Em fevereiro de 1990 eu deixei a
direção da Rádio Itaituba e retornei para Santarém depois que a
convivência diária com o dono da emissora, Seu Mané, ficou muito
desgastada e o bom senso aconselhava que eu deveria bater em
retirada. Dois meses depois, o amigo Wilmar Freire comunicou-me que o
grupo político comandado por Wirland Freire estava discutindo lançar
um candidato a deputado estadual, e seu nome caíra nas graças de
muita gente.
Eu disse para o Wilmar, que se ele
saísse de fato candidato, e ele quisesse, eu viria para ajudá-lo na
campanha. Ele não acreditou, e eu tive que reiterar minha
disposição. “Então está, se meu nome for aceito pelo partido,
eu lhe aviso antes da convenção para começarmos o trabalho”,
afirmou o jovem empresário. Como Wirland jamais teria um pedido
negado por Jader Barbalho, que comandava o PMDB, era questão de
tempo. E como era de se esperar, Jader ungiu o nome de Wilmar, que
foi para a convenção somente para cumprir o rito.
Ao chegar a Itaituba, nas nossas
longas conversas, surgiu a ideia de comprar uma emissora de
televisão, e a TV Tapajoara, que há dois anos havia sido implantada
pelo ex-prefeito Sílvio Macedo, e por sua esposa, Marilu Macedo,
prima legítima de Wilmar.
As conversações foram iniciadas
e logo caminharam para o que parecia ser um desfecho favorável e de
interesse dos dois lados. Porém, depois de todos os pontos
acertados, incluindo o mais crucial, que dizia respeito ao montante a
ser pago, exatos doze quilos de ouro, o negócio emperrou, porque
Marilu não concordou, e sem seu apoio não haveria negócio algum.
Bateu na trave.
Wilmar estava determinado a
comprar um canal de TV naquele ano de 1990 para lhe dar suporte
político. Então, partimos para conversar com o empresário Aldo
Inácio (Seu Mané), que demonstrava interesse em vender a
retransmissora do Rede Bandeirantes, que na época era conhecida por
TV Itaituba. E por cinco quilos de ouro foi fechada a compra. E eu
comecei a tratar da mudança, pois funcionava no antigo Chapéu do
Povo, e o mais correto seria levar para um endereço próprio.
Autorizado pelo Wilmar, saí a
procurar um local, até encontrar uma casa na 17ª
Rua, no bairro Bela Vista, onde funciona até hoje. Mas, antes de
fazer a mudança para o novo local, foi preciso proceder uma série
de adequações no prédio para que o mesmo tivesse condições de
receber todos os equipamentos e abrigar todos os setores
funcionários. E lá ficamos até mais ou menos o mês de março ou
abril de 1993. E aqui começa outra história. Ou seria, o segundo
capítulo da compra da retransmissora do SBT em Itaituba.
Puxando pela memória de Socorro
Oliveira (Socorrinho), pois de alguns detalhes fundamentais para que
a história possa registrada corretamente eu não lembrava, vamos
lembrar como a Tapajoara foi parar nas mãos de Wirland, o
empresário, que se preparava para disputar sua primeira eleição
para prefeito. Mas, houve coisas antes disso.
Socorrinho lembrou-me, que o então
prefeito Benigno Olasar Reges havia comprado 50% das cotas da TV
Tapajoara, passando no ano de 1991 todas as cotas para ela. Em 1992,
já pré-candidato a prefeito, Wirland Freire pediu para ela
intermediar a compra das cotas da emissora pertencentes a Sílvio
Macedo, o que foi feito.
Como a Rede SBT já tinha um nicho
de audiência e do mercado publicitário bem maior que o da Rede
Bandeirantes, eu aceitei o convite para dirigir a emissora, para a
qual me acompanharam alguns colegas.
Confesso que fazer TV nunca foi
minha maior paixão na comunicação, e até costumo dizer que a
televisão foi um acidente de percurso na minha vida profissional. E
nessa transição eu fiquei por nove anos e meio, só na Tapajoara,
muito mais tempo do que eu poderia imaginar. O Rádio em primeiro
lugar e a edição de jornais, em segundo, sempre foram as minhas
predileções.
O competentíssimo atual diretor
da TV Tapajoara, Ivan Araújo, foi junto comigo, ajudando-me a montar
a primeira equipe. Isso aconteceu por volta de abril ou maio de 1993.
E tão logo chegamos na nova emissora, já começaram a ser traçados
os planos para uma programação local de acordo com o nosso
entendimento, principalmente do Ivan, já que sabia muito de
televisão, enquanto eu ia aprendendo alguma coisa convivendo com
ele. Depois foram chegando Fleury, e os demais. E foi naquele momento
que nasceu o Focalizando, inspirado no Aqui, Agora, que a rede SBT
apresentava, com as adaptações para a realidade local.
Fiquei até o segundo semestre de
2002, mas, àquela altura, Ivan Araújo e Marlúcio Couto já estavam
no comando da emissora, uma vez que eu ficava a maior parte do tempo
ausente, por causa da enfermidade de minha primeira esposa. Eliêde,
que por todo o tempo em que fiquei na TV Tapajoara, foi a diretora
comercial.
Hoje, a TV Tapajoara opera com
sinal digital, um projeto necessário por exigência legal, mas,
ousado, bem planejado e bancado com recursos próprios, contando com
uma direção competente, que recebeu carta branca do empresário
Wilmar Freire, em cujas mãos foi parar a TV Tapajoara, depois da
morte de seu pai. Parece que o destino armou tudo para que a emissora
viesse a ser dele um dia.
Mesmo de fora, continuo
sentindo-me parte desse grande e vitorioso time, do qual tenho
merecido, sempre, o respeito, do diretor-presidente, meu irmão
Wilmar Freire, ao mais jovem dos colaboradores. Por isso, essa
homenagem é feita com a emoção de quem contempla com admiração a
continuação dessa obra, que como diz o Ivan, já não é mais
somente do Wilmar, mas, da comunidade itaitubense, por ter se
transformado em um patrimônio deste município.
A TV Tapajoara é um caso à parte
no mundo da televisão brasileira, pois é das poucas emissoras que
podem se vangloriar de ter, há vinte e cinco anos, um horário em
que deixa fácil a Rede Globo em segundo lugar, quando o telejornal
Focalizando está no ar. É a emissora que tem a cara de Itaituba, e
sobre isso não há discussão, posto que nenhuma
outra estação de
televisão local conseguiu identificar-se de forma tão marcante com
quem a assiste.
Nesta edição 243 do Jornal do
Comércio, cuja maior parte do espaço nós destinamos para falar dos
30 anos da TV Tapajoara, eu pedi para algumas pessoas que tem ligação
com a emissora escreverem algo sobre a história, se possível,
alguns causos verídicos sobre essa rica história. E eu também
tenho algumas experiências vividas, uma das quais deixo registrada
aqui.
O ano era 1996, último ano de
governo do primeiro mandato de Wirland Freire, que um belo dia
recebeu a engenheira agrônoma Inês Guahyba no seu gabinete para
tratar de um assunto que eu não lembro qual era. Àquela altura
especulava-se nos bastidores da política itaitubense, que ela
poderia apoiar Djalma Freire na eleição daquele ano. Porém, o que
era para ser uma conversa amigável, terminou de forma inamistosa. E
Wirland, possesso da vida, mandou chamar a reportagem da sua
emissora, a TV Tapajoara, para conceder uma entrevista que daria
muito que falar e dissabores políticos.
Mauro Torres era o repórter.
Chegou e fez apenas uma pergunta, baseado na pré-entrevista, porque
Wirland não estava para muita conversa. Tanto, que para fechar sua
declaração, usou adjetivos de alto potencial ofensivo contra Inês.
Ninguém, fosse do grupo político
de WF, ou da TV, gostaria de ver aquela entrevista sendo exibida,
porque sabia do potencial destrutivo que ela teria contra o próprio
grupo político, que se preparava para enfrentar uma aguerrida
eleição.
O telejornal no qual a fala do
prefeito deveria ser exibida ia ao ar às 17:30, pois o fato ocorreu
depois do Focalizando. A declaração tinha sido dada depois do
meio-dia, tempo suficiente para os bombeiros entrarem em ação para
tentar apagar o potencial incêndio. Eu fiz de tudo para tentar
demovê-lo da ideia, mas, não consegui.
A última tentativa eu fiz por
volta das 16:30, uma hora antes do telejornal ir ao ar. Na casa do
prefeito, na Estrada do BIS, ponderei que aquilo seria prejudicial, e
perguntei se ele queria mesmo que fosse exibido, na esperança de que
ele tivesse esfriado a cabeça nas quatro horas que separavam o
momento da declaração e aquele em que eu tentei pela última vez.
“Olha, eu vou lá no centro
resolver um negócio e retorno daqui a pouco para ver o jornal. Se
não colocarem a notícia, eu vou sair daqui direto para o posto para
pegar gasolina e tocar fogo na TV”, disse-me WF. E conhecendo tão
bem coma o conhecia, não tive nenhuma dúvida de que aquilo era um
comunicado, não, uma ameaça qualquer. De fato, zangado como estava,
Wirland tocaria fogo.
Sem nada mais poder fazer,
dirigi-me para a TV Tapajoara e disse aos meus colegas de trabalho,
que a matéria iria ao ar, sim, sob pena de estar todo mundo
desempregado no dia seguinte, pois o dono tocaria fogo na sua estação
de TV, caso não fosse exigida. Claro que foi ao ar, e provocou o
estrago político que se previu dentro do próprio grupo do então
prefeito.
Jota Parente
*Publicado na edição 243 do Jornal do Comércio, que está circulando a partir de hoje.
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