A reação do tucanato à crise que engolfa Michel Temer
transformou o ninho em motivo de piada. Uma das principais lideranças
governistas no Congresso diverte deputados e senadores traçando uma analogia
entre os tucanos e um português de anedota. Sorriso nos lábios, o apologista da
administração Temer conta assim a piada luso-tucana:
“Os
bombeiros entraram num prédio incendiado, para verificar os destroços.
Encontraram um português morto. Estava de cabeça para baixo, com o dedo
indicador apontando para um dos cantos do cômodo. Ao lado da vítima, um
extintor e uma placa com a seguinte instrução: ‘Em caso de incêndio, vire para
baixo e aponte para a chama’. Atordoado com as labaredas que consomem a gestão
Temer, o PSDB imita o português. O partido já virou de ponta-cabeça. Só falta
decidir para que lado vai apontar o bico.”
Desde que explodiu a
delação do Grupo JBS, de Joesley Batista, a cúpula do PSDB ensaia um rompimento
com o governo. Viria depois das explicações de Temer. Foi adiado para depois da
decisão do STF sobre a integridade do áudio com a voz do presidente. Foi
protelado para depois da decisão do TSE sobre o pedido de cassação da chapa
Dilma-Temer…
Na noite desta
segunda-feira, os grão-tucanos Fernando Henrique Cardoso e Tasso Jereissati
reuniram-se com Michel Temer e o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da
Presidência) num hotel de luxo em São Paulo. “Foi uma conversa boa
e proveitosa. Conversa boa e capaz de nos garantir, a eles e a nós, que as
reformas passarão”, disse Moreira Franco. Falou-se sobre “caminhos para o
futuro”.
O encontro irritou
parte da bancada do PSDB na Câmara.
Os deputados tucanos estavam a ponto de explodir na semana passada.
Foram contidos pelo senador Tasso Jereissati (CE), que assumiu a presidência da
legenda depois que Aécio Neves foi fisgado pelo autogrampo do delator Joesley.
Dias depois de pedir calma aos deputados, Tasso abusou da paciência dos
correligionários ao tomar parte do conciliábulo paulista. “Além de não romper,
estamos fazendo novos acordos com Temer”, queixou-se um deputado tucano.
A
bancada do PSDB na Câmara voltou a ferver. E o tucanato flerta com a divisão
interna. Depois de escalar o muro, seu habitat natural, os tucanos correm o
risco de descer de lados diferentes.
Paradoxalmente, o PSDB
frequenta a crise como autor das ações que podem levar à cassação de Temer e
como principal fiador do governo do primeiro presidente da história a ser
investigado no cargo pelos crimes de corrupção, obstrução da Justiça e formação
de organização criminosa.
Temer tira proveito do
desentendimento do PSDB consigo mesmo e com o DEM, para esticar um governo em
estado terminal. Com Temer no Planalto, o tucanato é força auxiliar do PMDB.
Sem ele, pode virar coadjuvante do DEM, pois o ‘demo’ Rodrigo Maia, presidente
da Câmara é, no momento, o favorito numa eventual eleição indireta para a
escolha do substituto de Temer.
Num dos trechos da
gravação que registra a conversa desqualificada que manteve com o dono da JBS,
o senador Aécio Neves disse que o PSDB representou no TSE contra a chapa
Dilma-Temer apenas para “encher o saco do PT.” Dilma foi enviada mais cedo para
casa. E Aécio, depois de se tornar o fiador da aliança do PSDB com Temer,
apodrece junto com o aliado em praça pública.
Com suas principais
lideranças tisnadas pela Lava Jato —além de Aécio, ardem no caldeirão Geraldo
Alckmin e José Serra— o PSDB perdeu a hora do rompimento com Temer e o discurso
da moralidade. A distância entre as ameaças de desembarque e sua concretização
impõe à situação uma certa ponderabilidade cômica. De ponta-cabeça, o tucanato
não sabe em que direção deve apontar. Perdeu o rumo e o senso de ridículo.
Blog
do Josias de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário