Sensação de insegurança I
A afirmação feita pelo ex-governador Almir Gabriel na campanha eleitoral de 2006, na qual foi derrotado pela atual governadora Ana Júlia, custou a ele muitos votos, pois sua adversária passou o resto da campanha explorando a pisada na bola. Os tucanos deixaram muito a desejar no item segurança pública, pois, alem dos soldos baixos das polícias Civil e Militar, não re-aparelharam ambas convenientemente, nem tampouco promoveram os concursos públicos necessários para que não houvesse tanta falta de pessoal.
Sensação de insegurança II
Passados dois anos que Ana Júlia assumiu, será que mudou muita coisa? Claro que mudou, mas, para pior. Os índices de violência cresceram, as deficiências de equipamentos e de pessoal em nada melhoraram e o tempo trabalha contra a governadora, que precisa agir rápido, ou terá que engolir as críticas feitas, além de ter que ficar na defensiva quando seus adversários na eleição de 2010 virarem suas metralhadoras contra ela, na questão da segurança pública do Estado do Pará.
Sensação de insegurança III
Não bastasse a violência urbana que assusta, sobretudo nos núcleos mais populosos, os órgãos de segurança pública do Pará não conseguem dar uma resposta a essa modalidade de violência contra transporte coletivo em algumas rodovias do Estado, dentre as quais a Transamazônica, onde se registra uma média de um assalto por semana a ônibus intermunicipais, na maior impunidade, pois a polícia nunca consegue prender ninguém. Os passageiros dão graças a Deus quando os bandidos pegam tudo e fogem, pois, de vez em quando eles resolvem sair atirando, mesmo sem a menor reação dos assaltados.
De onde vêm eles? I
Dias 26 e 27 de novembro, de passagem pela cidade de Itupiranga, que fica perto de Marabá, sete quilômetros fora da Br 230, a reportagem do Jornal do Comércio conviveu com o medo de uma população que vive assustada 24 horas por dia, esperando quando vai acontecer o próximo assalto, ou o próximo assassinato. Não se passaram mais que 13 dias para que a agência local do Banco do Brasil voltasse a ser assaltada, com violência brutal. O subgerente foi assassinado, só porque não tinha como abrir o cofre do banco, que obedece à programação eletrônica. Os bandidos colocaram uma arma em sua boca e dispararam.
De onde vêm eles? II
Ninguém sabe ao certo, e devem vir de diversos lugares. Porém, em Itupiranga fala-se aos quatro cantos da cidade, que existem certos grupos de criminosos formados a partir de alguns assentamentos feitos pelo governo federal, onde centenas de famílias são jogadas, sem infra-estrutura e sem as condições mínimas para levar uma vida digna. Muitos dos filhos dos assentados, segundo os comentários ouvidos, sem nenhuma perspectiva de futuro e sem uma boa estrutura familiar, partem para o crime.
Olhares desconfiados I
O jornalista Jota Parente e o professor Jadir Fank foram parar em Itupiranga por puro acaso. Em virtude do acidente de que foi vítima o jornalista, eles chegaram àquela cidade em busca de socorro médico. Depois dos primeiros atendimentos, muito modestos, por sinal, procuram um hotel para passar a noite. A dona, uma senhora de mais de 60 anos, não queria hospedá-los, de jeito nenhum, pois não acreditou na história do acidente. Relatos semelhantes, ela e muita gente de lá, já tinham ouvido tantas vezes. Eram bandidos querendo conhecer o lugar para armar um assalto. Só depois de ficar totalmente convencida de que havia mesmo um acidentado entre os dois concordou em abrigá-los.
Olhares desconfiados II
Como Parente ficou mais tempo no hotel por causa do acidente, quem manteve mais contato com as pessoas foi Jadir. Os olhares a ele dirigidos eram de evidente desconfiança. Só faltavam dizer que achavam tratar-se de um integrante de algum grupo de assaltantes, que estava ali para levantar informações para o próximo assalto. Segundo Jadir apurou, em conversa com moradores de Itupiranga, toda pessoa desconhecida que chega à cidade é suspeita. Para tentar diminuir esse clima, Jadir deixou o numero de sua carteira de identidade, telefones, endereço. Durante seu deslocamento de moto, de Itupiranga para Itaituba, (trecho onde o risco de assaltos é constante, sobretudo até Anapu) em companhia do Aldair, um itupiranguense que trouxe a moto do Parente. Jadir ligou algumas vezes para dizer onde estava, informando que a viagem estava acontecendo sem alterações. Também, ligou para lá no dia do assalto de duas semanas atrás para manifestar apoio naquele momento difícil.
Sensação de abandono
Enquanto Almir Gabriel falava que havia apenas uma sensação de falta de segurança no Pará, na região que começa depois do final do asfalto de Marabá, até a margem direita do Rio Xingu, onde se faz a travessia de balsa, a situação passa muito disso. A população vive sob o signo do medo. Os assaltos se sucedem e existe uma sensação de abandono.
Por 10 minutos
O ônibus no qual Jota Parente viajou para Itaituba, às 4:15 da madrugada do dia 28/11 , parou ao lado do que se dirigia de Itaituba para Marabá, o qual tinha sido assaltado há 10 minutos. Cinco homens fortemente armados, depois de terem atirado em um dos pneus dianteiros do veículo, encostaram uma camionete, na qual colocaram toda a bagagem dos passageiros, para depois recolherem todos os objetos pessoais, como carteiras, jóias e celulares. Isso tudo, distante apenas uns 20 quilômetros da cidade de Anapu.
O perigo viaja à noite
Como a maioria das viagens intermunicipais é feita à noite, os assaltantes levam grande vantagem em suas investidas. Pegam tudo e somem sem deixar pistas. Já tem empresa ameaçando suspender algumas linhas por tempo indeterminado, até que a polícia consiga botar alguma ordem na estrada. Às pessoas de Itaituba que precisam viajar nesse trecho mais perigoso, o que a coluna sugere é que carreguem consigo o menor volume possível de bagagem e poucos objetos de valor. Jóias, nem pensar! Dinheiro, é sempre bom estar preparado para sofrer um pequeno prejuízo, pois se os bandidos desconfiarem que alguém se preparou para o assalto, não carregando nada de valor, podem ficar nervosos e querer dar um corretivo na base da bala. Infelizmente, é assim mesmo que anda a Transamazônica, nesse trecho. E não é só ela, não. Existem outras, como a Br 316 e a PA 150, onde o problema dos assaltos também é muito sério. Com a palavra, o governo do Estado, que precisa trocar a retórica pela prática.
Um passo à frente
Ainda no campo da segurança pública, o TJE deu um passo à frente, no combate à violência contra a mulher. Em cerimônia presidida pela desembargadora Albanira Bemerguy, dia 8 de dezembro, no Fórum de Santarém, foi instalada a Vara do Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Quem não gostou foram os machões covardes daquela cidade, que tiram proveito da vantagem de terem uma compleição física mais avantajada para agredirem suas companheiras. Os que respeitam suas mulheres, batem palmas para a novidade. Ainda vai demorar um pouco, mas, uma hora dessas o TJE chega por aqui com esse juizado. Mas,, antes disso, que a Delegacia da Mulher seja estruturada para poder trabalhar direito, pois com apenas uma delegada e um investigador, não dá.
ITB mais ou menos
De passagem por Itaituba, o superintendente de Polícia Civil da região oeste do Estado, delegado Jardel Guimarães comentou com o repórter Queiroz Filho, que a situação da violência está mais ou menos sob controle em Itaituba. Segundo Jardel, há município sob sua jurisdição onde os problemas são bem maiores.
* Publicado na edição 76 do Jornal do Comércio, que circulou na véspera de Natal.
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