantástica. Foram anos maravilhosos de minha vida. Não tenho receio de dizer que foi um dos períodos mais felizes de minha vida o que eu vivi em Itaituba.
Lançamentos – Eu peguei ainda a época em que a gente fazia lançamentos de mercadorias em clareiras. Eu mesmo fiz muitos lançamentos. A primeira vez que eu fui lançar uma carga, fazia pouco tempo que eu estava voando. Foi para a abertura de uma pista chamada Santa Luzia, na região do Crepurizinho. O proprietário, se não estou enganado, era Chico Farias, que estava dentro do avião jogando a carga. Eu não tinha prática nenhuma daquilo. A metade da carga eu joguei fora da clareira. O dono da carga, para não perder tudo, pediu que eu pousasse na pista do Crepurizinho, de onde a carga foi levada na costa. Era quase um dia de viagem. O objetivo do lançamento era facilitar e para ganhar tempo, mas eu joguei a metade da carga fora. Depois eu fui aprendendo, pegando a prática e passei a acertar o alvo.
Durante os vinte anos que operei em Itaituba e na região, não sofri nenhum acidente grave. Em 1981 eu tive um acidente na pista Santa Terezinha, inclusive com meu amigo Luiz Preto, que era meu passageiro. Foi uma imperícia minha, que terminou com a quebra da aeronave na pista, que era bastante crítica. Acabei pilonando o avião (ficou com as rodas para cima), que era do Pai Velho. Houve danos materiais, mas, felizmente, ninguém se feriu. Esse foi o acidente mais grave que eu sofri. Houve alguns outros sustos menores.
Pelas informações que eu tenho, as primeiras pistas de garimpo começaram a surgir no começo dos anos 60, poucos anos depois do início da garimpagem. Isso dinamizou o garimpo porque facilitava a atividade, pois deu mobilidade ao garimpeiro. Antes, o garimpeiro passava dias e dias para chegar a um determinado lugar.
Quando comecei voar para garimpo, eu considero que tive sorte, porque fui operar numa pista considerada boa para os padrões do garimpo. Era a pista do Crepuizinho, que tinha uns 400 metros ou um pouco mais. Depois, passei a voar, também, para pistas de todo tipo, bem menores. A pista do Santa Terezinha era crítica, pois era curta e de subida; não tinha mais que 280 metros. Tinha a pista do Bacurau, no Rio Marupá, que também era muito crítica e não tinha mais que 300 metros, tinha muitas ondulações no terreno, com uma aproximação horrível, pois tinha um morro na cabeceira. Havia muitas outras pistas ruins.
Nesses anos todos, muitos colegas de profissão perderam a vida. Há registros oficiais de que, de 1980 a 1990, somente na aviação de garimpo do Tapajós nós tivemos 150 pilotos mortos. Esse período de dez anos foi o pico da atividade garimpeira. Nós tínhamos um colega piloto, o Lioto, que catalogava todos os acidentes. Ele hoje vive em Manaus. Somente no ano de 1984 morreram 18 pilotos na aviação de garimpo. A média era de 15 pilotos mortos por ano, ou mais de um por mês, nesse período. A maioria dos acidentes – e isso não se deu nem se dá apenas na aviação de garimpo -, acontece por imprudência. No caso da aviação de garimpo, somava-se a imprudência, com a carência de pistas seguras e a falta de uma manutenção adequada, pois ainda não tínhamos grandes oficinas, o que fazia com que as manutenções maiores tinham que ser feitas todas no sul do País. Tudo isso era ingrediente para que houvesse tantos acidentes.
A partir do início dos anos 90, com a desaceleração da atividade garimpeira e do aumento das alternativas de transporte, os vôos foram diminuindo, e consequentemente, com mais rigor na fiscalização, o número de acidente foi decrescendo”.
Na próxima edição Léo Resende completará o seu relato. Ele vai falar da experiência nada fácil de ter passado uma noite cercado numa casa, no garimpo, com arma na mão, enquanto do lado de fora alguns homens armados queriam acertar o dono da casa; vai relembrar de uma história que ele já contou ao Jornal do Comércio a respeito de um incidente pitoresco num vôo para Itaituba. E a seguir, o personagem a ser destacado nesta série será Rui Mendonça, que tem muita coisa para contar, pois é dono de uma memória invejável, capaz de lembrar os menores detalhes.

17 comentários:

  1. Anônimo9:53 AM

    Interesantíssimas esses relatos sobre a garimpagem no Tapajós. Parabéns ao Joata Parente, por sua proatividade e resgate da memória da nossa região amazônica. Embora seja de outro Estado, identifico-me muito com essas coisas por aqui. Sugiro, ainda, que faça uma compilação desses relatos e os publique em forma de livro. Grande abraço.

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  2. Prezado Léo: por favor se puder nos ajude! Valdir Oliveira da Silva, conhecido por Paulista-moreno claro, estatura alta... tinha garimpo em itauituba e crepuri nessa época 89/90..e voava direto com pai velho e talvez com vcs... ultimo contato dele com a familia foi em 89 qdo o pai faleceu e ele falou por radio que viria no mÊs seguinte e não veio. Ele tinha uma farmácia e padaria em Itaituba...Esposa chamava Cleuza. Ela Faleceu sem nos dar pistas do que aconteceu com ele...se está vivo ou não. de 1989 pra cá, a mãe dele (dona Dirce sofre por não saber noticias dele). Hoje ela está bem idosa e para nós seria de extrema importancia saber alguma informação ou pista que levasse ao paradeiro do VAldir. Se puder nos ajudar ou tiver alguem que possa, por favor entre em contato no e-mail: maestroedson@gmail.com
    Ela é Evangélica e ora todos os dias para que saiba notícias desse filho dela que, se estiver ainda vivo, estará com cerca de 55 anos

    se puder nos ajudar, rogamos que Deus o recompense em dobro...

    Abraços,

    Obrigado

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  3. ADOREI LEO PASSEI MUITO TEMPO NO GARIMPO E VOEI COM PILOTOS BRILHANTES ASSIM COMO VC ,HOJE TO FAZENDO CURSO DE PILOTO PRIVADO E AINDA QUERO VOAR EM UM GARIMPO EU TAVA LA NO GARIMPO SAO SEBASTIAO EM JACARÉACANGA NO COMEÇO DESTE ANO, UM ABRAÇO

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  4. ELIZA2:23 AM

    OI ADOREI LEO RESENDE, SOU GARIMPEIRA E COMO VC DISSE O MELHOR TEMPO DA VIDA DE UMA PSSOA É NO GARIMPO É MUITO DIVERTIDO HOJE TO NA CIDADE FAZENDO UM CURSO DE PILOTO PRIVADO ,MAS QUERO VOLTAR AO GARIMPO E PILOTAR UM AVIAO PO CIMA DA SELVA EU TAVA NO GARIMPO SAO SEBASTIAO PERTO DE JACARÉACANGA E VOEI COM O PILOTO WILSOM METRALHA FOI ÓTIMO!

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  5. Parabens caro Léo pelo comentário sobre uma época boa do Garimpo na região do Tapajos, morei em Itaituba e Santarem de l980 à l985,os comandantes de minha época eram Caximbão, Machado, Indio, Charles e muitos outros espero em breve ler mais materias referente a Garimpos tais Cuiu-Cuiu, Crepori, Planeta, Peixoto de Azevedo e outros Grande Abraço

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  6. Anônimo9:28 AM

    Olá Leo,

    Sou amiga do Lioto e Eli Bernardino Gomes (cabeça Branca) há muitos anos, mas há cinco anos eu perdi o contato com o Lioto. Gostaria de saber deles. Você pode me ajudar, com telefone ou e-mails?
    Grata,

    Fatima - rfrongia@gmail.com

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    1. Anônimo9:06 PM

      Boa noite sou sobrinho de eli gomes cabeca branca para mais detales meu email e mauricio@mercosulrep.com.br ele nao esta muito bem sempre.que conta estas historias dos garimpos e muito empolganye e fasinante.

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  7. Cara! Lembrei de tanta coisa que já estava apagada na memória. Não sei se a pista de Santa Luzia que citou em seu blog é a mesma em que trabalhei pela Tratex, mas já valeu para recordar. Fiquei lá de outubro de 1984 a dezembro de 1985. Voei com Chico Gordo, Mucura, Polaco, Polido, Gildo Martins, Pilotos dos Metralha e do Zé Altino e tantos outros. Bons tempos e alguns apertos também. Depois do PT-IAG nos deixar na Pista de São Lucas (Bandeirante), próximo ao Rosa de Maio e Cmte Peréz ele caiu entre o Rio Canumã e Abacaxi, graças a Deus não machucou niguém. Bons tempos!!!

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  8. olá b noite a tds, bom moro em BH\MG e estou indo p itb em janeiro 2011 com a cara e a coragem p tentar voar em garimpo,se alguém puder me dar um help d algum lugar p alugar, ou um contato p voar d piru ... abrcx a tds nim_31@hotmail.com

    julio PPAV

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  9. Cmte-Guido Menegatti5:03 PM

    Léo Resende, sempre,prestativo,amigo fiél., Tenho orgulho de ter voado Garimpo e conhecer pessôas como Vc. (QUEM MOROU AS MARGENS DO TAPAJÓS NÃO ESQUECE JAMAIS) SBIH -Cmte- Guido.

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  10. Anônimo2:18 PM

    Olá LÉO

    sou PCH INVH no Robinson 44 Raven II ,que tem capacidade de carga de 270 kg mais piloto de 90 kg e autonomia de 600 KM, busco um contato para voar garimpo na região Norte.
    Grato
    cmte. Eduardo Rodolfo Passos
    codigo anac 931501
    -41-9825-4276-
    -12-9758-4001-

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  11. ola meu amigao bowa noite? cara tudo isso me deixa emocionado. morei em alguns garimpos da regiao na epoca era muito novo nao tinha pique p trabalho nos baixoes entao passava o dia carregando agua numa lata p lavar biquilha dos avioes na pista do crepurisinho. meu hoje moro em manaus conheso demais o cmt lioto conhecido como liotao, ja faz um tempo que nao a vejo mais sei onde mora valeu por tudo deixo hum abraço

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  12. Prezado Léo: por favor se puder nos ajude! Valdir Oliveira da Silva, conhecido por Paulista-moreno claro, estatura alta... tinha garimpo em itauituba e crepuri nessa época 89/90..e voava direto com pai velho e talvez com vcs... ultimo contato dele com a familia foi em 89 qdo o pai faleceu e ele falou por radio que viria no mÊs seguinte e não veio. Ele tinha uma farmácia e padaria em Itaituba...Esposa chamava Cleuza. Ela Faleceu sem nos dar pistas do que aconteceu com ele...se está vivo ou não. de 1989 pra cá, a mãe dele (dona Dirce sofre por não saber noticias dele). Hoje ela está bem idosa e para nós seria de extrema importancia saber alguma informação ou pista que levasse ao paradeiro do VAldir. Se puder nos ajudar ou tiver alguem que possa, por favor entre em contato no e-mail: maestroedson@gmail.com
    Ela é Evangélica e ora todos os dias para que saiba notícias desse filho dela que, se estiver ainda vivo, pois sente saudades

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  13. HÈLIO7:10 PM

    Revendo estes relatos me recordo o quanto o Garimpo deixou saudades ou tempinho louco e muito bom pena que passou mais quero deixa um grande abraço para a queles que como eu ti verão o prazer de vou ar com estes grandes pilotos vou citar nomes de alguns que a inda recordo Cmt Mik alta floresta PT JBF se não estou enganado CMT Decir Novo Pogresso e outro que perderão suas vidas voando que são muito (revendo estes relatos tomei uma decisão trancar faculdade de DIREITO e fazer o curso de piloto.Que e minha paixão)

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  14. HÈLIO7:12 PM

    Revendo estes relatos me recordo o quanto o Garimpo deixou saudades ou tempinho louco e muito bom pena que passou mais quero deixa um grande abraço para a queles que como eu ti verão o prazer de vou ar com estes grandes pilotos vou citar nomes de alguns que a inda recordo Cmt Mik alta floresta PT JBF se não estou enganado CMT Decir Novo Pogresso e outro que perderão suas vidas voando que são muito (revendo estes relatos tomei uma decisão trancar faculdade de DIREITO e fazer o curso de piloto.Que e minha paixão)

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  15. Anônimo8:45 PM

    Prezado léo, sou sobrinho do seu ex sócio o falecido cmte xerife, se tiver algum material por favor me envie. obrigado! fernandocensoni@hotmail.com

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