domingo, outubro 21, 2018

A Expedição Tintin por Tintm, Parte 8 - Saindo da Colômbia

Iglesia de la Virgen

Este anos está completando dez anos da primeira viagem longa de moto que fiz. Foi a Expedição América do Sul, de Moto, que realizou juntamente com o amigo Jadir, que começou no dia 7 de outubro de 2008. E o blog continua relembrando aquela aventura para marcar a data.
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Até chegarmos a Manizales, capital do departamento de Caldas, descemos bastante. O principal pilar da economia na região é o café. A cidade tem um sem números de cafés para deleite dos visitantes e dos nativos.

A caminho da borracharia
Tinha anoitecido quando chegamos àquela cidade charmosa, incrustada no meio da Cordilheira dos Andes, a qual tem uma população de mais de 400 mil habitantes, próximo do famoso Nevado Ruiz. A vista para quem chega de noite é maravilhosa. Veem-se as casas iluminadas, como se estivessem flutuando no ar, pois a cidade é cercada de montes, onde as vivendas são construídas. O frio era suportável para quem já tinha enfrentado temperaturas muito mais baixas. Fazia 12 graus. Nossa estada lá foi somente durante o pernoite daquele dia 24 de outubro. Manizales é, também, chamada a Capital do Café, onde acontece um festival anual, no mês de janeiro e a cidade do Once Caldas, a equipe que ganhou a Copa Libertadores da América de 2004.

Ponte internacional na fronteira da Colômbia com o Equador
Às 6:00 do dia 25 de outubro pegamos a estrada rumo a Cali, fundada em 1936, cidade grande, capital do departamento de Valle do Cauca, a terceira mais povoada do país, com 2.128.487 pelo censo de 2005, elevada 1.000 metros acima do nível do mar. Já fica bem perto da fronteira Sul da Colômbia, há pouco mais de 300 km do Equador. Lá a moto do Jadir teve que ser avaliada, pois o disco de embreagem colocado em Doradal não era original. O mecânico da Super Calle disse que era japonês e dos bons e que poderíamos seguir viagem sem susto. Aproveitei um pouco das quatro horas que ficamos parados para trocar o óleo do motor e apertar a corrente da da minha moto.

Depois que saímos de Cali, até a próxima parada para pernoitar, enfrentamos mais algumas centenas de curvas, ora descendo, ora subindo a cordilheira. Às 18:30 entramos em El Bordo, bem ao Sul da Colômbia, cuja rua de entrada lembra muito a via principal das vilas de garimpo nos áureos tempos. A primeira lembrança que nos veio à mente foi Crepurizão. Fomos a um hotel com boa aparência, mas não ficamos porque o preço era superior ao nosso orçamento. Encontramos um local onde resolvermos pernoitar, que foi um dos piores onde nos hospedamos. Foi-nos dado um ventilador, que fazia muito mais barulho do que um motor de popa.

Eu e o Jadir puxamos conversa com o Nabor Quinteros, o dono da pocilga, que nos disse que aquela tinha sido uma área onde se cultivou muita coca durante muito tempo, a qual era controlada pelo também famoso Cartel de Cali, até que o governo de Oscar Uribe, o atual presidente, passou a jogar duro contra traficantes e plantadores de coca, que produziam a matéria prima da droga. As plantações foram dizimadas pelo governo, com venenos pesados que mataram tudo que havia na terra onde foi jogado. Nabor afirmou que a situação da economia era muito boa antes, porque o pessoal tinha dinheiro para gastar, ganho com a venda das folhas de coca. Agora começavam a aparecer os resultados dos investimentos do governo para que agricultores plantassem milho, trigo, banana e cacau. Mas, antes disso a situação tinha ficado preta por lá, pois não circulava dinheiro.

O dinheiro tinha desaparecido, porque as pessoas do campo, principalmente, não produziam muita coisa. Elas se acostumaram a cuidar somente das plantações de coca. Voltar para a agricultura estava sendo muito difícil. Perguntei se ele também era cultivador de coca. Ele ficou meio desconfiado, gaguejou, mas respondeu que não. Falou que tinha umas terras naquela região, mas que não mexia com isso. Tanto eu, quanto o Jadir saímos convencidos de que o Nabor tinha sido, sim, cultivador de coca. De quebra, o Nabor nos informou que tinha trabalhado na pintura da casa de Jose Santacruz-Londono, um mega traficante de Cali, o qual foi morto pelo Coronel Danilo Gonzales em 1996.

Deixamos El Bordo às 7:15. A viagem fluía sem surpresa até que às 8:20, eu, que seguia atrás, vi o Jadir ter muita dificuldade para controlar sua moto. É que havia um prego no meio do caminho, o qual furou o pneu traseiro. Era um lugar deserto e a Rodovia Panamericana não estava bem conservada naquele trecho. Onde será que a gente poderia encontrar uma borracharia naquele meio de mundo?

Não dava para ficar esperando por socorro. O jeito era tentar encontrar algum lugar onde o pneu pudesse ser consertado. Para nossa sorte havia dois policias de carretera não muito longe, os quais nos informaram que distante dali 18 quilômetros havia uma borracharia. Eu me mandei para lá. Tratava-se de uma pequena vila, que tinha duas borracharias e uma casa de peças para motos. Peguei o borracheiro e fui para onde estava a moto do Jadir. O pneu foi retirado e voltamos para a vila para consertar. Só que a câmara não prestava, pois o pregou fez tantos buracos que não havia como consertar. O cúmulo da sorte foi haver uma câmara na lojinha da vila, que servia.

Voltamos para colocar o pneu de volta e seguir viagem. Isso tudo nos consumiu umas três horas.

Passamos ao lado da cidade de Popayan, capital de Cauca (não confundir com Valle do Cauca), com a intenção de chegar a Ipiales, na fronteira com o Equador. Até Pasto, capital de Nariño, seguimos sem chuva. Paramos para tentar tirar fotos do estádio onde haveria um jogo do campeonato colombiano, mas, o pessoal que estava de serviço não nos autorizou. Então o jeito foi seguir em frente. Poucos quilômetros depois de Pasto a chuva nos pegou e a moto do Jadir começou a falhar bastante. Ele já tinha esgotado seu estoque de paciência com a máquina. De tão aborrecido que estava e sem saber mais o que fazer, parou a Bros, tirou a caixinha de ferramentas e tentou abrir o carburador, sem jamais ter feito nada parecido antes.

Felizmente, meu amigo não conseguiu abrir, o que só o irritou mais. Mexeu, também, na aceleração e no ajuste do filtro de ar. Depois de colocar a mangueira no lugar ele começou a dar umas bicudas no motor da moto, praguejando. Eu a tudo assisti impávido, pois, mesmo com muita vontade de rir, sabia que aquele não era o momento para gracejos. O certo é que, não sei se pelas mexidas ou pelos chutes, a moto melhorou um pouquinho e, mesmo com a Honda Bros falhando bastante, com dificuldade, conseguimos chegar a uma vila chamada Pedregal, com seus 1.500 habitantes.

Chovia e fazia um frio muito forte. Eu tinha perdido minha capa de chuva. Por não ter sido bem amarrada no bagageiro, ela caiu. Não havia condições de continuar a viagem naquele dia. Dormimos lá, no Hotel Esmeralda, um dos lugares legais onde a gente ficou, apesar do dono com cara de poucos amigos, um baixinho invocado. Talvez fosse por ciúmes da mulher, bem mais nova do que ele e bem bonita. O problema lá foi na hora de tomar banho. A água quente prometida não saiu do chuveiro. O que saiu foi uma água como se tivesse sido tirada do congelador.

Ipiales era nossa próxima meta, distante 41 km de onde estávamos. Lá a moto do Jadir seria novamente analisada numa concessionária. Saímos às 7:15 e às 8:20 demos entrada na Nariño Motos. Para nosso azar, no dia anterior tinha acontecido um grande evento de Motocross, para onde tinha ido todo mundo que mexia com moto. Nenhum mecânico foi trabalhar pela manhã, pois estavam todos de ressaca. Na Nariño Motos fomos informados que um mecânico de Pasto estava sendo aguardado. Foi um alívio quando por volta de 10:30 ele chegou e topou mexer na moto do Jadir. Mexeu pra lá, mexeu pra cá e conseguiu dar uma boa melhorada.

Antes de saber do resultado o Jadir chegou a comentar comigo que a viagem terminaria ali para ele, caso a moto não melhorasse. Iria ver como faria para mandar a mesma de volta para o Brasil, enquanto voltaria de avião, porque achava que estava atrapalhando-me. 

Obviamente eu disse que isso não aconteceria, pois se a gente tinha começado aquela aventura juntos em Itaituba, juntos teríamos que terminá-la, fosse de que jeito fosse.

Enquanto a Bros era consertada eu fui até o Santuario de la Virgen, uma igreja belíssima, construída em estilo gótico. Não é moleza chegar até o local e pior é voltar, pois é preciso vencer os 265 degraus e mais uns 20 minutos de caminhada em terreno inclinado a 2.600 metros acima do nível do mar. Mas, vale a pena quando se chega ao local. Fiz belas fotos. O Jadir não pôde acompanhar-me porque estava de olho na moto, a qual ficou pronta por volta de 14:00. Eu comprei uma nova capa de chuva e às 14:20 nos mandamos para a aduana, para tratar de sair da Colômbia, já com muitas saudades daquele país de povo acolhedor, que nos tratou sempre muito bem. Dentro de alguns minutos entraríamos no Equador. Mas, isso será contado no próximo capítulo.



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