Diário do Pará - Assembleia Legislativa
do Pará (Alepa) terá de disponibilizar ao Movimento Democrático Brasileiro
(MDB) toda a documentação dos convênios que firmou com o Instituto Mercina
Miranda, criado e mantido pelo ex-deputado estadual Márcio Miranda. No último
dia 13, o Tribunal de Justiça do Estado (TJE) confirmou a liminar concedida, no
ano passado, pela desembargadora Luzia Nadja Guimarães Nascimento, no mandado
de segurança que o partido ajuizou, depois que Miranda, que então presidia
Alepa, negou-lhe acesso a esses documentos.
Segundo o
MDB, há fortes indícios de irregularidades nos convênios que a Alepa e o
Governo do Estado firmaram com o Mercina, entre 2003 e 2011, e que teriam
custado aos cofres públicos pelo menos R$ 2,6 milhões, em valores atualizados,
até março do ano passado. A principal suspeita é de uma triangulação, em
benefício de Márcio Miranda: ele apresentava emendas ao Orçamento do Governo,
para garantir dinheiro aos convênios do instituto que, então, realizava
atendimentos que, além de badalarem a imagem do deputado, também encaminhavam
pacientes às empresas de saúde da família dele, em Castanhal.
O MDB aponta
como exemplo um convênio do Governo, em 2003, para que o Mercina adquirisse uma
unidade móvel de Saúde, para a realização de preventivos de câncer, através do
projeto “Vida Longa Mulher”. Segundo um ofício da própria entidade, o dinheiro
veio de uma emenda de Márcio Miranda. Mas fotografias em documentos do Mercina
mostram que, nos locais desses atendimentos, havia um banner fixado no ônibus,
contendo a foto e o nome do então deputado.
Além disso,
ainda segundo o MDB, nas fichas de atendimento do “Vida Longa Mulher” há
indícios do direcionamento de exames para o Hospital Francisco Magalhães e a
Medical Diagnósticos, empresas registradas em nome de Daniela, esposa do
ex-deputado, e de Ygor e Ytalo, filhos do casal. A suspeita é que o material
coletado na unidade móvel era encaminhado para diagnóstico nas duas empresas.
INFORMAÇÃO
Para o
advogado Diorgeo Mendes, que representa o MDB, a decisão do TJE confirma o que
partido vem afirmando desde o ano passado: a Alepa, na gestão de Miranda, não
cumpria a Lei de Acesso à Informação. Ele disse que o partido deverá pedir, na
semana que vem, que a Alepa seja notificada da decisão do tribunal, que foi
publicada no Diário de Justiça do último dia 18.
Salienta
que a documentação é fundamental para comprovar as irregularidades apontadas
pelo partido. Mas teme que a Alepa tenha dificuldades em entregar a papelada.
“Há informações de que esses documentos não estão mais na Alepa, que foi
presidida, até 31 de janeiro deste ano, pelo então deputado Márcio Miranda”,
comentou.
Diorgeo
acredita que a Alepa terá de encaminhar ofício a Márcio Miranda, para que ele
entregue a documentação. Caso ela não seja entregue, o partido pedirá à Justiça
a aplicação de multa ao ex-parlamentar. Segundo o advogado, o MDB realizou
várias buscas no portal da Transparência da Alepa, para obter informações sobre
esses convênios, mas nada conseguiu. Assim, em 16 de julho do ano passado,
encaminhou ofício à Presidência da Casa, solicitando acesso a esses documentos,
que são públicos, mas não obteve resposta – daí ter ajuizado o mandado de
segurança.
Em, 02 de
outubro do ano passado, a desembargadora Luzia Nadja Guimarães Nascimento
concedeu a liminar solicitada pelo partido e estabeleceu um prazo de cinco dias
para que Márcio Miranda garantisse o acesso a essas informações, sob pena de
multa diária de R$ 5
mil a R$ 150 mil.
mil a R$ 150 mil.
O deputado
informou, então, que os documentos estavam disponíveis, para consulta, no
Departamento Financeiro da Alepa. No entanto, afirma Diorgeo, isso não ocorreu.
“Nós estivemos lá, pessoalmente, para receber os documentos, mas o então
procurador-geral da Casa chegou a se trancar em uma sala, para negar o possível
acesso a essa
documentação”, relata.
documentação”, relata.
VALORES
Confira os
recursos repassados pelo Governo do Estado e Alepa ao Instituto Mercina
Miranda, que o DIÁRIO conseguiu rastrear. Os valores foram atualizados com base
no IPCA-E de março do ano passado.
Da Alepa
Convênio 06/2004
R$ 43.842,98
Convênio 58/2004
R$ 102.300,29
Convênio 03/2007
R$ 230.905,62
Convênio 004/2008
R$ 290.091,39
2009
R$ 233.487,42
2010
R$ 198.265,74
2011
R$ 20.633,31
TOTAL: R$ 1.119.526,75
Do Governo do Estado
2003
R$ 335.493,48
2004
R$ 158.669,84
2005
R$ 151.139,47
2006
R$ 148.660,64
2008
R$ 34.403,22
2010
R$ 665.915,42
TOTAL: R$ 1.494.282,07
Da Alepa
Convênio 06/2004
R$ 43.842,98
Convênio 58/2004
R$ 102.300,29
Convênio 03/2007
R$ 230.905,62
Convênio 004/2008
R$ 290.091,39
2009
R$ 233.487,42
2010
R$ 198.265,74
2011
R$ 20.633,31
TOTAL: R$ 1.119.526,75
Do Governo do Estado
2003
R$ 335.493,48
2004
R$ 158.669,84
2005
R$ 151.139,47
2006
R$ 148.660,64
2008
R$ 34.403,22
2010
R$ 665.915,42
TOTAL: R$ 1.494.282,07
Acusações de superfaturamento e notas
fiscais frias
Em várias
reportagens no ano passado, o DIÁRIO mostrou, com base em documentos que obteve
das prestações de contas desses convênios, que o Mercina Miranda teria comprado
produtos superfaturados em até 90%, com o dinheiro público que recebeu. Além
disso, há indícios da utilização de notas fiscais fraudulentas nessas
prestações de contas. E mais: ela teria comprado 40 mil kits de Papanicolau
(para exames preventivos de câncer uterino), que ninguém sabe onde foram parar,
já que as próprias estatísticas e fichas de atendimento da entidade indicam que
ela não realizou nem mil desses exames.
Mercina
chegou a pagar até R$ 3,80 por kit de Papanicolau, entre os anos de 2008 e
2011. No entanto, em 2010, a Prefeitura Municipal de Belém (PMB) pagou, no
máximo, R$ 2,00 por kit desse tipo. Em outra licitação da PMB, em 2017, o preço
máximo foi de R$ 1,80 a unidade. No mesmo ano, os kits adquiridos pela
Prefeitura de São Miguel do Guamá custaram, no máximo, R$ 1,45 a unidade.
Conforme apurou o DIÁRIO, pelo menos 17 mil desses kits foram comprados pela
entidade a preços muito superiores até ao que é cobrado hoje, em sites de
varejo.
Outro
problema é que sete notas fiscais, da compra desses kits e de outros materiais
médicos pelo Mercina, apresentam indícios de fraude. Quatro dessas notas foram
emitidas por uma empresa que já se encontrava extinta, segundo a Receita
Federal: a Atlas Comércio de Artigos de Medicamentos, Armarinho e
Papelaria.
SOB SUSPEITA
As outras
três notas são iguais na caligrafia, na ordem e quantidade dos produtos
listados e até no erro a maior do valor final, mas são de duas empresas
diferentes: a Isaura HP dos Santos e a VHS Comércio e Serviços.
Segundo a
Receita Federal, as duas empresas funcionam nos números 243 e 249 da avenida
Marquês de Herval, em Belém. Mas o DIÁRIO esteve no local, conversou com
moradores e não encontrou nem sinal delas. Tão ou mais estranho é que a VHS,
que teria vendido esses materiais médicos, está registrada na Receita com o
nome de fantasia de “Grafam Gráfica e Editora”. Já a Isaura HP tem o nome de
fantasia de “Espaço Ótico”.
O Instituto
Mercina Miranda foi criado por Márcio Miranda em junho de 2003, em homenagem à
mãe dele. É presidido por José Moreira Sales, homem de confiança do
ex-deputado. Entre 2008 e 2011, Sales foi diretor-geral do Hospital Municipal
de Castanhal. Na época, o secretário de Saúde daquele município era Kleber
Tayrone, irmão de Márcio Miranda.
Em 2011,
Kleber assumiu a direção do Iasep, o instituto de assistência dos servidores
estaduais. Sales assumiu a diretoria do 3º Centro Regional de Saúde da
Secretaria Estadual de Saúde (Sespa), que abrange 11 municípios do Nordeste do
Pará, entre eles Castanhal, que era a base eleitoral de Márcio Miranda. Em
2014, Kleber deixou o Iasep.
Quem
assumiu o lugar dele foi Iris Ayres de Azevedo Gama, que era diretora
administrativa e financeira do instituto. Para o lugar dela foi nomeado José
Moreira Sales, que permaneceu no cargo até o final do Governo Jatene. Hoje, diz
a Receita Federal, a entidade está inapta, devido à “omissão de declarações”.
(Ana Célia
Pinheiro/Diário do Pará)
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