Estamos
chegando ao final de mais um ano, no qual eu tive oportunidade de escrever
neste espaço do Jornal do Comércio. Tenho recebido estímulo para continuar este
trabalho por meio de comentários feitos, sobretudo por mulheres, pois como mães
de família elas são sempre mais atentas aos assuntos que abordo. Há homens que
comentam a coluna. Todavia, a maioria que me procura para dizer que gostou de
determinados assuntos abordados é composta por mulheres.
Escrever artigos voltados
primordialmente para temas que abrangem a convivência familiar é um desafio
muito grande, porque como mãe e como ser humano tenho meus defeitos.
Entretanto, este exercício tem me ajudado muito a amadurecer como pessoa, e tem
me permitido uma constante reciclagem no papel de mãe de dois filhos, um de
vinte e cinco e outro de cinco anos, vivendo papeis totalmente diferentes na
vida, pela diferença de idade.
Nesta derradeira coluna do ano em
curso, quero abordar um caso da vida real, que envolveu pai e filho. O pai, com
pouco mais de quarenta anos; o filho, entre quatorze e quinze anos, vivendo o
auge da adolescência, com os hormônios provocando uma batalha interna que se
exterioriza através do seu comportamento, muitas vezes agressivo.
Álvaro, o pai e Caio, o filho (nomes
fictícios) viviam se engalfinhando quando ambos estavam em casa. Era uma
autêntica guerra, com o pai tentando impor seu ritmo e o filho querendo mostrar
que estava deixando de ser um garoto para transformar-se em um adulto. Uma
guerra na qual nunca há um vitorioso. Pelo contrário! Em casos como esse,
perdem todos, pois a família é afetada como um todo.
Profissional liberal bem sucedido,
Álvaro só tirava o comportamento belicoso do filho da cabeça quando estava
atendendo algum cliente. Pensava ele com seus botões: esse moleque tem que me
obedecer; não pode ser do jeito que ele quer. A minha vontade é que deve
prevalecer. Quem ele pensa que é? Ele acha que o mundo gira ao seu redor, mas,
não é assim que as coisas andam, imaginava o pai, que passou a chegar mais
tarde em casa para retardar o início do conflito diário.
Certo dia Álvaro, que era advogado,
atendeu um cliente, um psicólogo que era seu conhecido. Depois de tratar do
assunto atinente à visita do cliente, o pai achou por bem tocar no assunto da
guerra particular que travava com o filho, fato que estava lhe consumindo. O
psicólogo ouviu tudo atentamente, pois entendeu de pronto a gravidade da
situação. E depois de ouvir tudo, disse para o pai do garoto, que nada poderia
fazer naquele momento. Pediu que Álvaro tentasse convencer o filho a irem
juntos ao consultório, pois o trabalho teria que ser feito em conjunto.
Filho, eu gostaria de conversar com
você, disse Álvaro ao retornar à noite para casa. Inicialmente o filho ficou na
defensiva perguntando o que seu pai tinha para lhe dizer, demonstrando pouca
boa vontade. Porém, o pai havia sido instruído por seu amigo psicólogo sobre
como fazer a abordagem para evitar um novo conflito que pudesse colocar tudo a
perder.
'"Caio, meu filho, nós já
brigamos muito; nossa vida virou um inferno, e por conta de nossas brigas, a
família toda tem sido afetada. Sua mãe e seus dois irmãos estão pagando um
preço alto por conta do nosso interminável conflito. Ninguém vai ganhar essa
guerra. Ela só vai fazer com que nos distanciemos um do outro e diminuamos o
amor mútuo que sentimos. Eu não quero isso para minha vida e creio que você
também não quer. Por isso, gostaria de convidá-lo para a gente fazer uma visita
ao um bom psicólogo. Quem sabe ele poderá nos orientar para que encontremos um
equilíbrio em nossa relação de pai e filho. Você topa"?
Visivelmente surpreso, porque
esperava que mais uma batalha fosse travada quando seu pai lhe procurou para
conversar, Caio respirou fundo e respondeu que topava, sim, ir ao psicólogo,
pedindo para o pai marcar logo a visita ao profissional, demonstrando
claramente que gostaria que aquilo tivesse acontecido bem antes, pois a guerra
o incomodava.
“Meu filho não
me disse uma palavra durante meses. Um depois de irmos ao psicólogo ele
perguntou, O que se come no almoço?
Acho que estamos fazendo progressos. Está sendo uma grande ajuda o
acompanhamento com esse profissional. Estamos aprendendo a discutir sobre as
nossas diferenças sem isso se tornar sempre num confronto. Já terminamos ambos
com as facadas verbais. A vida está ganhando gradualmente o seu equilíbrio. Eu
sei que as coisas entre nós não serão sempre perfeitas, e que ele precisa se tornar
um homem à sua maneira. Mas estou apenas contente porque estou sentindo que não
vou perder o meu filho, e podemos continua sendo a família que sempre fomos.”
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