Data: 14/11/2005
por, João Ubaldo Ribeiro -
A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e
Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve.
E o que vier depois de Lula também não servirá para nada..
Por isso estou começando a suspeitar que o problema
não está no ladrão corrupto que foi Collor, ou na farsa que é o Lula.
O problema está em nós. Nós como POVO.
Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA" é a moeda
que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma
virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e
respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais
jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas
caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal...
E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE
ESTÃO.
Pertenço ao país onde as "EMPRESAS PRIVADAS" são
papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam
para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes
e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos ...e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo
porque conseguiu "puxar" a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a
declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito.
Onde os diretores das empresas não valorizam o
capital humano.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as
pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo
por não limpar os esgotos.
Onde pessoas fazem "gatos" para roubar luz e água e
nos queixamos de como esses serviços estão caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior
nosso atual Presidente, que recentemente falou que é "muito chato
ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem
econômica.
Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar
projetos e leis que só servem para afundar ao que não tem, encher o saco
ao que tem pouco e beneficiar só a alguns.
Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados
médicos podem ser "comprados", sem fazer nenhum exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança
nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que
está sentada finge que dorme para não dar o lugar.
Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o
pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos
esbaldamos em criticar nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor me
sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem "molhei" a mão de um guarda
de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado, melhor sou eu como
brasileiro, apesar de ainda hoje de manhã passei para trás um cliente
através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não! Não! Não! Já basta!!.
Como "Matéria Prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta
muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa.
Esses defeitos, essa "ESPERTEZA BRASILEIRA"
congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até
converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do
que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula, é que é real e
honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS.
Nascidos aqui, não em outra parte...
Me entristeço.
Porque, ainda que Lula renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que
o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima
defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas
enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar
primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, e nem
serve Lula, nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a
força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa.
E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de
baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro
para os lados, ou como queiram, seguiremos
igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente sacaneados!!!
É muito gostoso ser brasileiro.
Mas quando essa brasilinidade autóctone começa a ser
um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a
coisa muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um
Messias.
Nós temos que mudar, um novo governador com os mesmos
brasileiros não poderá fazer nada.
Está muito claro... Somos nós os que temos que
mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que
anda nos acontecendo:
desculpamos a mediocridade mediante programas de
televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi
procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim,
exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de
desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE
O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.
AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E você, o que pensa?.. MEDITE!
-.João Ubaldo Ribeiro.
por, João Ubaldo Ribeiro -
A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e
Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve.
E o que vier depois de Lula também não servirá para nada..
Por isso estou começando a suspeitar que o problema
não está no ladrão corrupto que foi Collor, ou na farsa que é o Lula.
O problema está em nós. Nós como POVO.
Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA" é a moeda
que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma
virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e
respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais
jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas
caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal...
E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE
ESTÃO.
Pertenço ao país onde as "EMPRESAS PRIVADAS" são
papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam
para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes
e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos ...e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo
porque conseguiu "puxar" a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a
declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito.
Onde os diretores das empresas não valorizam o
capital humano.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as
pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo
por não limpar os esgotos.
Onde pessoas fazem "gatos" para roubar luz e água e
nos queixamos de como esses serviços estão caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior
nosso atual Presidente, que recentemente falou que é "muito chato
ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem
econômica.
Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar
projetos e leis que só servem para afundar ao que não tem, encher o saco
ao que tem pouco e beneficiar só a alguns.
Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados
médicos podem ser "comprados", sem fazer nenhum exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança
nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que
está sentada finge que dorme para não dar o lugar.
Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o
pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos
esbaldamos em criticar nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor me
sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem "molhei" a mão de um guarda
de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado, melhor sou eu como
brasileiro, apesar de ainda hoje de manhã passei para trás um cliente
através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não! Não! Não! Já basta!!.
Como "Matéria Prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta
muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa.
Esses defeitos, essa "ESPERTEZA BRASILEIRA"
congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até
converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do
que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula, é que é real e
honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS.
Nascidos aqui, não em outra parte...
Me entristeço.
Porque, ainda que Lula renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que
o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima
defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas
enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar
primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, e nem
serve Lula, nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a
força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa.
E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de
baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro
para os lados, ou como queiram, seguiremos
igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente sacaneados!!!
É muito gostoso ser brasileiro.
Mas quando essa brasilinidade autóctone começa a ser
um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a
coisa muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um
Messias.
Nós temos que mudar, um novo governador com os mesmos
brasileiros não poderá fazer nada.
Está muito claro... Somos nós os que temos que
mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que
anda nos acontecendo:
desculpamos a mediocridade mediante programas de
televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi
procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim,
exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de
desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE
O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.
AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E você, o que pensa?.. MEDITE!
-.João Ubaldo Ribeiro.
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