terça-feira, agosto 31, 2010

Imprensa é oposição *

Millor Fernandes cunhou uma frase que pegou, a qual agrada a muitos, mas, desagrada a um monte de gente que faz imprensa para se beneficiar do poder, sobretudo, do Poder Executivo. “Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”. Há uma frase espanhola de origem anarquista que diz: “Hay gobierno, soy contra”.

É preciso explicar o que o humorista e escritor Millor Fernandes quis dizer com sua afirmação que ficou famosa, bem como porque se pode dizer sem medo de errar, que de um modo geral, se há governo, a imprensa, a imprensa que se preza é contra.

No editorial que escrevi na edição passada do Jornal do Comércio, intitulado PRIMEIRA CRISE, procurei fazer uma análise da situação do atual governo do município, texto que teve uma repercussão bem maior do que esperava seu autor.

O vereador César Aguiar (PR), que faz oposição ao atual governo, leu o editorial integralmente, na tribuna, parando de vez em quando para tecer comentários a respeito de certos parágrafos. Para completar, o vereador Peninha (PMDB), líder do governo do prefeito Valmir Climaco, justificando que se tratava de um texto muito bem escrito e muito claro, pediu que o mesmo fosse inscrito nos anais da Câmara Municipal de Itaituba.

Pessoas ligadas ao prefeito falaram-me que Valmir teve uma reação bem mais tranqüila do que esperavam alguns assessores, que imaginavam que ele soltaria os cachorros. Ao contrário, ele teria dito que o editorial tinha sido muito bem escrito. Em outra ocasião, falando a respeito de denúncias feitas pela imprensa, o prefeito disse que quando verdadeiras, elas ajudam seu governo, pois ele não tem como saber de tudo.

Quando Millor afirma que imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados, ele se refere ao fato de nós, que militamos no jornalismo termos o dever profissional, assim como de cidadãos, de denunciar o que os governos fazem de errado. Qual é o governo que não comete erros? No Brasil, infelizmente, o percentual de erros de grande parte dos governantes é muito grande.


Imprensa que se preza, mostra ao público quando um determinado governo faz coisas erradas. Se não age assim, ou é conivente por conveniência de acordos financeiros, ou é omissa por covardia. Além disso, foge do compromisso que está intrínseco na natureza da sua existência, que é levar aos seus consumidores, informações calcadas na verdade.

Nesse particular, o Jornal do Comércio tem trabalhado para continuar merecendo o respeito dos seus leitores e anunciantes, indiferente aos protestos dos que são citados em matérias, ou aos xingamentos de assessores que nada fazem além de atrapalhar.
O ditado criado por anarquistas espanhóis que diz: “hay gobierno, soy contra”, também tem algo a ver com o trabalho que fazemos, pois sempre que estampamos alguma notícia que desagrade aos governantes de plantão, 99% das vezes somos alvos de reações furiosas de parte das pessoas que são citadas.

Muitos profissionais, por falta de alternativa, por comodismo, ou, por incompetência, vêem-se compelidos a dizer o que o governante de plantão quer ouvir, pois isso é determinado pelos donos dos veículos de comunicação nos quais trabalham. Isso pode acontecer aqui em Itaituba e inúmeros outros lugares Brasil a fora. Seja qual for a razão, esses colegas deixam de prestar um melhor serviço à comunidade.

O Jornal do Comércio está chegando aos cinco anos de existência. Certamente, uma das razões mais fortes é a seriedade de sua linha editorial, que nunca mudou de rumo no decorrer de todo esse tempo, seja quem for que esteja no poder. Nosso propósito é continuar nessa direção, sem fazer campanha contra a governante algum, nem tampouco, bajular quem esteja no comando.

Assim como a imprensa tem o dever de criticar, também tem que ter uma atitude honesta de elogiar quando a ocasião exige. Isso vale, inclusive, em se tratando de ações de governos. Nesse caso, o objetivo do elogio é incentivar a encetamento de novos trabalhos em favor da comunidade. Logo, uma coisa não impede a outra. Tanto se deve elogiar, quando há razão para tanto, quanto se deve criticar quando necessário. Se não, a imprensa será apenas armazém de secos e molhados.

* Artigo de Jota Parente, constante da edição 109 do Jornal do Comércio, que está circulando desde de hoje de manhã.

Um comentário:

  1. guilherme5:23 PM

    E quando vemos a imprensa que publica fatos comprovadamente inverídicos? como fica?. O que ficamos perplexos é que vemos com frequência a imprensa elogiar quando lhe convem, por exemplo, em período eleitoral, como o de agora, tasca o verbo contra, quando em passado recente elogiava. Como acreditar na imparcialidade ou será que quando há disputa pelo governo, sou contra os que são contra os meus interesses?

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