quarta-feira, agosto 01, 2018

A Expedição América do Sul, Tintim por Tintim - Parte 3


De El Tigre continuamos subindo rumo ao norte, direto para Puerto la Cruz, na costa do Mar do Caribe. Nosso objetivo era chegar ao Estádio Olímpico General José Antônio Anzoátegui, local onde a seleção brasileira disputou a primeira fase da Copa América 2007. A referida praça esportiva foi construída especialmente para sediar os jogos daquela competição.
Igreja de San José de Barcelona, a caminho de Caracas

Entre as cidades de Barcelona e Puerto la Cruz a gente pegou um tráfego e tanto, o que atrasou a viagem em vários minutos. Chegamos ao nosso destino numa segunda-feira, 16 de outubro, para fazer as fotos nas quais tanto tínhamos falado. Lá, fomos muito bem recebidos por todos os que trabalhavam no estádio, sobretudo o Ruben Ortega, o administrador, que fez questão de nos mostrar tudo, pessoalmente. Fizemos as fotos que desejávamos, inclusive com o Ruben.

Na hora que nos preparávamos para partir, vimos que havíamos esquecido nossos capacetes na parte superior do estádio, nas tribunas de honra. O Ruben pediu para um funcionário ir buscá-los. Alguns minutos depois ele voltou somente com o capacete do Jadir. O meu não foi encontrado. Então, subimos para os locais que tínhamos visitado para tentar encontrar. Mais ou menos vinte minutos depois de procurar em tudo quanto foi lugar, com várias pessoas procurando, nada. Eu achava que tinha ficado na cabine de imprensa, mas o Ruben dizia que não.

Sem encontrar o capacete, descemos com o Ruben, que estava visivelmente preocupado e irritado com a situação. Ele disse que nunca havia sumido nada daquele estádio e que não começaria com o meu capacete. Mandou até revistar um carro de uma empresa terceirizada que recolhia lixo. Também não estava lá. Eu pedi ao Ruben que fossemos à cabine de imprensa, com o que ele concordou. Para alívio de todos, lá estava o capacete. Agradecemos a partimos.

Caracas, capital da Venezuela era o nosso próximo destino. Para não fugir à regra, a rodovia de Puerto la Cruz até Caracas estava em ótimas condições, como em quase todas as estradas pelas quais pilotamos no país de Hugo Chaves, com direito a centenas de quilômetros por uma autopista excelente.

Chegando a Caracas
O sol se punha sobre a capital venezuelana quando avistamos os primeiros bairros assentados nos diversos morros que cercam aquela metrópole, que fica a 1.000 metros acima do nível do mar, em média. Embora tenha muitos morros ao seu redor, grande parte do relevo de Caracas é constituída de terreno plano. É uma cidade muito grande, com um trânsito para lá de louco.

Quando a gente leu, e quando algumas pessoas nos disseram que ali estava um dos piores trânsitos do mundo, imaginamos que enfrentaríamos dificuldades, mas, não fazíamos ideia do que nos esperava. Só conduzindo algum tipo de veículo naquela cidade para se sentir na pele o que é o caos no trânsito. Para piorar, quando chegamos lá, estava acontecendo uma manifestação contra o presidente Hugo Chaves.

Fomos direto para o centro da cidade procurar um hotel, até que chegamos à Plaza Simon Bolívar, que é enorme. Ao chegarmos àquele logradouro começamos a perguntar onde havia um hotel que se enquadrasse no nosso plano de viagem, que não fosse uma espelunca, mas, que não fosse caro. No caminho, já perto de sete e meia da noite, desgarramos um do outro.

Quando isso aconteceu, eu fiquei parado na lateral, com a moto em cima da calçada, num local que, apesar de passar carro toda hora e aos montes, tinha pouco tráfego de pessoas. Ou seja, um lugar perigoso, onde, com medo, esperei que meu companheiro de viagem Jadir Fank aparecesse. Ele tinha parado poucos metros adiante, só que do outro lado, numa rua muito larga, com uma iluminação que não era das melhores. Mais ou menos duas horas depois ele resolveu sair para me procurar, e ao dar a volta encontrou-me. Pertinho dali encontramos o Hotel Persa, onde passamos a noite.

Nossa programação da manhã seguinte, 17 de outubro, constaria de uma visita à Colônia Tovar, uma bucólica comunidade alemã, distante 63 quilômetros de Caracas, que fica a mais de dois mil metros de altitude sobre o nível do mar, lugar muito visitado por turistas. Mas, nossos planos foram por água abaixo porque nos perdemos um do outro, de novo e dessa vez por cinco horas, de oito da manhã até uma da tarde do dia 17 de outubro.
Depois de rodar um pouco sem conseguir encontrar o Jadir, resolvi perguntar qual era o caminho para a Colônia Tovar. Comecei a subir, subir, até que cheguei à frente de uma universidade, onde fiquei parado na esperança de que meu amigo aparecesse. Antes disso, perguntei a um guarda de trânsito se ele não tinha visto alguém, com as características do Jadir passar. Ele disse que não.

Perdi as esperanças depois das onze horas da manhã, momento em que decidi que era hora de descer a serra com destino ao centro de Caracas, onde tentaria encontrar o hotel onde havíamos pernoitado, sem ter comigo o endereço do mesmo. A única coisa que sabia era que o mesmo ficava perto da Plaza Bolívar, e o nome do mesmo eu lembrava. Após chegar à praça me informei e encontrei o hotel sem muita demora. Ali estavam todas as minhas esperanças de nos reencontrarmos.

Enquanto isso, o Jadir rodou de um lado para outro tentando me localizar. Chegou a correr riscos, pois ficou parado em um local complicado. Quando ele estava lá, parou um carro da polícia querendo saber o que estava acontecendo. O Jadir falou para um policial que tentava localizar seu companheiro de viagem. Incontinente, o guarda pediu para que ele o acompanhasse, pois aquele era um lugar extremamente perigoso, onde ocorriam assaltos e mortes com frequência. Disse que o Jadir correu sério risco de ter, no mínimo, sua motocicleta roubada, e sairia no lucro se fosse só isso.

Não foram todos os policiais com os quais Jadir conversou que foram atenciosos, mas alguns se esforçaram para ajudá-lo. Houve um que mandou uma viatura até o Hotel Persa para ver se eu estava lá. Infelizmente o policial incumbido da missão foi para outro hotel.
Sem muito que fazer diante daquela situação, Jadir resolveu que estava na hora de ir até o Hotel Persa, última esperança, também para ele, da gente se reencontrar. E para nossa enorme felicidade, perto de meio-dia e meia ele chegou. Trocamos um longo e apertado abraço, pois havia de fato o que comemorar, conquanto ainda estávamos muito longe de nosso destino final, Itaituba.

Tanto eu quanto o Jadir, quando estávamos perdidos, chegamos a pensar em procurar a embaixada do Brasil para ver o que podia ser feito. Minha situação era a mais complicada, porque o Jadir estava com todos os meus documentos, pois a gente resolveu guardar tudo num lugar só, para que ficassem bem protegidos por causa da chuva. Menos mal que a gente tenha se reencontrado. Quase uma tarde nos mandamos de Caracas, não sem antes enfrentar o caótico trânsito daquela cidade.

Como disse meu amigo Jadir, em Caracas nós descobrimos para que serve buzina de carro. É para venezuelano buzinar até mais tarde. O que se buzina na capital da Venezuela, não é brincadeira. Porém, com todas as suas loucuras, os motoristas caraquenhos respeitam motociclistas ao ponto de facilitarem a movimentação dos mesmos no meio daquele mar de carros. Nós experimentamos essa consideração deles. Em nenhum momento nos sentimos ameaçados por veículos maiores.

Precisávamos trocar o óleo das motos e apertar as correntes, mas decidimos que isso seria feito na cidade de Maracay, tendo feito o percurso de 98 quilômetros que separa aquela cidade de Caracas em pouco mais de uma hora, porque o tráfego era intenso na autopista. Parecia que estávamos pilotando dentro de uma grande cidade, tal a intensidade do tráfego. Partimos de Maracay, e às seis da tarde chegamos a Morón, cidade balneária da costa do Caribe, onde decidimos passar a noite.

Jota Parente

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