terça-feira, dezembro 19, 2017

Os humores da economia em Itaituba e região em 2017

            Em se tratando de economia, dizem por aí, que Itaituba é uma ilha que consegue proteger-se das crises nacionais. Isso ainda se deve muito aos tempos de economia dourada, no auge do ciclo do ouro, período em que a moeda corrente no município era o precioso metal, pois qualquer bem de valor mais vultoso era avaliado em ouro. Tempo de inflação galopante que corroía as parcas economias do povo.
            Ainda hoje, muitos representantes ou vendedores de fábricas e distribuidores de mercadorias diversas que vem a Itaituba, ao ouvirem que a economia local está sentindo a crise, dizem que por aqui os comerciantes choram de barriga cheia, porque crise de verdade existe fora daqui. Será que isso é verdade?
            Em um período de 365 dias muita coisa acontece no giro da roda da economia e, este ano que termina tem sido pródigo na alternância do humor dos negócios, pois houve alguns acontecimentos que causaram agitação, na maioria das vezes para o mal, como foi o caso da feira dos senegaleses vindos de S. Paulo, que levou bastante dinheiro daqui, e a crise do mercado do ouro provocado pelo fechamento temporário da Ourominas.
            Para tentar animar o comércio local, a Associação Empresarial de Itaituba, com o apoio da CDL e do Sindilojas, promoveu o Liquida Itaituba, que embora não tenha contado com a adesão desejada de lojista, alcançou resultados positivos; mais recentemente, o comércio entrou na onda do Black Friday, e novamente houve um sopro de esperança no aumento das vendas.
            O que virá com 2018 que possa animar a economia local e regional? Como vão se comportar as vendas no comércio? O governo municipal vai fazer alguma coisa para tentar recuperar a pujança do mercado de ouro, que tem sido prejudicado por compradores não autorizados pelo Banco Central, embora recebem alvará da prefeitura para trabalhar? Os compradores de ouro, cujos escritórios funcionam em apartamentos de hotéis locais, continuarão agindo livremente, prejudicando a arrecadação de impostos pelo município, pelo Estado e pela União?
            Estas e outras perguntas o Jornal do Comércio tenta responder na matéria a seguir, na qual o objetivo é fazer um Raio X do que aconteceu na economia local no ano que está terminando, e as expectativas para 2018. Para conseguir esse objetivo, foram ouvidas diversas pessoas de diferentes atividades comerciais de Itaituba, as quais deram suas opiniões sobre o assunto.
            Fabrício Schuber, presidente da ASEII – “2017 foi um ano complicado no Brasil inteiro e em Itaituba não foi muito diferente do resto do país. Ainda conseguimos respirar, apesar de susto com o fechamento de uma grande compra de ouro por um período por três meses, que teve grande impacto; houve o problema da feira dos senegaleses (Feirão do Braz), e o comércio teve que se adequar à questão da convenção coletiva baseada nos termos da capital.
            Este ano tivemos o 1º Liquida Itaituba, que apresentou bons resultados para as empresas que aderiram, que arrecadaram mais de R$ 1 milhão, e esperamos que neste final de ano a gente tenha um aquecimento das vendas. Estamos trabalhando para termos mais segurança no comércio, com uma presença mais ostensiva da Polícia Militar. E para 2018 nós esperamos que a nossa economia se aqueça ainda mais, torcendo para que o setor da construção civil ganhe novo fôlego, pois este não tem sido um ano muito bom para o mesmo”.
            Empresário Gilberto Leal, Grupo Leal – “Este foi um ano muito complicado para nossa economia, porque tivemos diversos problemas, mas, apesar de tudo eu acho que tivemos ainda algum crescimento. É verdade que o primeiro semestre não foi bom, vindo a melhorar no segundo semestre, ajudado, também, pela pequena reação da economia brasileira que começa a dar sinais de recuperação.
            No nosso comércio, tanto na venda de produtos diversos, na Casa Leal, quanto nos nossos postos, vamos terminar o ano satisfeitos pelos resultados obtidos a partir do segundo semestre. Não é mais como nos tempos de antes, mas, não tem sido tão ruim assim. E para 2018 temos uma expectativa muito boa, pois, com a melhora da economia do país, acreditamos que seguiremos essa recuperação”.
            Empresária Gorete Santos, Loja do Construtor e Gury Modas – “Para quem trabalha no ramo de materiais para construção como a gente, 2017 não foi um ano bom; e creio que foi assim para todos nós que trabalhamos nesse setor. A crise nacional chegou a Itaituba, e isso foi visível. Tivemos o término das obras dos conjuntos habitacionais bancados pelo governo federal, e mesmo dos particulares, ajudado pela escassez de financiamentos, muito por conta da crise e dos escândalos.
            A construção dos residenciais do programa federal, Minha Casa, Minha Vida alavancava bastante o comércio de Itaituba, e a paralização dos investimentos por parte do governo federal impactou o setor.
            No setor de vestuário, no qual temos uma loja com artigos infanto-juvenis, a crise também foi sentida de maneira muito forte. Esperamos que haja crescimento nas vendas neste final de ano, para ver se a gente se recupera um pouco do baque no resto do ano”.
         
   Ivan Araújo, diretor da TV Tapajoara – “Foi um ano atípico, economicamente; a gente que já está há 25 anos na TV Tapajoara, 12 dos quais na direção, pôde constar isso. Acredito que não tenha sido um bom ano para as empresas de comunicação.
            Não vamos generalizar para não sermos injustos, mas, creio que a maioria do empresariado local, quando se fala em enxugar custos da empresa, a primeira coisa que faz é corta qualquer investimento em publicidade, o que é um erro. Os que fazem isso, consideram propaganda como uma despesa, em vez de um investimento. Logo, as empresas de comunicação, que vivem de anúncios publicitários, sentem em seus caixas.
            A TV Tapajoara vive o momento de implantação do seu sistema digital, o que aumentou os nossos investimentos. Temos esperança de que o nosso comércio reaja em 2018, que a mineração, da qual ainda Itaituba depende muito, se recupere, para o bem de todos. Esse setor da economia foi muito prejudicado este ano, por alguns fatores, como a paralização das atividades da Ourominas por muitas semanas, que causou grande impacto negativo”.
            Antônio Rodrigues Prado (Polia) Drogaria Nádia – “A nossa região ainda pode ser considerada boa, levando-se em conta o que a gente ouve sobre outras cidades. Na minha atividade, farmácia, entraram grandes redes na cidade, e a gente não tem como não sentir. Porém, já estamos no mercado há mais de 30 anos, procurando cativar o cliente, e vamos sobrevivendo.
            Este ano a gente enfrentou problemas com o mercado do ouro, que afetou muito o nosso comércio, principalmente o problema do fechamento por mais de um mês da Ourominas, que mexeu muito com nossa economia”.
            Jorge Luiz, gerente da Caixa – “A economia está estagnada. Nós tivemos problemas de cunho nacional que afetaram a economia local, tivemos problemas regionais com as intervenções do Ibama, principalmente no setor de minérios, mais diretamente o ouro que reflete de forma direta e, nesse caso, negativa na economia local. Tudo isso fez com que a gente tivesse uma parada na economia, que depois dos problemas da economia americana, que fez com que o governo tomasse providências para tentar resguardar a nossa economia, com a diminuição da taxa Selic por volta de 2010 e 2011.
            Na instituição financeira que a gente gerencia, (Caixa), sentimos isso, em 2016 e 2017, com a diminuição da oferta de crédito. Isso também fez com nossa economia desacelerasse. Para 2018 temos boas expectativas. A taxa Selic baixou e isso cria certo otimismo para o ano que vem. A gente observou um aumento da inadimplência dos clientes que já haviam tomado dinheiro emprestado, em relação aos anos anteriores, porém, em patamares razoáveis.
            Quanto a promoção que tem dado descontos de até 90% de descontos para clientes com débitos superiores a 365 dias, o resultado tem sido muito positivo. Tanto, que a promoção continua por todo o mês de dezembro. Até agora, superamos a casa de R$ 1 milhão de reais recuperados apenas no decorrer do mês de novembro, que estamos ainda terminando de fechar”.
            José Antunes, advogado e minerador – “Olha, 2017 não tem sido fácil para ninguém. Como um dos advogados que há mais tempo está em atividade em Itaituba, considero que a demanda pelos serviços advocatícios tem diminuído desde 2015 para cá, impactando no bolso dos profissionais. E não é porque chegaram muitos advogados para cá, não. Em função da crise, nós tivemos uma diminuição de pleitos. Nós tivemos, também, uma maior agilização da justiça, porque, com a informatização quase geral, os processos podem andar muito mais rápido, e isso compensa um pouco a diminuição da demanda, porque gasta-se menos tempo para ter uma solução para as causas. Esse é um impacto positivo”.
            Mineração – “Nós tivemos uma situação muito difícil aqui na região, não pela atividade em si; o mercado foi afetado enormemente por um episódio muito grave ocorrido no Amapá, lá no Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa. Um juiz federal determinou o fechamento da atividade da compra de ouro pela Ourominas em todo o Brasil. Aqui foi um sufoco.
Nunca mais o mercado se recuperou plenamente. Para completar, entraram umas empresas alegando que o ouro é uma mercadoria, e não recolheram o IOF, prejudicando o município e o estado. O ouro é um ativo financeiro que tem que ser comprado e vendido por empresas que tem autorização do Banco Central, no nosso caso, as DTVMs. 70% do IOF voltam para o município e 30% vão para o estado.

Ano passado Itaituba recebeu, só de IOF, R$ 9.832.000,00. Imagine de quanto vai ser a queda este ano. Talvez não chegue à metade. Para completar, mais uma vez, essas fiscalizações feitas por órgãos do governo, principalmente o Ibama, que só sabe reprimir. E para piorar, só a Noruega mandou mais de R$ 1 bilhão para serem investidos pelas ONGs na Amazônia. Sabe quanto veio para cá? Nenhum centavo! Sumiram com o dinheiro. Essas ONGs vivem dando pressão para que haja repressão para que elas justifiquem o dinheiro que recebem de fora”.

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