sexta-feira, julho 20, 2018

Deixar de Votar Não Resolve

A soma de votos brancos, nulos e abstenções foi expressiva na eleição suplementar para o governo do Tocantins, realizada no dia 24 de junho. Ao todo, 51,83% dos eleitores não escolheram nenhum dos candidatos no segundo turno. E se a moda pega?

Os números da eleição tocantinense chamam atenção por sua robustez. E devem acender uma luz de alerta em cada um dos outros estados e em nível nacional, pois, embora talvez os políticos de lá estejam ainda mais em baixa do que os dos demais estados, e do país em geral, a classe política passa por um dos seus piores momentos, enfrentando índices terríveis de popularidade.

É possível que o conjunto formado por votos em branco, votos nulos e abstenção seja bem expressivo na eleição deste ano. O descrédito dos políticos tornou um grande contingente de eleitores apáticos quando o assunto é sair de casa para votar, pois, muita gente que é sondada sobre como vai votar responde, no máximo, quando quer ficar com seu título eleitoral em dia, que votará em branco, ou anulará o voto.

A política não é uma coisa ruim por si só. Os homens de má índole, os mau-caráter, aqueles que passam a vida à espera de uma oportunidade para “se dar bem”, um eufemismo para roubar, mesmo, é que a estragam, conseguindo, inclusive, colocar os bons – porque existe gente boa, gente honesta no meio – em segundo plano.

Não existe vida sem política. Ou alguém acha que é vida o que tem o povo da Coreia do Norte e da Albânia, para citar apenas dois países hermeticamente fechados por seus regimes ditatoriais?

Eu não me contento em ter comida na minha mesa, sem ter liberdade de ir e vir, liberdade de expressão. Já passei por isso. Podem ter certeza que não tenho saudades. Espero que nunca volte o tempo que não havia liberdade nem para se fazer o próprio trabalho, dependendo do tipo que trabalho fosse.

O meu ofício, já no jornalismo, confesso que era muito difícil, porque todo mundo que trabalhava no Rádio, na TV ou em alguma publicação impressa, fazia apenas o trivial, jamais saindo do script para não contrariar os donos do poder na época da ditadura militar. Quem fizesse diferente era considerado subversivo.

Sabe quantos políticos eleitos existem no Brasil? 64.024. Se incluir os vice, passa de 69 mil. Essa incrível soma é maior que a população de 90% das cidades brasileiras. Dos milhares de cargos eletivos no país, aproximadamente 82% são de vereadores. Com 5.570 municípios, o Brasil tem 56.810 vereadores. Somam-se a eles, os deputados estaduais, os deputados federais, os senadores, governadores, os prefeitos e o presidente da República.
O que isso significa? Significa que todos foram eleitos. Ninguém veio de outro planeta, ou caiu de paraquedas em nenhuma câmara municipal, assembleia legislativa, no Congresso, nas prefeituras, nos palácios de governo dos estados ou em Brasília. Todos receberam autorização dos eleitores através do voto para representá-los.

Deixar de votar não é um direito no Brasil, porque o voto é obrigatório em nosso país. E não participar da eleição não é solução para os problemas nacionais. E não se trata aqui apenas da questão da economia ou da corrupção que nos aflige, mas de onde vem tudo isso.

Toda eleição é a mesma história: elegemos muita gente ruim. E aí vem a pergunta: será que a gente não sabe mesmo votar, como disse Pelé nos anos 1970, ou o problema está em nós enquanto sociedade, como diz o professor Leandro Karnal, pois queremos políticos honestos, mas, não praticamos a mesma honestidade exigida deles?

Confesso que cheguei a pensar em não votar este ano, mas, não vou fazer isso pela primeira vez na vida. Participarei da votação, como sempre fiz, na esperança de acertar e contribuir para a construção de um país mais justo, com menos desigualdades, com menos violência, no qual os meus filhos e os meus netos possam viver com dignidade e tranquilidade. Mas, para que isso aconteça, eu, você que lê este artigo e todos os brasileiros precisamos dar o exemplo, o exemplo do bom exercício da cidadania. Sem isso, a sociedade não muda, e vai continuar tudo como dantes.

Jota Parente (artigo publicado na edição 214 do Jornal do Comércio, circulando)

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