A
ladainha é sempre a mesma: essa é a pior
Câmara que eu já vi! Vem eleição, vai eleição e a conversa não muda há
décadas. Então, o que será que está errado? Somos nós, os eleitores, de cujo
meio saem os políticos para todos os cargos eletivos? Será que nos engamos
sempre na hora de escolher um candidato, ou somos eternamente enganados por
eles, que agem como cordeiros na hora de pedir o voto, mas, depois mostram o
lobo que verdadeiramente são? O problema está no sistema político, que coopta a
todos que se elegem, mesmo aqueles que a gente considerava antes de eleitos,
gente boa, ou será que é um conjunto de fatores que engloba tudo isso?
Particularmente, cheguei à
conclusão, há muito tempo, de que existe um pouco de tudo nisso. Nem sempre foi
assim tão escrachado como é nos dias de hoje. Falando especificamente da figura
do vereador, lembro muito bem que quando eu era adolescente, e mais tarde
durante minha juventude, essa figura era respeitada. Quando alguma família era
visitada por um edil, aquilo era motivo de comentários a respeito do prestígio
que aquela família tinha. Porém, isso se perdeu no tempo, e o que se vê hoje é
uma completa depreciação.
Vereador é uma pessoa do meio do
povo, que na maioria das vezes, antes de se lançar na política, goza de boa
reputação. Muitas dessas pessoas que chegam ao parlamento municipal são
engajadas em causas sociais, ou em movimentos comunitários. E por se destacarem
nessa ou naquela atividade, terminam entrando para a política. Mas, quando
chegam ao sonhado mandato eletivo parece que se transformam para pior, causando
grande decepção naqueles que acreditaram que seria diferente.
Por que será que acontece uma
mudança tão brusca? A culpa é apenas de um vereador recém-eleito, ou tem mais
culpados? É óbvio que tem uma grande parcela de culpa do próprio político que
se elege prometendo fazer uma coisa, que jura que vai ter um comportamento
diferente do usual, mas, quando senta na cadeira conquistada na base do voto
muda radicalmente de atitude, mas, tem mais gente envolvida nesse processo.
Para se elegerem, os políticos em
geral não se acanham em mentir à vontade, prometendo o que não podem cumprir.
Para ganhar votos, tem candidato a vereador que promete asfaltar ruas, fazer
pontes, recuperar vicinais, coisas que fogem à sua competência. Mas, ganham
porque tem gente que acredita. Isso é muito pior quando se trata dos candidatos
a prefeito, que após eleitos precisam construir a maior base de apoio possível
na Câmara, para navegarem em águas mansas. E é aí que entra a tal mudança de
comportamento do vereador.
Afirmando que não é possível fazer
coisa alguma durante o mandato se estiver contra o prefeito, quando se elege
por outro grupo político, o nobre vereador não tem a menor cerimônia em trair
os seus eleitores, muitos dos quais acham isso a coisa mais natural do mundo,
porque é assim que funciona a política.
E nesse instante entramos nós em ação. Ou,
pelo menos deveríamos entrar, repudiando o fisiologismo que é uma praga na
política brasileira, onde a prática dos interesses do detentor do mandato está
sempre acima dos interesses coletivos. O prefeito oferece alguns empregos e
mais algumas vantagens pessoais para aquele que poderia ser um adversário
político durante todo o mandato, se continuasse na oposição, enquanto o
vereador aceita defender o que muitas vezes é indefensável. Esse é o X da
questão. O fisiologismo, que é um câncer na política nacional. E aí entramos
nós, eleitores, de novo, caindo na conversa mole desses maus políticos, em vez
de tomar uma posição firme, repudiando-os.
A coisa que menos um vereador faz, com raras
e honrosas exceções é fiscalizar o Poder Executivo, que deveria ser sua
principal missão, pois pelo menos as pessoas que votam conscientemente esperam
que isso aconteça. Na maioria das vezes não há interesse do parlamentar em
exercer essa função. Todavia, aqueles poucos que desejam fazer isso, esbarram
nas dificuldades que os prefeitos criam para que os documentos sejam
disponibilizados para o Poder Legislativo. Os tribunais de conta são de difícil
acesso até mesmo para quem é vereador, sobretudo pela questão da distância.
Sei que o que eu
proponho aqui não é fácil de fazer na prática, mas, pode ser que alguém se
disponha. Que tal pedir para o candidato que a gente vier a escolher para votar
para vereador se comprometer, por escrito, com as metas que ele propuser,
dentre as quais, fiscalizar de verdade o Executivo? Que tal pedir para que
todos os candidatos a prefeito registrem em cartórios seus programas de
governo? Acho que já será um bom começo. O resto é conversa furada.Artigo de Jota Parente, publicado na edição 204 do Jornal do Comércio, circulando
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