Artigo de Jota Parente, na edição do Jornal do Comércio que circulará amanhã
A entrada em cena do movimento pela criação do estado do Carajás foi um fato que não contribuiu de forma alguma para o projeto do estado do Tapajós. Sei que o objetivo não foi esse, mas, que tem atrapalhado e pelo jeito vai continuar sendo um problema, isso vai.
Até o momento em que o único projeto de divisão do Pará era o nosso, a situação já não era fácil, por conta das lideranças políticas e empresariais de Belém que lutam contra. Com o surgimento e o avanço muito rápido do projeto do Carajás, o grupo que trabalha para desarticular a divisão do Estado ganhou um ingrediente a mais para reforçar sua campanha de oposição à idéia.
Nenhum projeto, em tempo algum, avançou tão rapidamente quanto o do Carajás, em conseqüência da força política da região Sul do Pará. Enquanto eles têm cinco deputados federais, nós só temos Lira Maia. Contudo, o projeto chegou ao estágio que incomodou o pessoal de Belém, que tratou de agir. Hoje, em pé de igualdade com o Tapajós, o Carajás amarga a angústia de ver a autorização do plebiscito engavetada.
Se Belém nunca deu sinal verde para que fosse criado apenas um novo estado dentro do território paraense, imagine se os caciques da capital vão permitir que o Pará seja dividido em três! Enquanto o Oeste do Estado tem muitas riquezas naturais no seu subsolo, incluindo as grandes áreas de conservação, além da Mineração Rio do Norte e da Alcoa, o Sul do Pará tem a serra de Carajás com sua reserva mineral imensa, tem a Vale e tem a maior parte do grande rebanho bovino do Estado, incluindo-se aí alguns grandes frigoríficos.
Os dois projetos de autorização de plebiscito estão na mesma situação, apenas esperando que seja colocado em votação. Se não houver nenhuma grande manobra política, ambos deverão deverão ser votados simultaneamente. Mas, quem defende o Tapajós tem que ficar atento, porque manobras políticas podem acontecer a qualquer momento, e se acontecer alguma nesse sentido, não vai adiantar lamentar depois. Essa manobra seria votar o Carajás, deixando o Tapajós continuar na espera.
Durante a Constituinte de 1988 aconteceu uma manobra desse tipo. O Tapajós esteve para ser criado junto com o Tocantins. A diferença entre os dois projetos era que o Tocantins tinha Siqueira Campos, que fez até greve de fome para que seu projeto fosse votado. O Tapajós não teve força política e por isso não foi criado. Então não custa nada ficar de olhos bem abertos para ver se uma hora dessa a mesa diretoria da Câmara Federal, por alguma manobra política do pessoal do Carajás não coloca o projeto deles em votação e deixa o nosso de lado.
Por tudo isso que foi dito, foi muito importante a ida a Brasília da comitiva, no final de fevereiro, a qual contou com a participação de muitos políticos da região oeste, incluindo os vereadores Hilton Aguiar, presidente da Câmara, Luis Fernando Sadeck dos Santos, César Aguiar e Marcos Ferreira da Silva e o prefeito Roselito Soares. O fato de serem políticos com mandato faz com que tenham prestígio com o pessoal do Congresso. Deputados federais, de modo especial em ano de eleição, olham prefeitos e vereadores como prováveis cabos eleitorais.
Entre os deputados federais do Pará, há os que são claramente a favor da criação dos dois pretensos estados. São apenas os que estão diretamente envolvidos na luta. Os outros, ou são claramente contra, ou são dissimulados. Zenaldo Coutinho, do PSDB, nunca escondeu de ninguém, que não quer ver o Pará dividido. Esse, pelo menos é coerente, pois sempre defendeu essa idéia. Mas, tem gente que se diz em tom de brincadeira, não é contra, nem é a favor; muito pelo contrário. Alguém sabe qual é a posição do deputado federal Zé Geraldo (PT)? Ele só diz que é preciso pensar melhor, estudar melhor o projeto. Seu comportamento não é de quem simpatiza com o projeto. E ele é um deputado federal desta região Oeste, com bastante prestígio em Brasília. Já do lado de Carajás não tem disso. Todos os deputados de lá lutam a favor.
Então, por causa da nossa minguada força política, nossas dificuldades são muito grandes. Quiçá o presidente da Câmara, Michel Temer, consiga colocar os dois projetos em votação. Mas, é preciso ficar muito atento para que o Tapajós não seja deixado para trás. A criação de qualquer um dois estados, no meu ponto de vista, ficou mais distante com a entrada em cena do projeto do Carajás. Se um dos dois for criado em separado, o outro morrerá inapelavelmente. Os dois nunca serão criados ao mesmo tempo, pelo menos, durante muito tempo.
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