Jota Parente - Eu tinha sete anos quando foi
jogada a Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Se fosse nos dias de hoje, com o
bombardeio de informações a que todo mundo é submetido, inclusive as crianças,
provavelmente eu me lembraria de muito mais coisas daquele evento. Para falar a
verdade, não me lembro de nada a respeito dos jogos anteriores da Seleção
Brasileira, até chegar à final.
O rádio era o único meio de se
informar, e somente através de emissoras de fora, porque havia apenas a Rádio
Clube, em Santarém, que funcionava quase que artesanalmente. Então, o jeito era
esticar uma boa antena para pegar as emissoras do Rio de Janeiro (Rádio Globo,
Rádio Nacional e Rádio Mauá) ou de São Paulo (Rádio Bandeirantes). Todas elas
transmitiam em ondas curtas, com bastante estática no sinal.
Do alvoroço da final eu me lembro
muito bem, porque a pequena e pacata Santarém ficou muito agitada, pois passado
o período de desconfiança que pairava, ainda por causa da ressaca histórica do Maracanazo de 1950, os torcedores
ficaram empolgados com a possibilidade de enfim, nossa seleção trazer a Taça
Jules Rimet pela primeira vez, conquanto
a campanha para chegar até aquele momento credenciava o time canarinho como
favorito, embora o jogo fosse contra os donos da casa, os suecos.
É natural que eu não tenha
lembranças fortes de detalhes da partida que começou às três horas da tarde,
hora do Rio de Janeiro, que na época ainda era a capital brasileira. E nesse
horário, a transmissão de rádio em ondas curtas é muito complicada, recheada de
um monte de ruídos. O que eu me lembro bem é dos gols, o primeiro, que foi marcado
pelos donos casa, por Nils Liedholm, aos quatro minutos de jogo, o que provocou
uma tristeza momentânea muito grande, e depois, os gols do Brasil, que empatou
logo aos nove minutos. Depois, foi só show de bola.
Gilmar, Djalma Santos, Belinni,
Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo. Naquele
tempo não havia substituições e aquele time ainda contava com Joel, ponta-feira
que começou como titular e perdeu o lugar para Garrincha, Mazzola, que durante
a Copa perdeu o lugar para Pelé, Dida, De Sordi e Dino Sani, entre outros.
Os brasileiros que tem 30 anos,
hoje, mal lembram do time que ganhou a Copa de 1994, realizada nos Estados
Unidos. Ganhou sem encantar, da mesma forma que aconteceu com o escrete de
2002. Vai sempre haver quem diga, com boa dose de razão, que é melhor não jogar
bonito e ganhar, do que dar show e voltar mais cedo para casa. Isso aconteceu
em 1982, com a Seleção do Brasil, que foi uma das melhores de todos os tempos,
com Zico, Sócrates e Falcão, entre tantos craques. A Itália, que quase não
consegue passar da primeira fase, mostrando um futebol medíocre, tirou o Brasil
da Copa. E o que ficou para a história foi o título que a Azurra ganhou.
2014
– Faltam poucos dias para a gente começar a viver a Copa do Mundo que tem sido
motivo de motivo de muitas dores de cabeça para nós, que a organizamos.
Estamos
propensos a escrever uma nova página na história do maior evento do futebol
mundial, nada lisonjeira para a nação brasileira. Se a seleção nacional for bem
dentro de campo e, principalmente, se ganhar o título, a sujeira vai ser
varrida para baixo do tapete.
Quase na hora da bola rola no jogo
inicial, ainda não temos o estádio da abertura da copa pronto. E ninguém pode
garantir que o estará a tempo, pois ainda faltam alguns itens, embora o Brasil
tenha sido o país ao qual foi dado o maior tempo para se preparar. Mas, não se
preparou. Foram tantos os erros, que como acontece em nosso país, a população
até já se acostumou com muitos deles, que vão dos escândalos do
superfaturamento das obras, até mortes de operários.
Por influência do governo
brasileiro, a FIFA escolheu sedes demais. Em vez de doze cidades, o máximo que
se presaria seriam oito. Escolher cidades como Manaus, Cuiabá e Natal foi um
erro grotesco. O pior deles foi Manaus, cujo único motivo foi a força dos
políticos amazonenses, que derrotaram o Pará, que tem times que não são grande
coisa no cenário nacional, no momento, mas, que tem uma torcida apaixonada, que
vive lotando o Mangueirão.
A maior competição futebolística do
estado do Amazonas é o Peladão, que por lá consideram como o maior do mundo, o
que nos leva a dizer; oh vantagem! Pois é, Manaus ganhou um estádio novo,
moderno, no qual morreu gente trabalhando e cuja obra custou R$ 170 milhões a
mais do que o orçamento inicial. Tudo isso para receber apenas quatro jogos da
Copa do Mundo. E como diz o ditado, que nada é tão ruim que não possa piorar,
os próprios dirigentes de clubes mais ponderados afirmam que não vai dar para
jogar o campeonato amazonense naquela praça de esportes, por causa dos
elevadíssimos custos de operação. Ou seja: o governo do Amazonas vai ter que
encontrar utilidade para a Arena da Amazônica, após a Copa. Talvez vire um
grande bumbódromo, porque para futebol é que não vai servir.
Sem
graça – Desde 1958, nunca vi uma copa do mundo tão sem graça como essa.
Parece que o evento vai ser jogado em Plutão, sem direito a transmissão, mesmo
que seja pelo Rádio, de tão ensossa que está sendo desenhada por todo o Brasil.
O presidente da FIFA, Joseph Blater desabafou, ano passado, em Zurique, tendo
afirmado que talvez a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, tenha sido o maior erro
histórico da entidade. O Ronaldo Fenômeno vem a público afirmar que sente
vergonha dos atrasos nos preparativos, mas, a presidente Dilma Rousseff diz que
não há motivo para se envergonhar, porque o Brasil vai realizar a maior de
todas as copas.
Em copas passadas, mesmo quando o
Brasil fez campanhas pífias, a torcida se empolgava quando o início do evento
se aproximava, enfeitando ruas, casas e carros. Nesta, em território nacional,
nada, rigorosamente nada se vê, apesar do esforço da Rede Globo, que tenta
motivar o torcedor a qualquer custo. O desânimo é a tônica do comportamento do
torcedor brasileiro, muito mais por causa da situação presente do nosso País,
do que por outros motivos.
O torcedor tem um otimismo moderado
quanto ao que poderá fazer sua seleção. Parte da credibilidade foi recuperada
após a inquestionável conquista da Copa das Confederações, em 2014. Porém, com
a facilidade de acesso à informação que se tem hoje em dia, todos nós sabemos
que não existe um grande favorito. Seleções fortes virão brigar pelo título. É
o caso da Argentina, da Espanha, da Holanda, da Inglaterra, da Alemanha e da
França. Isso, se não surgir nenhuma surpresa. Andam falando muito bem da
seleção da Bélgica.
O Jornal do Comércio editou uma matéria
publicada semana passada pela respeitada revista francesa, France Football, que
reservou dez páginas para falar mal, mas, muito mal do Brasil, tendo como pano
de fundo a Copa do Mundo. Eu só não gostei dos exageros que foram publicados,
frutos de desinformação, ou de pura maldade. Eu não tenho complexo de cachorro
vira-latas, quando falo do meu país. A gente tem muita coisa boa, mas, há
muitas verdades na tal matéria, das quais a gente deveria sentir vergonha, em
vez de xingar os gringos.
Não faltam motivos para essa gradativa
perda de interesse por esse acontecimento desejado pelo mundo inteiro. Isso foi
sendo construído com o passar do tempo. Não é que o brasileiro tenha deixado de
gostar de futebol. O modo como o futebol vem sendo tratado ao longo do tempo
por aqui é que determinou isso. Até o começo da década de 1990 o torcedor sabia
a escalação do seu time, entrava ano, saía ano, porque mudavam poucas peças.
Atualmente, somente os torcedores mais apaixonados o sabem, e olha lá se sabem!
Os atletas passaram a sair cada vez mais
cedo do Brasil para jogar em clubes estrangeiros, sobretudo da Europa. Porém,
costumavam ir para a Espanha e Itália, principalmente. Depois, para a
Inglaterra, Alemanha, França e Portugal. Nos últimos anos eles vão para tudo
quanto é país. Teve jogador na seleção da Copa das Confederações, que foi apresentado
ao torcedor no decorrer da competição.
Esse êxodo de jogadores de todas as
idades, fruto da famigerada Lei Pelé, distanciou os melhores atletas do
torcedor. Antes, havia uma grande expectativa na nação brasileira, quando ia
ser anunciada uma convocação da seleção para uma copa. Os torcedores dos
maiores times ficavam fazendo figa para que jogadores de suas equipes fossem
convocados. Tu viste, foram convocados tantos do Santos, tantos do Botafogo,
tantos do Corinthias, tantos o Flamengo, tantos do Vasco, e assim por diante.
Nessa seleção, à exceção de Fred, que é um dos artistas principais da
companhia, todos os outros que jogam em clubes do Brasil não passam de
coadjuvantes.
Sou brasileiro, com muito orgulho, e
naturalmente torcerei por nossa seleção. Espero que ela jogue bem e, de
preferência, que fique com o título. Entretanto, diferentemente do que
aconteceu em 1982, quando passei mal no final do jogo com a Itália, quando
perdemos por 3x2, ficarei triste se a seleção não ganhar, mas, não perderei meu
sono por causa disso, porque para mim, essa está sendo a mais desenxabida de
todas as copas que acompanhei. E olha que como cronista esportivo, eu
acompanhei a todas elas, de 1970 para cá, com grande interesse. Espero, que
pelo menos dentro de campo essa sensação seja mudada, pois fora de campo está
muito ruim.
Publicado na edição
180 do Jornal do Comércio, circulando desde de sexta-feira à tardinha
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