sábado, dezembro 28, 2013

Artigo de Marilene Parente na edição 171 do Jornal do Comércio, de 27/12/13

              Estamos chegando ao final de mais um ano, no qual eu tive oportunidade de escrever neste espaço do Jornal do Comércio. Tenho recebido estímulo para continuar este trabalho por meio de comentários feitos, sobretudo por mulheres, pois como mães de família elas são sempre mais atentas aos assuntos que abordo. Há homens que comentam a coluna. Todavia, a maioria que me procura para dizer que gostou de determinados assuntos abordados é composta por mulheres.
            Escrever artigos voltados primordialmente para temas que abrangem a convivência familiar é um desafio muito grande, porque como mãe e como ser humano tenho meus defeitos. Entretanto, este exercício tem me ajudado muito a amadurecer como pessoa, e tem me permitido uma constante reciclagem no papel de mãe de dois filhos, um de vinte e cinco e outro de cinco anos, vivendo papeis totalmente diferentes na vida, pela diferença de idade.
            Nesta derradeira coluna do ano em curso, quero abordar um caso da vida real, que envolveu pai e filho. O pai, com pouco mais de quarenta anos; o filho, entre quatorze e quinze anos, vivendo o auge da adolescência, com os hormônios provocando uma batalha interna que se exterioriza através do seu comportamento, muitas vezes agressivo.
            Álvaro, o pai e Caio, o filho (nomes fictícios) viviam se engalfinhando quando ambos estavam em casa. Era uma autêntica guerra, com o pai tentando impor seu ritmo e o filho querendo mostrar que estava deixando de ser um garoto para transformar-se em um adulto. Uma guerra na qual nunca há um vitorioso. Pelo contrário! Em casos como esse, perdem todos, pois a família é afetada como um todo.
            Profissional liberal bem sucedido, Álvaro só tirava o comportamento belicoso do filho da cabeça quando estava atendendo algum cliente. Pensava ele com seus botões: esse moleque tem que me obedecer; não pode ser do jeito que ele quer. A minha vontade é que deve prevalecer. Quem ele pensa que é? Ele acha que o mundo gira ao seu redor, mas, não é assim que as coisas andam, imaginava o pai, que passou a chegar mais tarde em casa para retardar o início do conflito diário.

            Certo dia Álvaro, que era advogado, atendeu um cliente, um psicólogo que era seu conhecido. Depois de tratar do assunto atinente à visita do cliente, o pai achou por bem tocar no assunto da guerra particular que travava com o filho, fato que estava lhe consumindo. O psicólogo ouviu tudo atentamente, pois entendeu de pronto a gravidade da situação. E depois de ouvir tudo, disse para o pai do garoto, que nada poderia fazer naquele momento. Pediu que Álvaro tentasse convencer o filho a irem juntos ao consultório, pois o trabalho teria que ser feito em conjunto.
            Filho, eu gostaria de conversar com você, disse Álvaro ao retornar à noite para casa. Inicialmente o filho ficou na defensiva perguntando o que seu pai tinha para lhe dizer, demonstrando pouca boa vontade. Porém, o pai havia sido instruído por seu amigo psicólogo sobre como fazer a abordagem para evitar um novo conflito que pudesse colocar tudo a perder.
            '"Caio, meu filho, nós já brigamos muito; nossa vida virou um inferno, e por conta de nossas brigas, a família toda tem sido afetada. Sua mãe e seus dois irmãos estão pagando um preço alto por conta do nosso interminável conflito. Ninguém vai ganhar essa guerra. Ela só vai fazer com que nos distanciemos um do outro e diminuamos o amor mútuo que sentimos. Eu não quero isso para minha vida e creio que você também não quer. Por isso, gostaria de convidá-lo para a gente fazer uma visita ao um bom psicólogo. Quem sabe ele poderá nos orientar para que encontremos um equilíbrio em nossa relação de pai e filho. Você topa"?
            Visivelmente surpreso, porque esperava que mais uma batalha fosse travada quando seu pai lhe procurou para conversar, Caio respirou fundo e respondeu que topava, sim, ir ao psicólogo, pedindo para o pai marcar logo a visita ao profissional, demonstrando claramente que gostaria que aquilo tivesse acontecido bem antes, pois a guerra o incomodava.

            “Meu filho não me disse uma palavra durante meses. Um depois de irmos ao psicólogo ele perguntou, O que se come no almoço? Acho que estamos fazendo progressos. Está sendo uma grande ajuda o acompanhamento com esse profissional. Estamos aprendendo a discutir sobre as nossas diferenças sem isso se tornar sempre num confronto. Já terminamos ambos com as facadas verbais. A vida está ganhando gradualmente o seu equilíbrio. Eu sei que as coisas entre nós não serão sempre perfeitas, e que ele precisa se tornar um homem à sua maneira. Mas estou apenas contente porque estou sentindo que não vou perder o meu filho, e podemos continua sendo a família que sempre fomos.”

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