
—
Em meados de 2010, ele [Lula] me chamou para uma reunião na biblioteca do
Palácio da Alvorada. Eu era deputado [...] nesse momento, a Dilma já era
candidata. Foi a primeira vez que ele falou de maneira tão direta. “Chamei
vocês aqui porque o pré-sal é o passaporte do Brasil para o futuro e é o que
vai nos dar combustível para um projeto de longo prazo no país, é o que vai
pagar as contas nacionais e eu quero que o [José Sérgio] Gabrielli [o então
presidente da Petrobrás ] faça as sondas pensando nesse grande projeto para o
Brasil. Mas o Palocci está aqui, Gabrielli, porque ele vai te acompanhar nesses
projetos para que eles tenham total sucesso e para que ele garanta que uma
parcela desses projetos financie a campanha dessa companheira aqui, a Dilma
Rousseff, que quero ver eleita presidente do Brasil”.
Segundo
o depoimento de Palocci, Lula “encomendou que, através das sondas, pagasse a
campanha da Dilma de 2010”.
Porém,
o ex-ministro fez questão de inocentar o então presidente da Petrobras,
Gabrielli.
—
O Gabrielli eu nunca vi fazer ilícitos. Nesse dia, depois que o presidente Lula
encomendou os ilícitos para o Gabrielli, fui e sentei com ele, ele estava muito
constrangido, ele me explicou que seria muito difícil de fazer o que o
presidente tinha pedido e ele não queria contrariar o presidente. Perguntei se
ele queria, vou ser bem franco, que eu operasse com algum diretor da Petrobrás,
para desenvolver a encomenda do presidente para ele ficar fora disso e eu disse
que não. Ele disse que ele trataria. Mas, depois da terceira reunião que tive
com ele, ele deixou claro que não ia viabilizar contribuição de campanhas nesse
projeto. Porque as empresas que estavam entrando, estavam nacionalizando 60%
das ações.
Ainda
durante o depoimento, Palocci falou sobre a finalidade dos contratos da
Petrobras.
—
Nessa época, Renato Duque se relacionava diretamente com o João Vaccari. Aí,
nos contratos, o Vaccari acompanha os contratos que estava realizando. Ou ele
pedia e os operadores já sabiam que ali tinha uma contribuição partidária. O
João Vaccari buscava essas contribuições.
Palocci também assumiu que o “italiano” das planilhas da Odebrecht era ele.
— O Marcelo [Odebrecht] nunca me chamou
de italiano, mas acho que essa planilha, quando ele coloca italiano, ele diz
respeito a mim, sim. Ele nunca me chamou desse nome, não sei porque ele
escolheu essa alcunha. Tem vários e-mails que ele fala de italiano que não diz
respeito a mim, sei que não diz respeito a mim, pode dizer respeito a outras
pessoas. Mas a planilha, acredito que sim. Porque boa parte do que é tratado
nessa planilha são assuntos que tratei com ele. Tem e-mails que não se referem
a mim. Mas alguns, sim.
Sobre o período em que participou do
Conselho de Administração da Petrobras
–
início de 2003 até março de 2006 –, Palocci falou que não se recorda de todos
os projetos que passaram por ele e comentou que os diretores tinham liberdade
para assinar contratos.
—
Os diretores da Petrobras tinham a liberdade para estabelecer e assinar
contratos de alto valor. Precisaria olhar um por um, olhar valores. Realmente
não me recordo, lembro de ter falado de alguns deles, porque alguns deles eram
muitos famosos, falei em vários ambientes sobre eles, mas não me lembro se foi
no conselho.
Palocci
ainda esclareceu a relação que tinha com a Odebrecht.
—Já falei no outro processo sobre a
relação [com a Odebrecht]. Não é uma versão contraditória, mas a versão de hoje
é mais rica. Nunca operei doações, nunca fui buscar o dinheiro nas empresas,
mas sabia que o dinheiro era depositado nos partidos, entregue em malas.
Normalmente, eram os tesoureiros.
Eu
disse e digo hoje que nunca cheguei e falei como a empresa devia pagar, mas
várias vezes pedi para a empresa fazer doação de R$ 50 milhões para a campanha
do presidente tal e da presidente tal e sabia que os tesoureiros depois iam lá
e faziam os pagamentos lícitos e ilícitos, caixa 1, caixa 2.
Segundo
ele, a campanha de 2014 teve grande quantidade de ilícitos disfarçados de caixa
1.
—
Muitas vezes era caixa 1 para simular pagamento legal, mas origem era ilegal.
Exemplo bom é na campanha de 2014. Teve duas características, foi a que mais teve
caixa 1 e foi a que mais teve ilicitudes, porque o crime se sofisticou no campo
eleitoral. As pessoas viram que o problema era o caixa 2 e resolveram
transformar tudo em caixa 1, só que a ilicitude está fora do pagamento. É a
origem criminosa dos valores. A própria operação Lava Jato já desvendou esse
mistério.
Nenhum comentário:
Postar um comentário