quinta-feira, agosto 24, 2017

Santarenos que consomem peixe apresentam altos índices de mercúrio no sangue, aponta estudo

Dieta de populações ribeirinhas é quase que exclusiva de pescados (Foto: Divulgação/Sapopema)G1 Santarém - Dados do estudo realizado pela a bióloga Heloísa de Moura Meneses, em Santarém, oeste do Pará, mostram que pessoas que consomem peixe frequentemente possuem níveis de mercúrio mais elevados que as de baixo consumo.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera exposto o indivíduo que apresenta níveis de mercúrio no sangue acima de 10μg/L (microgramas de mercúrio por litro de sangue). “Cerca de 65% dos participantes apresentaram níveis de mercúrio acima de 10μg/L, ou seja, a grande maioria. O grupo de alto consumo apresentou uma média de 30μg/L, enquanto o outro grupo apresentou, em média, 6μg/L. É uma diferença bastante significativa”, reforçou Heloísa, destacando que houve casos de indivíduos com até 180 μg/L de mercúrio no sangue.

Metodologia
Em seu estudo, Heloísa caracterizou o perfil epidemiológico de 144 pessoas de ambos os sexos, com idade entre 18 e 81 anos, residentes na zona urbana de Santarém e na comunidade de Tapará Grande, localizada na área de várzea do município. Escolhidas aleatoriamente, as pessoas responderam a um questionário informando seus hábitos alimentares.

Além disso, foram coletadas amostras de sangue de cada indivíduo. “Trabalhamos com a matriz sangue, que é diferente do cabelo. O sangue dá uma noção da exposição mais recente, atual. O cabelo mostra uma exposição de longa duração”, explicou a pesquisadora.

Após a coleta, a bióloga dividiu os participantes em dois grupos, de acordo com os hábitos de consumo de peixe. Os que declararam comer a proteína três ou mais vezes na semana formaram o grupo de alta frequência. Os que comiam peixe no máximo duas vezes por semana foram incorporados ao grupo de baixa frequência. “A maior parte das pessoas se encaixou no grupo de alta frequência, quase 78% dos entrevistados”, ressaltou.

Além de idade e sexo, Heloísa considerou, geneticamente, as mutações num grupo de genes da família da Glutationa – genes que regulam o sistema de defesa antioxidante e os níveis de mercúrio no organismo. A Glutationa é um tripeptídeo que facilita o transporte do metal pesado no corpo humano e ajuda a combater o estresse oxidativo. Esse estresse resulta de um desequilíbrio entre a produção de radicais livres e a capacidade de defesa antioxidante das nossas células.

O desequilíbrio causa um excesso de radicais livres, podendo provocar danos celulares e moleculares. “Ele também tem sido associado ao câncer e a males como o Alzheimer e Parkinson”, realça Heloísa.

Conclusões
Os dados mostram que a população de Santarém está ambientalmente exposta ao mercúrio através do consumo frequente de peixe. “Na população ribeirinha, que tem uma dieta quase que exclusiva de peixe, já até esperávamos esses resultados.

O que nos chamou a atenção foram indivíduos da área urbana também apresentarem níveis altos de mercúrio. Estes resultados são importantes porque, por muito tempo, a população de Santarém deixou de ser estudada por não ser considerada uma área sob risco da exposição mercurial”, avaliou a docente.

O estudo mostra que a exposição mercurial continua sendo uma grave questão de saúde coletiva na região. “A identificação desses fatores permite o planejamento de ações de prevenção de doenças e de estratégias voltadas para a promoção da saúde da população.

Queremos contribuir com informações para ações de vigilância em saúde ambiental”, analisa Heloísa, adiantando que o trabalho foi apenas um embrião do que ainda pretende estudar. “Essa tese me deixou com mais perguntas que respostas. A ideia é seguir adiante”.

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