O que aconteceu hoje na Câmara Municipal de Itaituba não foi um caso isolado que possa ser colocado no rol dos acontecimentos inusitados do legislativo. De vez em quando se tem notícia de episódios nos quais custa acreditar.
O atual presidente, João Bastos Rodrigues, que cumpre seu quarto mandato no comando da Câmara, resistiu até onde deu, mas, antes que a corda arrebentasse, ele teve bom senso e dignidade para evitar que fosse necessário a Justiça intervir. E só interviria se
Cebola insistisse na teimosia que provocou toda a balbúrdia.
A situação só não foi pior porque eu sei que todos os vereadores tem respeito pela figura paternal do presidente e pelos seus setenta anos de idade. Do contrário, o pau teria quebrado com muito mais intensidade.
Sentado teimosamente na cadeira de presidente, depois de encerrar a sessão, fato que gerou toda a celeuma, Cebola estava caminhando para deixa a presidência pela porta dos fundos, caso fosse necessário a Justiça intervir. Felizmente, ele se tocou e vai poder sair pela porta da frente.
Terminada a balbúrdia depois que Cebola retirou sua chapa da disputa, e realizada a votação da chapa única encabeçada pelo vereador Manoel Dentista e contados os votos, porque embora sendo somente uma chapa, o Regimento Interno diz que tem que acontecer a votação, os ânimos finalmente serenaram.
Peninha foi à tribuna para dizer que assim é o Parlamento, lugar onde discussões acirradas ocorrem, mas, depois fica tudo bem. Será?
Ele disse que não havia vencedores, nem derrotados. Será?
Que o Parlamento é lugar de discussões, muitas vezes, com volume exagerado, e até com parlamentos indo às vias de fato, todos sabem. Porém, quanto a não haver nem vencedores nem vencidos, essa afirmação do vereador do MDB não se sustenta.
Houve vencedores e houve derrotados, e isso ficou mais do que evidente. Manoel Dentista e os que compuseram com ele, incluindo Peninha, venceram uma batalha que não foi nada fácil.
Ganhou o empresário Ivan D’Almeida, candidato derrotado pelo prefeito Valmir Clímaco, na eleição de 2016, pois ele participou de todo o processo de criação desse grupo de dez que resolveu peitar o presidente e o prefeito. Ivan saiu fortalecido dessa peleja. E houve ainda mais dois empresários, que não confirmam para a imprensa que ajudaram, que também foram decisivos. Eles tem diferenças com Valmir.
Perdeu Cebola, que desde o primeiro semestre estava tranquilo quanto à releição para mais um mandato. Seu principal trunfo era o apoio do prefeito Valmir Clímaco, que até então tinha quinze votos na Câmara. Talvez o excesso de confiança tenha traído o presidente e o prefeito.
Perdeu o prefeito Valmir Climaco, duas vezes. A primeira, quando não conseguiu demover alguns vereadores fechados com Manoel Dentista, que se mantiveram firmes, e a segunda, quando seu adversário Ivan D’Almeida, sem mandato, deu as cartas numa eleição para a Mesa Diretora da Câmara Municipal.
Poucas vezes um prefeito deixa de ter um aliado seu na presidência da Câmara, no segundo período legislativo de uma legislatura.
O que virá depois de todo esse rebuliço? Isso só o tempo dirá. Quanto tempo?
Provavelmente, em curto tempo as coisas se clarearão.
Dez vereadores saíram da Câmara unidos no episódio de hoje. É um bloco forte. Por enquanto, os que foram consultados afirmaram que não tem intenção de fazer oposição ao prefeito, mas, até quando? O melhor que se tem a fazer é esperar.
No primeiro mandato de Valmir eu escrevi um artigo com o título: Valmir comunica-se mal com seus governados. Agora, neste artigo, posso dizer que o prefeito comunica-se mal com os vereadores.
Além de
quererem o poder, os dez vereadores estavam esperando uma
oportunidade para mandar um recado para o prefeito. A oportunidade
surgiu, e o recado foi mandado.
Sou o
mais assíduo jornalista na cobertura da Câmara Municipal, há anos.
Sei bem do que estou falando, porque conheço os meandros do
legislativo de Itaituba. Não ouvi falar por aí que existe esse
clima. Eu o detectei nos meus contatos com os vereadores.
Agora,
passada a tempestade, que não foi em copo d’água, o prefeito vai
precisar respirar fundo, vai ter que engolir alguns sapos, porque
ainda faltam dois anos e três meses de mandato, e a derradeira coisa
de que ele precisa é de uma relação tumultuada com o
Poder
Legislativo. A veia política de Valmir deve ser exercida para evitar
que as coisas piorem e se forme um grupo fechado de oposição, que
não vai fazer nada bem para o restante de sua gestão.
Entre
mortos e feridos escaparam todos, mas, houve alguns que saíram
bastante machucados dessa disputa. O que a população espera é que
todos, prefeito e vereadores, lembrem-se que foram eleitos para
defender os interesses do município. Que as vaidades pessoais não
superem o senso que devem ter de que são todos homens públicos, que
foram colocados onde estão, pelo voto, e o mesmo voto que bota é o
que tira.
O que
interessa para Itaituba é que os vencedores não tripudiem os
derrotados. Nada de, quanto pior melhor, pois já temos problemas de
sobra para ficarmos assistindo a um confronto em que se digladiem os
dois lados. Aí, sim, será o caos e todos perderemos, principalmente
a população. E Executivo e Legislativo existem para resolver os
problemas do município, não, para criar.
Jota
Parente
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