sexta-feira, junho 12, 2015

Quem não gosta de política...

Jota Parente - Poeta e dramaturgo alemão, Bertold Brecht nasceu em 10 de fevereiro de 1898 e morreu em 14 de agosto de 1956. Marxista, Brecht deixou a Alemanha com a ascensão do nazismo e exilou-se em vários países (Suíça, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Inglaterra, Rússia e Estados Unidos). É considerado um dos principais dramaturgos do século XX, com textos que buscavam reforçar a conscientização política. Já naquele tempo ele falava sobre a alienação política dos cidadãos, o que continua acontecendo até hoje, apesar de todo o desenvolvimento, apesar da celeridade com que temos acessos às informações a respeito dos políticos hoje em dia.
Em seu poema, “Analfabeto político”, ele sustenta a tese de que o cidadão que se aliena das discussões políticas é o maior responsável pela vitória dos corruptos e dos maus políticos.
“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais. (Texto extraído do site Congresso em Foco)
Não se trata aqui, apenas de uma ação de control C + control V. O objetivo é despertar naqueles que vivem dizendo que odeiam política, porque político não presta, porque político é tudo ladrão, farinha do mesmo saco, que só pensa em se dar bem, etc...etc...etc...
Tudo isso tem muito de verdade, mas, toda generalização é perigosa, pois não existem só políticos ruins. Há muita gente boa, trigo bom que precisa ser separado do joio. Contudo, o mal tende a ganhar notoriedade com maior rapidez, principalmente em um país como o nosso, no qual os casos de corrupção envolvendo detentores de mandato eletivo se sucedem.
Não participar da vida política da sua associação de bairro, do seu clube, das eleições municipais, estaduais ou de nível nacional significa que a pessoa lava as mãos para algo que lhe diz respeito, porque queiramos ou não, praticamente tudo que acontece no dia a dia na nossa relação com o Estado passa pela política.
Quem diz que não gosta de política, aqueles que não se interessam por ela, enquadram-se no rol dos analfabetos políticos de Bertold Brecht. E embora tenhamos todos os motivos de sobra para decepções, porque a classe política do Brasil está com sua credibilidade rés ao chão, não vai ser enterrando a cabeça na areia como o avestruz, ignorando os temas do dia a dia, que vamos contribuir para melhorar a qualidade dos nossos quadros políticos.
O filósofo Platão, quatro séculos antes de Cristo, já dizia: Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política; simplesmente, serão
governados por aqueles gostam.
É exatamente o que acontece em cada eleição quando o eleitor deixa de participar, mesmo que seja apenas com o seu voto, que embora sendo único, é determinante para o destino do seu município, do seu estado ou do nosso país.
Batemos no peito e dizemos que somos um povo bom, pacífico e ordeiro, quando uma pesquisa recente da ONU nos colocou como um povo violento, vivendo em um país no qual a violência só faz aumentar. O Estado é incapaz de deter essa onda que nos assusta a todos, e nós, cidadãos, na maioria das vezes só fazemos lamentar pelos cantos, alienados do processo político. E sem a nossa efetiva participação, sem cobrarmos pra valer dos nossos governantes, agindo como analfabetos políticos, em nada ajudamos a melhorar o nosso Brasil.

Tomemos por base a Reforma Política que está sendo discutida e votada na Câmara Federal. Os deputados federais mudaram pouca coisa, até agora. De importante, mesmo, somente o fim da reeleição para prefeitos, governadores e presidente. Ou seja, mexeram no Executivo. Quando chegou a hora de mudar alguma coisa no Legislativo, ou cortar na própria carne, foi deixado tudo como estava. Foram esses caras que nós mandamos para lá. Da próxima vez vamos prestar mais atenção em quem iremos votar. Mas, para isso, quanto menos analfabetos políticos houver, melhor serão as nossas escolhas.
Artigo publica na edição 199, do Jornal do Comercio, que circulou no começo desta semana

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