De El Tigre
continuamos subindo rumo ao norte, direto para Puerto la Cruz, na
costa do Mar do Caribe. Nosso objetivo era chegar ao Estádio
Olímpico General José Antônio Anzoátegui, local onde a seleção
brasileira disputou a primeira fase da Copa América 2007. A referida
praça esportiva foi construída especialmente para sediar os jogos
daquela competição.
Igreja de San José de Barcelona, a caminho de Caracas |
Entre as cidades
de Barcelona e Puerto la Cruz a gente pegou um tráfego e tanto, o
que atrasou a viagem em vários minutos. Chegamos ao nosso destino
numa segunda-feira, 16 de outubro, para fazer as fotos nas quais
tanto tínhamos falado. Lá, fomos muito bem recebidos por todos os
que trabalhavam no estádio, sobretudo o Ruben Ortega, o
administrador, que fez questão de nos mostrar tudo, pessoalmente.
Fizemos as fotos que desejávamos, inclusive com o Ruben.
Na hora que nos
preparávamos para partir, vimos que havíamos esquecido nossos
capacetes na parte superior do estádio, nas tribunas de honra. O
Ruben pediu para um funcionário ir buscá-los. Alguns minutos depois
ele voltou somente com o capacete do Jadir. O meu não foi
encontrado. Então, subimos para os locais que tínhamos visitado
para tentar encontrar. Mais ou menos vinte minutos depois de procurar
em tudo quanto foi lugar, com várias pessoas procurando, nada. Eu
achava que tinha ficado na cabine de imprensa, mas o Ruben dizia que
não.
Sem encontrar o
capacete, descemos com o Ruben, que estava visivelmente preocupado e
irritado com a situação. Ele disse que nunca havia sumido nada
daquele estádio e que não começaria com o meu capacete. Mandou até
revistar um carro de uma empresa terceirizada que recolhia lixo.
Também não estava lá. Eu pedi ao Ruben que fossemos à cabine de
imprensa, com o que ele concordou. Para alívio de todos, lá estava
o capacete. Agradecemos a partimos.
Caracas, capital
da Venezuela era o nosso próximo destino. Para não fugir à regra,
a rodovia de Puerto la Cruz até Caracas estava em ótimas condições,
como em quase todas as estradas pelas quais pilotamos no país de
Hugo Chaves, com direito a centenas de quilômetros por uma autopista
excelente.
Chegando a Caracas |
O sol se punha
sobre a capital venezuelana quando avistamos os primeiros bairros
assentados nos diversos morros que cercam aquela metrópole, que fica
a 1.000 metros acima do nível do mar, em média. Embora tenha muitos
morros ao seu redor, grande parte do relevo de Caracas é constituída
de terreno plano. É uma cidade muito grande, com um trânsito para
lá de louco.
Quando a gente
leu, e quando algumas pessoas nos disseram que ali estava um dos
piores trânsitos do mundo, imaginamos que enfrentaríamos
dificuldades, mas, não fazíamos ideia do que nos esperava. Só
conduzindo algum tipo de veículo naquela cidade para se sentir na
pele o que é o caos no trânsito. Para piorar, quando chegamos lá,
estava acontecendo uma manifestação contra o presidente Hugo
Chaves.
Fomos direto para
o centro da cidade procurar um hotel, até que chegamos à Plaza
Simon Bolívar, que é enorme. Ao chegarmos àquele logradouro
começamos a perguntar onde havia um hotel que se enquadrasse no
nosso plano de viagem, que não fosse uma espelunca, mas, que não
fosse caro. No caminho, já perto de sete e meia da noite,
desgarramos um do outro.
Quando isso
aconteceu, eu fiquei parado na lateral, com a moto em cima da
calçada, num local que, apesar de passar carro toda hora e aos
montes, tinha pouco tráfego de pessoas. Ou seja, um lugar perigoso,
onde, com medo, esperei que meu companheiro de viagem Jadir Fank
aparecesse. Ele tinha parado poucos metros adiante, só que do outro
lado, numa rua muito larga, com uma iluminação que não era das
melhores. Mais ou menos duas horas depois ele resolveu sair para me
procurar, e ao dar a volta encontrou-me. Pertinho dali encontramos o
Hotel Persa, onde passamos a noite.
Nossa programação
da manhã seguinte, 17 de outubro, constaria de uma visita à Colônia
Tovar, uma bucólica comunidade alemã, distante 63 quilômetros de
Caracas, que fica a mais de dois mil metros de altitude sobre o nível
do mar, lugar muito visitado por turistas. Mas, nossos planos foram
por água abaixo porque nos perdemos um do outro, de novo e dessa vez
por cinco horas, de oito da manhã até uma da tarde do dia 17 de
outubro.
Depois de rodar um
pouco sem conseguir encontrar o Jadir, resolvi perguntar qual era o
caminho para a Colônia Tovar. Comecei a subir, subir, até que
cheguei à frente de uma universidade, onde fiquei parado na
esperança de que meu amigo aparecesse. Antes disso, perguntei a um
guarda de trânsito se ele não tinha visto alguém, com as
características do Jadir passar. Ele disse que não.
Perdi as
esperanças depois das onze horas da manhã, momento em que decidi
que era hora de descer a serra com destino ao centro de Caracas, onde
tentaria encontrar o hotel onde havíamos pernoitado, sem ter comigo
o endereço do mesmo. A única coisa que sabia era que o mesmo ficava
perto da Plaza Bolívar, e o nome do mesmo eu lembrava. Após chegar
à praça me informei e encontrei o hotel sem muita demora. Ali
estavam todas as minhas esperanças de nos reencontrarmos.
Enquanto isso, o
Jadir rodou de um lado para outro tentando me localizar. Chegou a
correr riscos, pois ficou parado em um local complicado. Quando ele
estava lá, parou um carro da polícia querendo saber o que estava
acontecendo. O Jadir falou para um policial que tentava localizar seu
companheiro de viagem. Incontinente, o guarda pediu para que ele o
acompanhasse, pois aquele era um lugar extremamente perigoso, onde
ocorriam assaltos e mortes com frequência. Disse que o Jadir correu
sério risco de ter, no mínimo, sua motocicleta roubada, e sairia no
lucro se fosse só isso.
Não foram todos
os policiais com os quais Jadir conversou que foram atenciosos, mas
alguns se esforçaram para ajudá-lo. Houve um que mandou uma viatura
até o Hotel Persa para ver se eu estava lá. Infelizmente o policial
incumbido da missão foi para outro hotel.
Sem muito que
fazer diante daquela situação, Jadir resolveu que estava na hora de
ir até o Hotel Persa, última esperança, também para ele, da gente
se reencontrar. E para nossa enorme felicidade, perto de meio-dia e
meia ele chegou. Trocamos um longo e apertado abraço, pois havia de
fato o que comemorar, conquanto ainda estávamos muito longe de nosso
destino final, Itaituba.
Tanto eu quanto o
Jadir, quando estávamos perdidos, chegamos a pensar em procurar a
embaixada do Brasil para ver o que podia ser feito. Minha situação
era a mais complicada, porque o Jadir estava com todos os meus
documentos, pois a gente resolveu guardar tudo num lugar só, para
que ficassem bem protegidos por causa da chuva. Menos mal que a gente
tenha se reencontrado. Quase uma tarde nos mandamos de Caracas, não
sem antes enfrentar o caótico trânsito daquela cidade.
Como disse meu
amigo Jadir, em Caracas nós descobrimos para que serve buzina de
carro. É para venezuelano buzinar até mais tarde. O que se buzina
na capital da Venezuela, não é brincadeira. Porém, com todas as
suas loucuras, os motoristas caraquenhos respeitam motociclistas ao
ponto de facilitarem a movimentação dos mesmos no meio daquele mar
de carros. Nós experimentamos essa consideração deles. Em nenhum
momento nos sentimos ameaçados por veículos maiores.
Precisávamos
trocar o óleo das motos e apertar as correntes, mas decidimos que
isso seria feito na cidade de Maracay, tendo feito o percurso de 98
quilômetros que separa aquela cidade de Caracas em pouco mais de uma
hora, porque o tráfego era intenso na autopista. Parecia que
estávamos pilotando dentro de uma grande cidade, tal a intensidade
do tráfego. Partimos de Maracay, e às seis da tarde chegamos a
Morón, cidade balneária da costa do Caribe, onde decidimos passar a
noite.
Jota Parente
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