Reinaldo Azevedo (Uol Notícias) - Durante a campanha eleitoral e nos primeiros meses do governo, o presidente Jair Bolsonaro alimentava a fantasia de que o mundo reconheceria que o Brasil, finalmente, teria conseguido eleger um presidente à altura de sua grandeza. E prometia alçar o país a altitudes inéditas.
Pois é... Bolsonaro conseguiu, finalmente, ser considerado o primeiro num ranking definido pelo jornal americano The Washington Post. O jornal publicou nesta terça um editorial já bastante eloquente deste o título: "Líderes põem vidas em risco ao minimizar coronavírus. Bolsonaro é o pior".
Entenderam?
O jornal, que pertence a uma empresa da holding controlada por Jeff Bezos — o homem da Amazon, o que implica o alcance global de suas formulações —, considera que Bolsonaro é hoje, no mundo, o governante que mais põe vidas em risco em razão do trato que dispensa à pandemia.
De fato, o planeta reconhece a particularidade do líder brasuca. Como ele anteviu que aconteceria.
O presidente brasileiro também é personagem de um texto da revista inglesa The Economist desta semana intitulado "Jair Bolsonaro isolou a si mesmo. E do lado errado". Lê-se lá: "Boa parte do governo o trata como aquele parente difícil, que exibe sinais de insanidade".
O editorial do Washington Post, note-se, traz vários pontos de coincidência com o texto da Economist, o que não surpreende. Veículos que têm influência global acabam por plasmar leituras sobre personagens da vida pública mundo afora que não se desfazem com facilidade.
Estamos falando daquela que é considerada a mais importante revista do mundo e de um dos mais influentes jornais dos EUA e do planeta. Não é pouca coisa.
A conclusão inafastável é uma só: Bolsonaro também faz mal à reputação do Brasil no mundo, e isso, acreditem, tem um preço. Antes do coronavírus, os investimentos estrangeiros já estavam fugindo do Brasil, e dinheiro novo não chegava.
Pesava a falta de credibilidade do governo. Quando esse desastre passar, vamos constatar que, no curso da pandemia, a imagem do país terá se deteriorado ainda mais.
Vai ver a isso o presidente brasileiro chamava um "governo sem viés ideológico". Sem viés ideológico e que, na visão do Post, "põe vidas em risco". Quem, com alguma seriedade, vai querer investir num país que tem um líder com esse perfil?
O jornal abre seu editorial afirmando que a pandemia está servindo como uma espécie de teste para avaliar a qualidade da governança. E cita países que se distinguem positivamente: Alemanha, Nova Zelândia, Coréia do Sul e Taiwan.
Mas, afirma, o "fundo do barril" — por aqui, diríamos "o fundo do poço" — também é evidente: Belarus, Turcomenistão, Nicarágua e Brasil. Depois de citar exotismos dos líderes dos outros três países, vem a afirmação que cria uma mácula global no Brasil: "De longe, o caso mais grave de malefício é o do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro". E o post, então, passa a listar as suas ações e declarações sobre a pandemia:
- chamou a Covid-19 de "gripezinha";
- disse que a questão tinha de ser enfrentada como "homem, porra!, não como moleque";
- tentou minar as medidas adotadas pelos 27 governadores contra a disseminação do vírus;
- isentou igrejas e casas lotéricas das medidas de distanciamento social;
- lançou a campanha "O Brasil não pode parar", suspensa pela Justiça.
O jornal chega a afirmar que Bolsonaro emitiu um decreto contra o isolamento social, que teria sido derrubado depois pela Justiça. Isso não aconteceu. Houve apenas a ameaça. Ocorre que, a partir de determinado ponto, tudo passa a ser crível. O Post lembra que os governadores e o próprio ministro da Saúde exortaram a população a a ignorar o presidente, destacando dados da pesquisa Datafolha, segundo a qual 76% aprovam o isolamento social.
O Post entende, no entanto, que a fala de Bolsonaro produz efeito negativo. A evidência estaria no fato de que, segundo dados de celulares, apenas metade da população da cidade de São Paulo optou por ficar em casa no domingo de Páscoa.
O jornal destaca os números do coronavírus no Brasil, apontando que, segundo dados da Universidade Johns Hopkins, o país ocupa o 14º lugar no ranking da contaminação.
Emenda que o pico de casos ainda está por vir e atribui o crescimento certo da contaminação e da doença ao comportamento de Bolsonaro.
A conclusão do editorial traz uma ironia. Observa que os EUA estão longe de ser um exemplo no combate ao coronavírus, mas destaca que Donald Trump abandonou a sua posição negacionista e passou a apoiar as medidas restritivas recomendadas pelos profissionais de saúde.
Então, escreve o jornal, Trump "poderia fazer um grande favor ao Brasil telefonando para Bolsonaro, um aliado político seu, exortando-o a fazer o mesmo".
É bem verdade que o texto foi redigido nesta terça-feira, quando o presidente americano voltou a falar bobagens pelos sete buracos daquela cabeça coberta por um cabelo impossível.
Como se nota, Bolsonaro cumpre a promessa. Disse que iria assombrar o mundo. E assombra mesmo!
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