sábado, abril 18, 2009

Censura censurada

SÔNIA ZAGHETTO - De Brasília

A decisão judicial da 4ª Câmara Cível Isolada do Tribunal de Justiça do Pará, que proibiu o DIÁRIO DO PARÁ e outros dois jornais de Belém de publicarem fotos ou imagens de pessoas vítimas de acidentes ou mortes brutais que impliquem em ofensa à dignidade humana e ao respeito aos mortos, foi comentada por deputados federais e senadores em Brasília.

Para o deputado Nilson Pinto (PSDB-PA), "liberdade de imprensa não admite qualificações restritivas: ou tem ou não tem". O parlamentar se declara "100% a favor da liberdade de imprensa" e lembra que o direito de manifestar opinião é o cerne da democracia e não pode ser restringido sob nenhum pretexto. "Não faz sentido (uma decisão dessa natureza).

Voltamos ao período da censura", reagiu o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA). Para ele, quem tem de estabelecer os limites é a própria empresa e decisões judiciais dessa natureza são "um grande perigo" por abrir precedentes para censuras ainda maiores. "Se admitirmos isso agora, admitiremos vetos piores depois.

Não cabe esse desrespeito". "Sou absolutamente contra a censura. Esse não é o mecanismo correto para se aprimorar algo. Porém, nesse tema, acredito que deve prevalecer o bom senso. Afinal, a própria imprensa concorda que em alguns casos há certo desnivelamento do que se espera dos jornais em relação a imagens de violência", disse o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado Federal.

Para ele, a questão deve ser discutida e revista pelos próprios jornalistas, comunicólogos e especialistas da área, "para encontrarem uma forma em que o jornal não pareça um simples `filme de terror', apesar de ser uma realidade e não ficção". Segundo o senador, essa "é uma boa discussão que deve ser travada dentro do ambiente de redação, daqueles que lidam diariamente com a prática jornalística".

Para a deputada federal Elcione Barbalho (PMDB-PA), é preciso que se observe "o limite entre o respeito à dignidade humana, a deferência à intimidade dos familiares e a censura aos órgãos de imprensa". A presidente da Comissão de Seguridade Social e Família observa que "há uma linha tênue entre esses aspectos que deve ser muito bem observada para que seja mantido o direito à informação sem, no entanto, extrapolar e ferir a dignidade do cidadão".

A opinião de Elcione Barbalho coincide com a do presidente da bancada federal da Região Norte, deputado Paulo Rocha (PT-PA). Ele adverte que "os jornais devem ter liberdade de imprensa, dentro do processo democrático, mas que o editor deve ter sensibilidade e limites, a fim de não desrespeitar a dor dos familiares dos envolvidos". Rocha defende a autorregulação para não abrir precedentes que possam vir a ferir a lei de imprensa. SÁBADO, Belém-PA, 18/04/2009
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Minha opinião: Sobevivente que sou, dos tempos da ditadura militar, tendo atravessado aquele período negro de quase 15 anos de minha vida, jamais poderia aceitar atos de censura contra a livre manifestação de pensamento de quem quer que seja.

Vozes de todos os lugares levantam-se contra, sempre que algum juiz ou juíza toma uma decisão como essa contra o Diário do Pará. Entretanto, as ponderações dos deputados federais, Elcione Barbalho, ex-esposa de Jader Barbalho e mãe do presidente do referido jornal, e Paulo Rocha, precisam ser lidas com muita atenção.

Ambos criticam a censura, mas, observam com muita propriedadem, que é preciso que haja liberdade de imprensa, mas, que os editores responsáveis devem obedecer ao limite do bom senso, o que, infelizmente, não acontece todo dia.

Para muitos jornais, quanto pior for o estado de uma pessoa acidentada, ou morta por esfaqueamento, acidente de trabalho, etc., melhor ficará a foto, que muitas vezes ganha até capa.

Isso acontece em Belém e quase todo o Brasil, incluindo aqui, Itaituba e não é só em jornais, mas, também na TV.

Portanto, embora não aceite a censura, aproveito a oportunidade para renovar minha campanha por uma imprensa livre, contudo, sem bizarrices.

Jota Parente

Um comentário:

  1. Amigo Parente,

    Há dias venho lendo colegas se manifestando "contra a censura" no caso dos jornais de Belém e esperava ler algo diferente do que foi dito. Eu mesmo queria escrever, mas sinceramente não encontrava as palavras certas, até ler seu comentário. Você acertou em cheio e eu concordo em gênero número e grau. Você me deu um discurso pronto. Obrigado.

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