Gordo do Aurá se elegeu graças à atuação no bairro do Aurá, mas o sistema integrado de segurança pública sempre acompanhou atividades suspeitas do vereador (Divulgação / Câmara Municipal de Ananindeua) |
Antes
das eleições municipais de 2012, pouca gente conhecia o "Gordo do
Aurá". Menos ainda o seu nome de batismo: Deivite Wener Araújo
Galvão.
Entretanto,
Deivite já era bastante conhecido por policiais civis e militares com atuação
em Ananindeua, e também pela comunidade do bairro do Aurá, principalmente os
mais necessitados.
Na
tarde desta quinta-feira (21), entretanto, o nome de "Gordo do Aurá"
é procurado por ter sido assassinado no bairro da Pedreira, em Belém.
Vereador
reeleito, Deivite tinha muita influência no bairro do Aurá, ao ponto de
carregar o apelido.
No
bairro, coordenava a Galera do Aurá (GDA), um grupo responsável pela promoção
de eventos e ações comunitárias. Foi assim que Deivite formou um reduto
eleitoral em uma área carente de políticas públicas.
Devido
essa carência, Gordo do Aurá ficou conhecido por agradar moradores, desde que
fizessem vista grossa para qualquer coisa do seu interesse.
O
então promotor de eventos também conseguia e distribuía cestas básicas,
medicamentos, consultas médicas e algumas intervenções públicas no bairro.
Em
seus dois mandatos como vereador de Ananindeua, de fato, sempre defendeu e procurou
melhorar a vida das pessoas do bairro que o elegeu e representava.
Bairro do Aurá e Gordo do Aurá
O bairro
do Aurá é uma área periférica de Ananindeua, com cerca de 1,8 mil habitantes,
segundo dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Na área,
muitas vias sequer são asfaltadas e é um território conhecido e marcado pela
violência.
É no Aurá
que ficava um lixão, encerrado pela Prefeitura de Belém, em 2015, após cerca de
20 anos comprometendo a qualidade de vida da população daquela área.
Para os
policiais militares e civis que já o prenderam, como o atual vereador de Belém,
sargento Silvano Oliveira, que comemorou a morte dele pelo Twitter, a GDA do
vereador Gordo do Aurá não passava de uma fachada para as atividades de uma
organização criminosa.
Galera do Aurá e Comando Vermelho
A
suspeita sempre existiu, mas nunca foi confirmado que a GDA integrava as
facções criminosas Família do Norte e Comando Vermelho Rogério Lemgruber
(CVRL).
Contudo,
no dia 29 de março de 2018, as polícias Civil e Militar flagraram uma
"reunião de recrutamento" de mototaxistas para atuar no Comando
Vermelho. Havia, inclusive, uma ficha de cadastro.
O local
onde ocorria o encontro era a sede da GDA, de propriedade do Gordo do Aurá, que
negou qualquer tipo de envolvimento.
Vereador sem partido
Em
setembro do ano passado, o então vereador do DEM foi preso na Operação Cristo
Redentor, da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup).
O
objetivo era cumprir cerca de 1,3 mil mandados de busca e apreensão no
residencial Pouso das Aracangas, conhecida como "Cidade de Deus", em
referência à favela carioca dominada pelo crime, situada no bairro do Aurá.
Naquela
ocasião, viaturas das polícias Civil e Militar foram recebidas a tiros. O fato
rendeu a expulsão de Gordo do Aurá do partido DEM de
Ananindeua.
Como
político, Deivite se viu alvo de acusações entre o governador Helder Barbalho e
o então candidato Márcio Miranda (DEM), durante a campanha das eleições do ano
passado, onde foi tratado como "bandido de estimação".
No
Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA) dois processos contra Deivite
estão em aberto. Um deles é o 0019369-47.2018.8.14.0401, no qual é investigado
por tráfico de drogas e relações com o crime organizado, com decretação de
prisão preventiva. O outro é 0040531-27.2015.8.14.0006, no qual é denunciado
por corrupção.
Gordo
do Aurá, na véspera das eleições de 2012, foi detido pela Polícia Militar por
porte ilegal de armas, mas a outra pessoa que havia sido detida com ele assumiu
o crime e o então candidato foi liberado.
Relação com milícia e tentativa de assassinato
Outra
relação suspeita envolvendo o Gordo do Aurá seria com as milícias que atuam na
Região Metropolitana de Belém.
O
cabo Heleno Arnaud Carmo de Lima, o cabo Leno, apontado como chefe de uma das
maiores milícias do Pará, a "M da Pedreira", supostamente teria
prestado serviços de intimidação, cobrança e assassinato por encomenda, mas não
foi comprovado.
Deivite,
no dia 18 de junho de 2013, sofreu um atentado ao chegar na Câmara Municipal de
Ananindeua.
O
carro em que o então vereador estava foi alvo de vários disparos e Gordo do
Aurá só sobreviveu porque estava de coleta à prova de balas.
Desde
então, a segurança foi reforçada, assim como aumentaram as suspeitas sobre o
motivo do Deivite usar colete e ter sofrido o atentado.
Isso
já indicava que havia pessoas com interesse na morte dele.
Coincidentemente,
o local onde Deivite, sua esposa e o motorista de aplicativo foram baleados
pertence à área de atuação da "M da Pedreira".
Por
enquanto, não há relação entre a organização criminosa e a morte do vereador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário