JC – O começo foi na
roça. Você saiu de lá de Esperantina porque considerava aquele trabalho muito
pesado?
Quaresma – Exatamente por isso.
Eu queria encontrar algo melhor, mais leve para fazer, porque na roça era muito
pesado, e as condições no Piauí eram muito ruins, sem certeza de que ia haver
inverno. Saí de lá para o Maranhã e de lá para Itaituba.
JC - Quanto tempo você
ficou no Maranhão, o que fez lá e como se deu a vinda para Itaituba?
Quaresma – Eu fique em
Imperatriz, onde era lotador de carros. Eu lotava caminhonetes dos outros com
pessoas que queriam ir para Serra Pelada. Isso foi nos anos de 1989 a 1992. Aí
apareceu uma oportunidade de comprar um carro totalmente fiado, para eu vir
para Itaituba. No Maranhão, a gente trabalhava o mês todo, sem conseguir juntar
o dinheiro de pagar uma parcela. Um amigo meu me disse que se eu viesse para
cá, eu conseguiria pagar o meu próprio carro.
Na primeira viagem que eu fiz foi
para o km 1027, com o que apurei, juntei mais do que o valor da primeira
parcela do carro. Pelo começo eu vi que aqui eu teria futuro. Já se passou uns
bons dias de lá até agora, e hoje eu já sou até Cidadão Itaitubense.
JC – Você teve loja de
confecções com um movimento grande, sem abandonar de vez o transporte. Foi boa
essa incursão nesse ramo?
Quaresma – Foi bom, sim. Ganhei
dinheiro, mas, acontece, que quando a gente mexe com dois ramos, corre o risco
de ganhar num e perder noutro. Por um tempo eu fiquei muito focado nas lojas.
Comecei a tirar dinheiro para empregar no setor de transporte, o que fez com
que houvesse queda no setor de confecções. Então, eu resolvi optar somente pela
paixão maior, que é o transporte. Está nas minhas veias.
JC – Tempos bons para
ganhar dinheiro, mas, complicados para trabalhar, quando você chegou aqui...
Quaresma – Não era fácil, não.
A gente gastava de quatro a cinco dias para ir até o Alvorada, ou 1027. Não
havia quase nada na BR 163, era só atoleiro. Hoje o pessoal reclama de
atoleiro. Precisavam ver era naquela época. Aquilo, sim, era atoleiro para
ninguém botar defeito. Nos momentos mais complicados, a gente só passava quando
o Wirland Freire ia com a frota dele.
Havia o problema da violência, mas
eu sempre me resguardei. Evitava frequentar bares ou lugares onde era mais
comum acontecer confusão. De noite eu ficava em casa; nunca fui homem de andar
bebendo. Algumas vezes eu estava num lugar e de repente começava um tiroteio.
Só restava correr e se esconder até passar o perigo.
JC – Como é, tocar uma
empresa de transporte em uma região como esta?
Quaresma – Olha, é preciso
saber trabalhar com ônibus. Tem viagem que sai sem nenhum passageiro. Ficaram
para trás aqueles tempos em que andava tudo lotado. O comércio mudou muito.
Aumentou demais a concorrência. Temos uma estrada que a gente pode dizer que é
boa, em comparação com o passado, mas, não tem passageiro. No inverno é ainda
mais complicado. No inverno deste ano, a frota tem ficado boa parte do tempo
parada, porque tem chovido demais e complica a situação das estradas. A gente
ganha no verão, para comer no inverno. Ainda bem que o verão é mais comprido.
JC – Diante desse
momento de crise, a Quaresma Turismo vai cuidar da frota que tem, ou há projeto
para novos investimentos?
Quaresma – Nesse ramo de ônibus
a gente não pode parar. É preciso comprar novos carros. Agora mesmo nós
compramos dois novos ônibus que deverão entrar na linha no verão, renovando a
frota que faz os trechos de Itaituba para Santarém, Novo Progresso e Teresina.
Não pode ficar parado.
JC – Itaituba é o seu
lugar?
Quaresma – Eu me considero daqui. Eu gosto de Itaituba.
Já tenho até um lugarzinho comprado do km 6. Não tenho a menor intenção de sair
daqui. Itaituba ainda vai melhorar muito. Tem muita coisa boa para acontecer
dentro de poucos anos. Na edição 229 do Jornal do Comércio
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