Vou tentar resumir neste espaço, o que foi a Expedição Itaituba-Amazônia, realizada a partir de 7 de outubro de 2008, por mim e pelo Jadir. Não vai ser uma tarefa fácil, uma vez que foram 54 dias de jornada, que foi contada nos 29 capítulos anteriores, nas páginas do Jornal do Comércio. Farei o resumo, país por país.
Venezuela – Já naquele momento que cruzamos o país visinho, de Sul a Norte e de Leste a Oeste, a militarização era visível. Enormes placas espalhadas por diversas regiões mostravam o exibicionismo do presidente Hugo Chaves, fazendo propaganda de sua Revolução Bolivariana. Mas, a Venezuela é muito mais do que isso. É um país que tem uma Natureza belíssima, a começar pela Grande Savana. É a terra do libertador Simon Bolivar, em cuja casa nós estivemos. Mas, creio que a coisa que mais nos impressionou foi a loucura do trânsito na capital Caracas. Não vimos nada parecido nas várias dezenas de cidades pelas quais passamos. As rodovias venezuelanas, invariavelmente, estavam em ótimas condições.
Colômbia – Belas paisagens, primeiro contato com o frio, pois foi lá que a gente começou a enfrentar as agruras de subir a Cordilheira dos Andes, rodovias excelentes, muitas histórias a respeito das FARC, tendo passado inclusive, perto de onde aconteceu uma das maiores batalhas entre as forças militares do governo e a guerrilha. Visitam a antiga fortaleza de Pablo Escobar, passamos por regiões que foram grandes produtoras de cocaína nos tempos do mega narcotraficante morto pelo exército colombiano, as quais se mudaram por causa do forte combate das autoridades. Mas, a coisa que mais nos impressionou foi a hospitalidade do povo colombiano. Ficou evidente a admiração que aquela gente tem pelo povo brasileiro. Por duas vezes fomos liberados de barreiras, uma por agentes de trânsito em Medelin, outra pelo exército, na Rodovia Panamericana. É do Brasil? Podem passar, disseram.
Equador – País pequeno, no qual demoramos pouco. Nem por isso deixamos de observar suas peculiaridades. Frio, muito frio, foi a tônica de nossa passagem pela sempre elevada altitude do centro do país. Somente quando nos aproximamos da fronteira com o Peru, por onde a gente teria que passar pela aduana, foi que despencou a altitude para alguns metros acima do nível do mar. Isso aconteceu porque naquela região a distância para o mar é de apenas trinta quilômetros. Algumas das fotos mais bonitas que fizemos, verdadeiros cenários de calendários, foram tiradas no Equador. Um costume que chamou nossa atenção foi o fato do povo equatoriano não tomar o nosso café da manhã com pão, acompanhado de mais alguns ingredientes, de acordo com o poder aquisitivo de cada um de nós. Lá, o povão faz a primeira refeição comendo um tipo de panelada que leva um monte de coisas. Aquele caldo fumegante é servido, degustado com muita satisfação por eles. A mim, chegava a repugnar, mas, cada um com os seus costumes.
Peru – Como é extenso o território peruano. São quase dois mil quilômetros em linha reta, de Norte a Sul. Com as curvas da estrada, isso sobe para muito mais. Por um erro de estratégia fomos parar em Ayacucho, a 350 quilômetros da costa. De lá pretendíamos ir para Cusco, mas, embora isso fosse possível, pois existe uma estrada, a mesma é muito sinuosa e de terra, com uma piçarra muito fina que a torna ainda mais perigosa. Tivemos que voltar para Pisco, na costa. Mas, valeu, porque a gente conheceu o lugar onde nasceu a sanguinária guerrilha Sendero Luminoso, fundado naquela cidade, na Universidade San Cristóbal, a qual provocou tanta instabilidade no Peru, nos anos 70 e 80. Naquele país andino, na rodovia para Ayacucho, nós enfrentamos as maiores altitudes de toda a viagem, chegando aos 4.746 metros acima do nível do mar, em Abra Apacheta. As motos mal funcionavam e a gente quase não suportou o frio. Também pudemos manter contato com populações nativas, que nos receberam sempre com muita alegria. É um país de muita desigualdade social, coisa que nós aqui também conhecemos muito bem. Áreas imensas de deserto fazer parte da paisagem, por onde quer que a gente ande às proximidades da costa.
Bolívia – Entramos pelo Sul do Peru, tendo o lago mais elevado da terra, o Titicaca como companhia. A pobreza no país a gente começa a observar a partir da aduana na fronteira com o país vizinho do qual a gente acabara de sair. Nem todas são assim. Mas, aquela estava caindo aos pedaços. Dormimos em La Paz, a 3.640 metros de altitude. Nem precisa falar do frio. É uma cidade muito comprida, situada num vale em plena Cordilheira dos Andes. Foi breve nossa estada no país de Evo Morales. Na saída, de La Paz para a fronteira com o Chile, passamos ao lado do pico mais elevado de todos que avistamos. O Monte Sajama, onde uma semana depois morreu um brasileiro tentando escalá-lo pelo lado mais difícil tem 6.542 metros de altura. Conhecemos o altiplano boliviano, que é a região onde vive a maioria dos bolivianos.
Chile – Entramos no Chile pela fronteira com a Bolívia. Foi a maior burocracia que enfrentamos, sem contar a enorme má vontade dos agentes alfandegários. Tem tanto formulário para se preencher que não há como não se enrolar. Felizmente, um agente que foi exceção aos demais, vendo nossas dificuldades, aproximou-se e nos ajudou. Pela primeira e única vez nossas bagagens foram vistoriados, só que pelo sistema de Raios-X da alfândega. Por onde andamos, tudo que vimos no Chile foram desertos, pois percorremos a parte Norte e um trecho do centro do país. Vivemos a difícil experiência de anoitecer no deserto, onde as temperaturas podem passar dos 40 graus de dia e despencar para 10 graus abaixo de zero à noite, dependendo da época do ano. Naquela noite, fomos conseguir um lugar para dormir depois de dez horas da noite, quando a gente mal conseguia se manter em cima das motos, de tanto frio que fazia. Mas, valeu, sobretudo por termos atravessado a maior parte do deserto de Atacama e por São Pedro de Atacama, o seu Vale da Lua e as salinas do deserto.
Argentina – Entramos por Paso de Jama, continuando pelo deserto de Atacama por mais muitas horas. No começo, não sentimos, nem a tradicional rivalidade que existe entre brasileiros e argentinos, muito mais por causa do futebol, nem receptividade calorosa. Fomos tratados como viajantes quaisquer, até com certa indiferença. Porém, quando chegamos à cidade de São Salvador de Jujuy, onde a moto do Jadir teve que fazer uma revisão completa numa concessionária, fomos muito bem tratados por todos. Dali em diante, até chegar ao Brasil, os únicos “hermanos” que não nos trataram bem foram os membros da Policia Caminera, que eles consideram os primos pobres da nossa Polícia Rodoviária Federal por causa da diferença brutal dos salários. Na mão deles nós penamos, ficando algumas horas retidos, gastando todos os nossos argumentos para nos livramos de dar propina, pois era isso que eles queriam.
De volta para casa – Já no Brasil, depois de visitar as Cataratas de Iguaçu, entramos a pé no Paraguai, visitando apenas a Ciudad del Leste, onde o Jadir fez algumas compras. Até tínhamos intenção de adentrar mais um pouco em nossas motos, mas, fomos desaconselhados por agente da PRF e por outras pessoas, que nos disseram que a gente teria que dar bastante dinheiro para os guardas paraguaios para retornar ao Brasil, mesmo que a documentação pessoal e das motos estivesse cem por cento completa. No mais, depois de quatro dias descansando em Itapiranga, cidade natal do Jadir, em Santa Catarina, pegamos o caminho de volta, conforme foi relatado com detalhes nas edições mais recentes do JC.
Aqui termina o relato da Expedição Itaituba-Amazônia, que foi a concretização de um sonho de dois itaitubenses de coração, destemidos, que se lançaram ao desconhecido, levando o nome deste município bem longe. Ficam os nossos agradecimentos a todos que tornaram essa empreitada possível. Nossa disposição de realizar novas aventuras continua viva. Novas jornadas já estão sendo programadas, as quais serão anunciadas no momento oportuno. Muito obrigado a todos que acompanharam essa sequência intitulada A Expedição, tintim por tintim e saibam que a gente está trabalhando para transformar esse relato em um livro, para ficar registrado para a posteridade.
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