O professor Ron Clark, que
comanda uma escola modelo no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, a Ron Clark
Academy, escreveu um artigo com o título acima, no ano de 2011. Foi o segundo
artigo mais visitado do Facebook naquele ano por usuários americanos dessa rede
social. Ele mantém contato com cerca de dez mil professores do mundo todo,
incluindo brasileiros. Concedeu uma entrevista à Veja em dezembro de 2011, que
se mantém 100% atual, da qual eu extraí alguns trechos que transcrevo a seguir.
Pais e professores não se entendem: “A
sociedade se transformou. Hoje, vemos pais muito jovens, temos adolescentes que
se veem obrigados a criar uma criança sem ao menos estarem preparados para
isso. São pessoas imaturas. Por outro lado, temos famílias abastadas, em que
pais trabalham fora e são bem-sucedidos profissionalmente. Pela falta de tempo
para lidar com os filhos, empurram toda a responsabilidade da educação para a
escola, mas querem ditar as regras da instituição. Ou seja, eles querem que a
escola eduque, mas não dão autonomia a ela”.
O tipo de
comportamento dos pais irrita os professores: “Acho que o ponto principal são
as desculpas que os pais criam para livrar os filhos das punições que a escola
prevê. Se um aluno tira nota baixa, por exemplo, ou deixa de entregar um
trabalho, os pais vão à escola e descarregam todo tipo de desculpa: dizem que o
filho precisava se divertir, que a escola é muito rigorosa ou que a criança
está passando por um momento difícil. Ou, ainda, culpam os professores, dizendo
que eles não são capazes de ensinar a matéria. Mas nunca culpam seus próprios
filhos. É muito frustrante para os professores ver que os pais não querem
assumir suas responsabilidades”.
Problemas com notas: “Certa vez tive uma aluna que
estava indo mal em matemática. A mãe dela justificou-se dizendo que, na escola
em que a filha estudara antes, ela só tirava boas notas, sugerindo, assim, que
o problema éramos nós, os novos professores. Infelizmente, essa ideia se
instalou na nossa sociedade. Se a nota é boa, o mérito é do aluno; se é baixa,
o problema está com o professor. E quando as notas ruins surgem, os pais ficam
furiosos com os professores. O resultado disso é que muitos profissionais estão
evitando dar nota baixa para não entrar em rota de colisão com os pais, que nos
Estados Unidos chegam a levar advogados para intimidar a escola”.
Os pais poupam
os filhos de lidar com fracassos: “Hoje, existe uma preocupação
grande com a autoestima da criança. Por isso, muitas pessoas se veem obrigadas
a dizer aos pequenos que eles fizeram um ótimo trabalho e que são brilhantes,
mesmo quando isso não é verdade. Essas crianças deixam de aprender que é
preciso se esforçar muito para conseguir bons resultados. No futuro, elas não
terão sucesso porque, em nenhum momento, exigiu-se excelência delas. Precisamos
estar mais atentos à excelência acadêmica e menos preocupados com a autoestima
das crianças”.
Conselho aos professores: “É possível evitar que
os pais surtem diante de notas ruins e do mau comportamento dos filhos se for
construída uma relação de confiança. Em vez de só procurar os pais quando as
crianças vão mal na escola, oriento que os professores conversem com os
responsáveis também quando a criança vai bem. Na minha escola, procuro conhecer
os pais de todos os meus alunos. Procuro encontrá-los com frequência e envio
cartas a eles com boas notícias. Assim, quando tenho que dizer que a criança
não está rendendo o esperado, eles me darão credibilidade e confiarão na minha
avaliação”.
Quando termina a
responsabilidade dos pais e começa a da escola: “As duas partes precisam
trabalhar em conjunto. Os pais precisam da escola e a escola precisa do apoio
da família para realizar um bom trabalho. Um conselho que sempre dou aos pais é
que nunca falem mal da instituição de ensino ou do professor na frente dos
filhos. Se a criança ouve os próprios pais desmerecerem seus mestres, perde o
respeito por eles. O contrário também é verdadeiro. Os professores precisam
respeitar os pais, porque eles são parte fundamental na educação de uma criança”.
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