segunda-feira, março 02, 2009

Moto não deve ser sinônimo de morte*

É muito duro para quem é pai ou mãe receber a notícia de que um filho seu morreu vítima de acidente de trânsito, pilotando uma motocicleta, ou dirigindo um carro. Muitos casos acontecem por pura fatalidade; porém, incontáveis são as tragédias ocorridas porque o condutor contribuiu diretamente para que isso acontecesse, ou porque não obedeceu à sinalização de trânsito, ou porque estava conduzindo seu veículo com excesso de velocidade, ou porque bebeu todas e depois foi pilotar. Vamos nos ater mais à questão dos acidentes de moto, posto que são mais freqüentes e com vítimas fatais.
Não se justifica que uma cidade do tamanho de Itaituba registre tantos acidentes de trânsito, a maioria envolvendo motocicletas. Mesmo que o número desses veículos cresça assustadoramente nesta cidade, ainda assim não dá para entender porque tanta gente insiste em conduzir perigosamente, colocando em risco a própria vida e a vida dos outros.
Faz pouco mais de duas semanas que dois jovens praticamente se mataram no trânsito, no acidente ocorrido no cruzamento da travessa 13 de maio com a 18ª rua do bairro Bela Vista. Duas pessoas que mal começavam a entrar na fase produtiva da vida, que interromperam suas trajetórias. Foi muito chocante, até mesmo para quem não os conhecia, pois se um dos dois tivesse sido prudente, ambos estariam vivos para continuarem escrevendo sua história.
Os pais choram a perda, chaga que jamais vai sarar completamente. Muitos recomendam aos filhos, quando saem de casa, em carros ou motos, que tenham cuidado, que não bebam, ou que pelo menos não bebam muito, mas, como diz o velho ditado, se conselho fosse bom, a gente vendia. Contudo, existem muitos pais, que mesmo não fazendo isso propositalmente, terminam colaborando para que seus filhos se envolvam em acidentes, incentivando-os a dirigir carros ou pilotar motos, quando esses são ainda menores de idade, ou mesmo já tendo chegado à maioridade, não são habilitados.
Em Itaituba há um número preocupante de pais com algum recurso financeiro, que se mostram totalmente despreparados para educarem seus filhos. Esses pais empurram os filhos para a prática de ilicitudes, estando sempre prontos para correrem na calada da noite para socorrê-los, caso alguém resolva incomodá-los, mesmo que seja a polícia. Fazendo isso, não ajudam a formar bons cidadãos.
Tem gente que bota a culpa na Comtri, ou na Diretran, pelas desgraças que acontecem no trânsito de Itaituba. Com certeza existem deficiências no trabalho desses dois órgãos do setor de trânsito, mas, essa questão da irresponsabilidade de condutores que não obedecem à legislação de trânsito não se resolve apenas com uma fiscalização mais ostensiva. Ou será que esses irresponsáveis que entregam carros e motos para menores de idade esperam que seja colocado um policial de trânsito em cada esquina de Itaituba?
Já aconteceu por duas vezes de eu estar conversando com uma amiga, numa loja localizada em movimentada rua do comércio, quando jovens passaram empinando suas motos, em pleno horário comercial. E isso não ocorre somente quando eu passo por lá. Será que os pais dos mesmos sabem o que os filhos andam fazendo? Têm eles algum controle sobre a vida desses jovens que são ainda seus dependentes, e assim sendo, deveriam dar explicações aos pais sobre suas estripulias? Será que esses pais estabeleceram limites para filhos a partir da infância?
Há um ditado antigo que diz: “é preferível fazer os filhos chorarem enquanto eles são pequenos, para que não nos façam choram quando forem grandes”. Isso não significa que devamos espancá-los, mas, que temos a obrigação de mostrar a eles qual é o caminho correto a ser seguido. Quando se age assim, muitas vezes desagradamos aos nossos filhos, mas, mais tarde eles nos agradecerão, pois conheço muitos casos em que os filhos clamam por limites, que os pais não lhes dão.
Moto não precisa ser sinônimo de morte, embora seja assim que está acontecendo em Itaituba. Falta consciência, primeiro de quem entrega uma motocicleta nas mãos de quem não está preparado para usá-la somente como um meio de transporte. E não adianta se descabelar, chorar copiosamente depois que seu filho morre em um acidente nas ruas da cidade. Essas lágrimas, certamente significam que se reconhece a própria culpa por ter cedido à pressão do filho, muitas vezes menor de idade, que queria porque queria uma moto de presente. Nesse caso, teria sido muito melhor você ter feito seu filho chorar, permanecendo vivo, do que você estar chorando porque perdeu alguém tão querido. Pensemos nisto, antes de darmos um veículo de presente a um filho, sobretudo se for uma moto.

* Artigo de Marilene Parente, publicado na edição do Jornal do Comércio que está circulando a partir de hoje

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