Folha - Encerrados
em sacos plásticos e amontoados nas carrocerias de duas camionetes, os corpos
dos dez sem-terra mortos pela polícia durante massacre na última quarta-feira
(24) foram devolvidos pela Perícia Criminal às famílias em estado avançado de
putrefação.
Os cadáveres chegaram na madrugada desta
sexta-feira (26) a uma funerária de Redenção (893 km de Belém). Diante de
dezenas de familiares, os funcionários da perícia encostaram os veículos e
descarregaram os corpos, envoltos sob um forte cheiro. Nos dois veículos,
escorria sangue pela caçamba.
Um a um, os sacos foram abertos no chão da
funerária para novo reconhecimento. Todos os mortos estavam com rostos
desfigurados, principalmente pelo inchaço.
Irritados com a promessa não cumprida de que os
corpos chegariam embalsamados, familiares gritavam contra os funcionários da
perícia que tentaram impedir a filmagem pela imprensa. Muitos choravam; três
mulheres tiveram de ser amparadas para não cair no chão.
"Eles chegaram podres, pior do que
foram", afirmou o lavrador Manoel Pereira, 58, que perdeu um filho, dois
irmãos, três sobrinhos e uma cunhada –sete dos dez mortos eram da mesma
família.
Por falta de IML na região, os corpos dos nove
homens e uma mulher haviam sido levados para autópsia em Marabá e Paraupebas, a
respectivamente 356 km e 290 km de Redenção, cidade de origem da maioria dos
mortos e vizinha a Pau d'Arco, palco da chacina.
Questionada por e-mail sobre a manipulação dos
corpos, o Centro de Perícias Científicas não havia enviado resposta até o início
da tarde de sexta.
De
manhã, oito dos mortos foram enterrados no cemitério municipal, em covas
abertas uma ao lado da outra. Sob o sol forte, os corpos continuavam exalando
um forte cheiro mesmo encerrados em caixões.
Os buracos foram cobertos pelos próprios
parentes, devido à falta de funcionários no cemitério. "Levaram os corpos
e trouxeram carniça", disse um jovem, enquanto jogava terra sobre o caixão
do seu pai.
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