domingo, fevereiro 08, 2015

Falta fazer óbvio

            O que foi feito de recuperação de ruas no período pré-eleitoral, durante a campanha política de 2014 e um pouco após as eleições foi bom. Algumas ruas de fundamental importância para o tráfego de veículos na cidade de Itaituba foram pavimentadas, possibilitando uma melhora considerável na mobilidade.
            Infelizmente, em boa parte do Brasil as coisas ainda funcionam dessa maneira: o governante faz alguma coisa próximo da eleição, para que o eleitor não esqueça quem foi que fez. Trata-se de um resquício que ainda perdura na política brasileira, onde quem vota precisa dos ‘favores’ dos coronéis de plantão.
            No final da década de 1960, depois que o ex-prefeito de Santarém, Elias Ribeiro Pinto foi tirado na marra do poder, exatamente em 1968, por ordem dos representantes da ditadura militar, com a participação do coronel Haroldo Veloso, aquele município teve quase um prefeito por mês, todos nomeados pela Arena, que era o partido oficial dos militares. Um desses ex-prefeitos, o hoje empresário  Fábio Chagas Lima, contou-me um fato que ocorreu com ele.
            Viajava ele, como prefeito, de Belém para Brasília. Seu voo fez escala em São Luiz, capital do Maranhão, onde embarcaram diversas pessoas. Coincidente-mente, sentou ao seu lado um deputado federal que estava voltando para a capital federal. Os dois engataram uma conversa, e naturalmente o assunto cambou para a política.
            A certa altura da conversa, o deputado, que era bem mais experiente do que Fábio, resolveu lhe dar um conselho: olha, meu amigo, se um eleitor chegar à sua casa e pedir uma laranja, não negue. Vá ao pé da laranjeira, que deve estar plantada no fundo do seu quintal. Apanhe a fruta e diga para o eleitor: preste atenção, está laranja eu peguei na minha laranjeira. Não esqueça disso na hora de votar.
            É exatamente dessa forma que continuam agindo os nossos políticos, os quais deixam para fazer alguma coisa bem próximo da eleição, para que o eleitor não esqueça de onde foi que saiu a laranja que acabou de chupar. Ou não foi isso que fez o governador reeleito Simão Jatene, com referência a Itaituba?
            Os trabalhos de pavimentação de algumas artérias tiveram a contrapartida da prefeitura, sim. Em menor monta do que o investimento do governo do Estado, mas tiveram. A obra serviu para passar uma borracha na desgastada imagem de Jatene, que era mal falado nos quatro cantos do município. Ou seja, a estratégia de dar a laranja, e nesse caso, bem perto da eleição para que o eleitor não esquecesse o nome de quem estava fazendo aquela ‘caridade’, funcionou, e como funcionou.
            Mesmo o trabalho considerado meia boca, que o 8º BEC fez no perímetro urbano da Transa-mazônica não deixou de ter ajudado. Mesmo que esse tenha sido um esforço de muita gente, não podendo, nem devendo ser creditado apenas à prefeita Eliene Nunes, pois teve a forte participação do então deputado federal Dudimar Paxiúba, e da comunidade itaitubense, que foi à luta, com direito à interdição da via para chamar atenção e tudo mais. De qualquer forma, o obra serviu para diminuir o volume das críticas contra a prefeita.
            Mas, e o óbvio que falta ser feito, título deste editorial, onde é que entra? O óbvio está deixando de ser feito, desde que começou o atual governo municipal. O óbvio tem sido cobrado pelo Jornal do Comércio e pelo blog do Jota Parente, desde que a prefeita assumiu, pois quem afirmou de forma convincente durante a campanha de 2012, que sabia como fazer e iria fazer, deveria ter colocado sua equipe para realizar as obras de pequena monta, que teriam feito a diferença.
            O óbvio que faltou fazer, por exemplo, foi a manutenção de vias de grande importância para a ligação de alguns bairros com o centro da cidade, como é o caso da Transgalego, que liga a avenida Marechal Rondon, no bairro Boa Esperança, à Transamazônica no bairro São Francisco, já chegando ao bairro Bela Vista. Essa via tem tudo para cortar no inverno, porque embora os vereadores Dadinho e Orismar, aliados de primeira hora de Eliene Nunes tenham sido cobrados diversas vezes, nada, absolutamente nada foi feito pela SEMINFRA, que deveria ter desenvolvido uma ação de manutenção preventiva. Nem os vereadores cobraram.

            Como esse, que foi citado por ser um exemplo que salta aos olhos, existem diversos outros pequenos serviços, que se forem feitos, melhorariam muito a vida de quem precisa trafegar por lá, como é o caso de uma passagem na confluências da travessa São José com a 29ª Rua, por onde hoje já se passa de carro com muita dificuldade. E todo mundo sabe que é mais fácil prevenir do que remediar. Mas, pelo jeito, vão ter que mesmo que remediar, porque a prefeitura de Itaituba deixou de fazer o óbvio.

Editorial publicado na edição 194 do Jornal do Comércio, circulando

Nenhum comentário:

Postar um comentário