Em
se tratando de economia, dizem por aí, que Itaituba é uma ilha que consegue
proteger-se das crises nacionais. Isso ainda se deve muito aos tempos de
economia dourada, no auge do ciclo do ouro, período em que a moeda corrente no
município era o precioso metal, pois qualquer bem de valor mais vultoso era
avaliado em ouro. Tempo de inflação galopante que corroía as parcas economias
do povo.
Ainda hoje, muitos representantes ou
vendedores de fábricas e distribuidores de mercadorias diversas que vem a
Itaituba, ao ouvirem que a economia local está sentindo a crise, dizem que por
aqui os comerciantes choram de barriga cheia, porque crise de verdade existe
fora daqui. Será que isso é verdade?
Em um período de 365 dias muita
coisa acontece no giro da roda da economia e, este ano que termina tem sido
pródigo na alternância do humor dos negócios, pois houve alguns acontecimentos
que causaram agitação, na maioria das vezes para o mal, como foi o caso da
feira dos senegaleses vindos de S. Paulo, que levou bastante dinheiro daqui, e
a crise do mercado do ouro provocado pelo fechamento temporário da Ourominas.
Para tentar animar o comércio local,
a Associação Empresarial de Itaituba, com o apoio da CDL e do Sindilojas,
promoveu o Liquida Itaituba, que embora não tenha contado com a adesão desejada
de lojista, alcançou resultados positivos; mais recentemente, o comércio entrou
na onda do Black Friday, e novamente houve um sopro de esperança no aumento das
vendas.
O que virá com 2018 que possa animar
a economia local e regional? Como vão se comportar as vendas no comércio? O
governo municipal vai fazer alguma coisa para tentar recuperar a pujança do
mercado de ouro, que tem sido prejudicado por compradores não autorizados pelo
Banco Central, embora recebem alvará da prefeitura para trabalhar? Os
compradores de ouro, cujos escritórios funcionam em apartamentos de hotéis
locais, continuarão agindo livremente, prejudicando a arrecadação de impostos
pelo município, pelo Estado e pela União?
Estas e outras perguntas o Jornal do
Comércio tenta responder na matéria a seguir, na qual o objetivo é fazer um
Raio X do que aconteceu na economia local no ano que está terminando, e as
expectativas para 2018. Para conseguir esse objetivo, foram ouvidas diversas
pessoas de diferentes atividades comerciais de Itaituba, as quais deram suas
opiniões sobre o assunto.
Fabrício
Schuber, presidente da ASEII – “2017 foi um ano complicado no Brasil
inteiro e em Itaituba não foi muito diferente do resto do país. Ainda
conseguimos respirar, apesar de susto com o fechamento de uma grande compra de
ouro por um período por três meses, que teve grande impacto; houve o problema
da feira dos senegaleses (Feirão do Braz), e o comércio teve que se adequar à
questão da convenção coletiva baseada nos termos da capital.
Este ano tivemos o 1º Liquida Itaituba,
que apresentou bons resultados para as empresas que aderiram, que arrecadaram
mais de R$ 1 milhão, e esperamos que neste final de ano a gente tenha um
aquecimento das vendas. Estamos trabalhando para termos mais segurança no
comércio, com uma presença mais ostensiva da Polícia Militar. E para 2018 nós
esperamos que a nossa economia se aqueça ainda mais, torcendo para que o setor
da construção civil ganhe novo fôlego, pois este não tem sido um ano muito bom
para o mesmo”.
Empresário
Gilberto Leal, Grupo Leal – “Este foi um ano muito complicado para nossa
economia, porque tivemos diversos problemas, mas, apesar de tudo eu acho que
tivemos ainda algum crescimento. É verdade que o primeiro semestre não foi bom,
vindo a melhorar no segundo semestre, ajudado, também, pela pequena reação da
economia brasileira que começa a dar sinais de recuperação.
No nosso comércio, tanto na venda de
produtos diversos, na Casa Leal, quanto nos nossos postos, vamos terminar o ano
satisfeitos pelos resultados obtidos a partir do segundo semestre. Não é mais
como nos tempos de antes, mas, não tem sido tão ruim assim. E para 2018 temos
uma expectativa muito boa, pois, com a melhora da economia do país, acreditamos
que seguiremos essa recuperação”.
Empresária
Gorete Santos, Loja do Construtor e Gury Modas – “Para quem trabalha no
ramo de materiais para construção como a gente, 2017 não foi um ano bom; e
creio que foi assim para todos nós que trabalhamos nesse setor. A crise
nacional chegou a Itaituba, e isso foi visível. Tivemos o término das obras dos
conjuntos habitacionais bancados pelo governo federal, e mesmo dos
particulares, ajudado pela escassez de financiamentos, muito por conta da crise
e dos escândalos.
A construção dos residenciais do
programa federal, Minha Casa, Minha Vida alavancava bastante o comércio de
Itaituba, e a paralização dos investimentos por parte do governo federal
impactou o setor.
No setor de vestuário, no qual temos
uma loja com artigos infanto-juvenis, a crise também foi sentida de maneira
muito forte. Esperamos que haja crescimento nas vendas neste final de ano, para
ver se a gente se recupera um pouco do baque no resto do ano”.
Não vamos generalizar para não sermos
injustos, mas, creio que a maioria do empresariado local, quando se fala em
enxugar custos da empresa, a primeira coisa que faz é corta qualquer
investimento em publicidade, o que é um erro. Os que fazem isso, consideram
propaganda como uma despesa, em vez de um investimento. Logo, as empresas de
comunicação, que vivem de anúncios publicitários, sentem em seus caixas.
A TV Tapajoara vive o momento de
implantação do seu sistema digital, o que aumentou os nossos investimentos.
Temos esperança de que o nosso comércio reaja em 2018, que a mineração, da qual
ainda Itaituba depende muito, se recupere, para o bem de todos. Esse setor da
economia foi muito prejudicado este ano, por alguns fatores, como a paralização
das atividades da Ourominas por muitas semanas, que causou grande impacto
negativo”.
Antônio
Rodrigues Prado (Polia) Drogaria Nádia – “A nossa região ainda pode ser
considerada boa, levando-se em conta o que a gente ouve sobre outras cidades.
Na minha atividade, farmácia, entraram grandes redes na cidade, e a gente não
tem como não sentir. Porém, já estamos no mercado há mais de 30 anos, procurando
cativar o cliente, e vamos sobrevivendo.
Este ano a gente enfrentou problemas
com o mercado do ouro, que afetou muito o nosso comércio, principalmente o
problema do fechamento por mais de um mês da Ourominas, que mexeu muito com
nossa economia”.
Jorge
Luiz, gerente da Caixa – “A economia está estagnada. Nós tivemos problemas
de cunho nacional que afetaram a economia local, tivemos problemas regionais
com as intervenções do Ibama, principalmente no setor de minérios, mais
diretamente o ouro que reflete de forma direta e, nesse caso, negativa na
economia local. Tudo isso fez com que a gente tivesse uma parada na economia,
que depois dos problemas da economia americana, que fez com que o governo
tomasse providências para tentar resguardar a nossa economia, com a diminuição
da taxa Selic por volta de 2010 e 2011.
Na instituição financeira que a
gente gerencia, (Caixa), sentimos isso, em 2016 e 2017, com a diminuição da
oferta de crédito. Isso também fez com nossa economia desacelerasse. Para 2018
temos boas expectativas. A taxa Selic baixou e isso cria certo otimismo para o ano
que vem. A gente observou um aumento da inadimplência dos clientes que já
haviam tomado dinheiro emprestado, em relação aos anos anteriores, porém, em
patamares razoáveis.
Quanto a promoção que tem dado
descontos de até 90% de descontos para clientes com débitos superiores a 365
dias, o resultado tem sido muito positivo. Tanto, que a promoção continua por
todo o mês de dezembro. Até agora, superamos a casa de R$ 1 milhão de reais
recuperados apenas no decorrer do mês de novembro, que estamos ainda terminando
de fechar”.
José
Antunes, advogado e minerador – “Olha, 2017 não tem sido fácil para
ninguém. Como um dos advogados que há mais tempo está em atividade em Itaituba,
considero que a demanda pelos serviços advocatícios tem diminuído desde 2015
para cá, impactando no bolso dos profissionais. E não é porque chegaram muitos
advogados para cá, não. Em função da crise, nós tivemos uma diminuição de
pleitos. Nós tivemos, também, uma maior agilização da justiça, porque, com a
informatização quase geral, os processos podem andar muito mais rápido, e isso
compensa um pouco a diminuição da demanda, porque gasta-se menos tempo para ter
uma solução para as causas. Esse é um impacto positivo”.
Mineração
– “Nós tivemos uma situação muito difícil aqui na região, não pela atividade em
si; o mercado foi afetado enormemente por um episódio muito grave ocorrido no
Amapá, lá no Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa. Um juiz federal
determinou o fechamento da atividade da compra de ouro pela Ourominas em todo o
Brasil. Aqui foi um sufoco.
Nunca mais o mercado se recuperou plenamente.
Para completar, entraram umas empresas alegando que o ouro é uma mercadoria, e
não recolheram o IOF, prejudicando o município e o estado. O ouro é um ativo
financeiro que tem que ser comprado e vendido por empresas que tem autorização
do Banco Central, no nosso caso, as DTVMs. 70% do IOF voltam para o município e
30% vão para o estado.
Ano passado Itaituba recebeu, só de IOF, R$
9.832.000,00. Imagine de quanto vai ser a queda este ano. Talvez não chegue à
metade. Para completar, mais uma vez, essas fiscalizações feitas por órgãos do
governo, principalmente o Ibama, que só sabe reprimir. E para piorar, só a
Noruega mandou mais de R$ 1 bilhão para serem investidos pelas ONGs na
Amazônia. Sabe quanto veio para cá? Nenhum centavo! Sumiram com o dinheiro.
Essas ONGs vivem dando pressão para que haja repressão para que elas
justifiquem o dinheiro que recebem de fora”.
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