quarta-feira, outubro 31, 2018

*Minha parte nessa história de 30 anos

Em fevereiro de 1990 eu deixei a direção da Rádio Itaituba e retornei para Santarém depois que a convivência diária com o dono da emissora, Seu Mané, ficou muito desgastada e o bom senso aconselhava que eu deveria bater em retirada. Dois meses depois, o amigo Wilmar Freire comunicou-me que o grupo político comandado por Wirland Freire estava discutindo lançar um candidato a deputado estadual, e seu nome caíra nas graças de muita gente.

Eu disse para o Wilmar, que se ele saísse de fato candidato, e ele quisesse, eu viria para ajudá-lo na campanha. Ele não acreditou, e eu tive que reiterar minha disposição. “Então está, se meu nome for aceito pelo partido, eu lhe aviso antes da convenção para começarmos o trabalho”, afirmou o jovem empresário. Como Wirland jamais teria um pedido negado por Jader Barbalho, que comandava o PMDB, era questão de tempo. E como era de se esperar, Jader ungiu o nome de Wilmar, que foi para a convenção somente para cumprir o rito.

Ao chegar a Itaituba, nas nossas longas conversas, surgiu a ideia de comprar uma emissora de televisão, e a TV Tapajoara, que há dois anos havia sido implantada pelo ex-prefeito Sílvio Macedo, e por sua esposa, Marilu Macedo, prima legítima de Wilmar.

As conversações foram iniciadas e logo caminharam para o que parecia ser um desfecho favorável e de interesse dos dois lados. Porém, depois de todos os pontos acertados, incluindo o mais crucial, que dizia respeito ao montante a ser pago, exatos doze quilos de ouro, o negócio emperrou, porque Marilu não concordou, e sem seu apoio não haveria negócio algum. Bateu na trave.

Wilmar estava determinado a comprar um canal de TV naquele ano de 1990 para lhe dar suporte político. Então, partimos para conversar com o empresário Aldo Inácio (Seu Mané), que demonstrava interesse em vender a retransmissora do Rede Bandeirantes, que na época era conhecida por TV Itaituba. E por cinco quilos de ouro foi fechada a compra. E eu comecei a tratar da mudança, pois funcionava no antigo Chapéu do Povo, e o mais correto seria levar para um endereço próprio.

Autorizado pelo Wilmar, saí a procurar um local, até encontrar uma casa na 17ª Rua, no bairro Bela Vista, onde funciona até hoje. Mas, antes de fazer a mudança para o novo local, foi preciso proceder uma série de adequações no prédio para que o mesmo tivesse condições de receber todos os equipamentos e abrigar todos os setores funcionários. E lá ficamos até mais ou menos o mês de março ou abril de 1993. E aqui começa outra história. Ou seria, o segundo capítulo da compra da retransmissora do SBT em Itaituba.

Puxando pela memória de Socorro Oliveira (Socorrinho), pois de alguns detalhes fundamentais para que a história possa registrada corretamente eu não lembrava, vamos lembrar como a Tapajoara foi parar nas mãos de Wirland, o empresário, que se preparava para disputar sua primeira eleição para prefeito. Mas, houve coisas antes disso.

Socorrinho lembrou-me, que o então prefeito Benigno Olasar Reges havia comprado 50% das cotas da TV Tapajoara, passando no ano de 1991 todas as cotas para ela. Em 1992, já pré-candidato a prefeito, Wirland Freire pediu para ela intermediar a compra das cotas da emissora pertencentes a Sílvio Macedo, o que foi feito.

Como a Rede SBT já tinha um nicho de audiência e do mercado publicitário bem maior que o da Rede Bandeirantes, eu aceitei o convite para dirigir a emissora, para a qual me acompanharam alguns colegas.

Confesso que fazer TV nunca foi minha maior paixão na comunicação, e até costumo dizer que a televisão foi um acidente de percurso na minha vida profissional. E nessa transição eu fiquei por nove anos e meio, só na Tapajoara, muito mais tempo do que eu poderia imaginar. O Rádio em primeiro lugar e a edição de jornais, em segundo, sempre foram as minhas predileções.

O competentíssimo atual diretor da TV Tapajoara, Ivan Araújo, foi junto comigo, ajudando-me a montar a primeira equipe. Isso aconteceu por volta de abril ou maio de 1993. E tão logo chegamos na nova emissora, já começaram a ser traçados os planos para uma programação local de acordo com o nosso entendimento, principalmente do Ivan, já que sabia muito de televisão, enquanto eu ia aprendendo alguma coisa convivendo com ele. Depois foram chegando Fleury, e os demais. E foi naquele momento que nasceu o Focalizando, inspirado no Aqui, Agora, que a rede SBT apresentava, com as adaptações para a realidade local.

Fiquei até o segundo semestre de 2002, mas, àquela altura, Ivan Araújo e Marlúcio Couto já estavam no comando da emissora, uma vez que eu ficava a maior parte do tempo ausente, por causa da enfermidade de minha primeira esposa. Eliêde, que por todo o tempo em que fiquei na TV Tapajoara, foi a diretora comercial.

Hoje, a TV Tapajoara opera com sinal digital, um projeto necessário por exigência legal, mas, ousado, bem planejado e bancado com recursos próprios, contando com uma direção competente, que recebeu carta branca do empresário Wilmar Freire, em cujas mãos foi parar a TV Tapajoara, depois da morte de seu pai. Parece que o destino armou tudo para que a emissora viesse a ser dele um dia.

Mesmo de fora, continuo sentindo-me parte desse grande e vitorioso time, do qual tenho merecido, sempre, o respeito, do diretor-presidente, meu irmão Wilmar Freire, ao mais jovem dos colaboradores. Por isso, essa homenagem é feita com a emoção de quem contempla com admiração a continuação dessa obra, que como diz o Ivan, já não é mais somente do Wilmar, mas, da comunidade itaitubense, por ter se transformado em um patrimônio deste município.

A TV Tapajoara é um caso à parte no mundo da televisão brasileira, pois é das poucas emissoras que podem se vangloriar de ter, há vinte e cinco anos, um horário em que deixa fácil a Rede Globo em segundo lugar, quando o telejornal Focalizando está no ar. É a emissora que tem a cara de Itaituba, e sobre isso não há discussão, posto que nenhuma 
outra estação de televisão local conseguiu identificar-se de forma tão marcante com quem a assiste.

Nesta edição 243 do Jornal do Comércio, cuja maior parte do espaço nós destinamos para falar dos 30 anos da TV Tapajoara, eu pedi para algumas pessoas que tem ligação com a emissora escreverem algo sobre a história, se possível, alguns causos verídicos sobre essa rica história. E eu também tenho algumas experiências vividas, uma das quais deixo registrada aqui.

O ano era 1996, último ano de governo do primeiro mandato de Wirland Freire, que um belo dia recebeu a engenheira agrônoma Inês Guahyba no seu gabinete para tratar de um assunto que eu não lembro qual era. Àquela altura especulava-se nos bastidores da política itaitubense, que ela poderia apoiar Djalma Freire na eleição daquele ano. Porém, o que era para ser uma conversa amigável, terminou de forma inamistosa. E Wirland, possesso da vida, mandou chamar a reportagem da sua emissora, a TV Tapajoara, para conceder uma entrevista que daria muito que falar e dissabores políticos.

Mauro Torres era o repórter. Chegou e fez apenas uma pergunta, baseado na pré-entrevista, porque Wirland não estava para muita conversa. Tanto, que para fechar sua declaração, usou adjetivos de alto potencial ofensivo contra Inês.

Ninguém, fosse do grupo político de WF, ou da TV, gostaria de ver aquela entrevista sendo exibida, porque sabia do potencial destrutivo que ela teria contra o próprio grupo político, que se preparava para enfrentar uma aguerrida eleição.

O telejornal no qual a fala do prefeito deveria ser exibida ia ao ar às 17:30, pois o fato ocorreu depois do Focalizando. A declaração tinha sido dada depois do meio-dia, tempo suficiente para os bombeiros entrarem em ação para tentar apagar o potencial incêndio. Eu fiz de tudo para tentar demovê-lo da ideia, mas, não consegui.

A última tentativa eu fiz por volta das 16:30, uma hora antes do telejornal ir ao ar. Na casa do prefeito, na Estrada do BIS, ponderei que aquilo seria prejudicial, e perguntei se ele queria mesmo que fosse exibido, na esperança de que ele tivesse esfriado a cabeça nas quatro horas que separavam o momento da declaração e aquele em que eu tentei pela última vez.

“Olha, eu vou lá no centro resolver um negócio e retorno daqui a pouco para ver o jornal. Se não colocarem a notícia, eu vou sair daqui direto para o posto para pegar gasolina e tocar fogo na TV”, disse-me WF. E conhecendo tão bem coma o conhecia, não tive nenhuma dúvida de que aquilo era um comunicado, não, uma ameaça qualquer. De fato, zangado como estava, Wirland tocaria fogo.

Sem nada mais poder fazer, dirigi-me para a TV Tapajoara e disse aos meus colegas de trabalho, que a matéria iria ao ar, sim, sob pena de estar todo mundo desempregado no dia seguinte, pois o dono tocaria fogo na sua estação de TV, caso não fosse exigida. Claro que foi ao ar, e provocou o estrago político que se previu dentro do próprio grupo do então prefeito.

Jota Parente

*Publicado na edição 243 do Jornal do Comércio, que está circulando a partir de hoje.

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