247 - Um dia depois de tomar posse no Ministério da Fazenda, Joaquim Levy foi surpreendido com uma maré de notícias negativas, na área mais sensível da economia: o emprego; foram 800 demissões na Volks, 244 na Mercedes-Benz e, para piorar, a greve dos metalúrgicos do ABC, berço do sindicalismo nacional; crise da indústria automobilística pode se acentuar com o fim das desonerações fiscais, medida tomada por Levy para reequilibrar as contas públicas; a questão, agora, é delicada: buscar um ponto de equilíbrio para evitar a espiral recessiva, com mais demissões, redução do consumo, menor arrecadação fiscal e, consequentemente, mais necessidade de ajuste; Levy conseguirá executar a façanha?
O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não terá um dia de trégua. Nesta terça-feira, 24 horas após sua posse no cargo, a economia brasileira recebeu uma maré de notícias negativas: 800 demissões na Volks, 244 na Mercedes-Benz e, para piorar, a greve dos metalúrgicos do ABC, berço do sindicalismo nacional.
A crise das montadoras tem ligação direta com a nova política econômica. Como as desonerações fiscais acabaram em 31 de dezembro, empresas como Volks e Mercedes demitem em janeiro, prevendo queda das vendas neste ano que se inicia.
Pelo que se conhece de Levy, dificilmente haverá recuo. Até porque seu discurso está ancorado no restabelecimento da solidez fiscal, como pré-condição para a retomada do crescimento.
No entanto, ajustes em períodos de retração econômica são sempre mais difíceis de se executar. O risco é alimentar uma espiral recessiva, com uma lógica perversa: mais demissões, maior redução do consumo, menor arrecadação fiscal e, consequentemente, mais necessidade de ajuste.
Leia, abaixo, reportagem da Reuters sobre medidas estudadas pela equipe econômica:
Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - O governo deve anunciar nesta terça-feira corte nas despesas, que deve incluir investimentos, até que o Orçamento de 2015 seja aprovado no Congresso Nacional, o que só deve ocorrer entre fevereiro e março, informou à Reuters uma fonte do governo com conhecimento sobre o assunto.
Além disso, será criado um comitê de avaliação do gasto público para balizar cortes orçamentários futuros, acrescentou a fonte, que falou sob condição de anonimato.
Como o Orçamento de 2015 não foi aprovado até o fim do ano passado, a legislação determina que o governo só pode aplicar até 1/12 da previsão orçamentária a cada mês.
No caso dos gastos não obrigatórios, que envolvem também investimentos, essa economia agora será ainda maior. Segundo a fonte, esses gastos devem ser limitados a cerca de 1/18 da previsão orçamentária a cada mês.
Em relação aos gastos obrigatórios, como salários e benefícios previdenciários, a proporção continuará de 1/12.
Segundo a fonte, a decisão foi tomada em reunião na segunda-feira entre os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Nelson Barbosa (Planejamento) e Joaquim Levy (Fazenda). O tema também já foi discutido com a presidente Dilma Rousseff, que chega a Brasília nesta terça-feira depois de alguns dias de descanso na base naval de Aratu, na Bahia.
A economia maior nas despesas não obrigatórias serve, segundo a fonte, para dar uma mensagem clara de que o governo está comprometido com a meta de superávit primário equivalente a 1,2 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano.
Desde que a nova equipe econômica foi anunciada, o governo tem emitido sinais de que fará forte ajuste fiscal em 2015.
Para isso, já reduziu subsídios do Tesouro Nacional a empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e anunciou mudanças em benefícios trabalhistas, além de ter aprovado no Congresso novos parâmetros na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015.
Leia, ainda, reportagem sobre a perspectiva de queda no setor automotivo:
Vendas de veículos no Brasil devem ter 3o ano seguido de queda em 2015
SÃO PAULO (Reuters) - As vendas de veículos novos no Brasil devem cair pelo terceiro ano consecutivo em 2015, previu a associação de concessionárias Fenabrave nesta terça-feira, afirmando que a expectativa decorre da perspectiva de crescimento econômico estagnado e do fim de impostos menores para o setor.
A entidade estimou que as vendas de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus no Brasil este ano vão cair 0,5 por cento, após um tombo de 7,15 por cento em 2014, o pior declínio percentual registrado pelo setor desde 2002.
Questionado se a perspectiva da entidade para 2015 seria otimista diante do ambiente de elevação de juros, sinais de alta no desemprego e redução de estímulos governamentais, o presidente da Fenabrave, Alarico de Assumpção Junior, afirmou que a perspectiva para 2015 é realista.
"É realista porque não há grandes alterações no cenário" em relação ao ano passado, disse ele, referindo-se à estagnação da economia. "Se o PIB crescer, nosso setor vai avançar", afirmou o presidente da Fenabrave.
A expectativa para o crescimento do PIB em 2015 é de 0,5 por cento, menor que os 0,55 por cento estimados na semana anterior pela pesquisa Focus, do Banco Central. [nEMNECT0S3]
A perspectiva da Fenabrave foi divulgada apesar do volume de vendas dezembro ter sido o terceiro melhor da história em automóveis e comerciais leves, a 353,56 mil unidades, em parte impulsionado pelo fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O desempenho ajudou a reduzir o estoque do setor de 50 para 40 dias de vendas, disse Assumpção.
A performance do mês passado, com vendas 26 por cento maiores que em novembro, deu sequência a uma certa retomada dos licenciamentos do setor na segundo metade do ano, apõs o fraco primeiro semestre. Assumpção afirmou que 2014 foi atípico por vários eventos que reduziram significativamente o período de vendas, como a Copa do Mundo e as eleições de outubro.
Assumpção não detalhou se a disparada nos licenciamentos em dezembro foi consequência de prática do setor de emplacar veículos ainda sem compradores de modo a inflar o desempenho das montadoras no ano, prática conhecida como rapel. Porém, segundo o vice-presidente da Fenabrave, Luiz Romero, o efeito poderá ser mensurado pelo resultado das vendas de janeiro, que podem ser ainda mais fracas que de costume na comparação com dezembro.
Romero disse que o setor tem estoque de cerca de um mês de veículos produzidos com IPI menor, o que pode ajudar nas vendas do início deste ano, quando os modelos produzidos a partir de janeiro tiveram elevação do tributo a níveis normais.
"Fevereiro vai ter aumento de preços e é evidente que o aumento vai causar um certo impacto (nas vendas) em fevereiro e março", disse Romero.
Na comparação com dezembro de 2013, as vendas do mês passado subiram 4,57 por cento, a 369.996 carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, insuficiente para impedir queda no acumulado de 2014, a 3,498 milhões de unidades. Considerando só automóveis e comerciais leves, as vendas retornaram a patamares de 2010.
A fraqueza do mercado interno, aliada ao tombo nas exportações, tem motivado as montadoras a desacelerarem produção e identificarem excedentes de pessoal. Nesta terça-feira, a Volkswagen anunciou a demissão de 800 funcionários da fábrica em São Bernardo do Campo, movimento que pode ser acompanhado por outras montadoras.
Porém, o presidente da Fenabrave afirmou que o setor de distribuição de veículos, que emprega cerca de 410 mil trabalhadores, "já está ajustado (...) Não estamos prevendo demissão em massa em nosso setor".
A grande aposta da Fenabrave para ajudar as vendas em 2015 é a legislação recentemente aprovada que permite uma aceleração na retomada de bens de inadimplentes, o que em tese pode motivar bancos a ampliar a oferta de crédito a automóveis. Em 2014, segundo o presidente da entidade, a aprovação de pedidos de financiamento foi de 30 por cento. Segundo Assumpção, a regra pode gerar "um mês a mais de vendas" ao segmento.
(Por Alberto Alerigi Jr., com reportagem adicional de Brad Haynes, edição de Aluísio Alves)
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