Ao decidir pela publicação completa do
vídeo da famosa reunião ministerial convocada pelo presidente Jair Bolsonaro, o
ministro Celso de Melo prestou um grande serviço à nação brasileira, poucos
antes de se aposentar, pois ele tem pouco tempo, já que em novembro ele deixará
o STF.
O vídeo desnuda o governo, fazendo
cair sua máscara de falso moralismo. Talvez, poucas palavras definam tão bem a
falta de caráter do governo de Bolsonaro como o termo: FALSO MORALISMO.
O presidente Jair Bolsonaro cercou-se
por quase todos os lados, de pessoas do seu nível, que é muito baixo. O vídeo
colocou o tipo de gente que povoa o poder central em Brasília, com raríssimas
exceções. Os ex-ministros Sérgio Moro e Nelson Teich e mais o vice-presidente
Hamilton Mourão, que tem agido com sensatez. E só.
A tal reunião ministerial pareceu um
encontro de conspiradores, expondo o grau de insensatez que permeia o atual
governo brasileiro de um modo geral. Manifestações de ódio, de gente que fala
em nome de Deus, como da pastora evangélica Damares Alves, ministra da Mulher,
da Família e dos Direitos Humanos. Observem o ministério que ela comanda. Se
dependesse dela, prefeitos e governadores seriam presos por conta de medidas
tomadas contra a pandemia.
Tão ruim ou pior do que ela foi o
ministro da educação, que se destaca mais pelos erros de ortografia e de
concordância cometidos em suas postagens, do que por sua atuação desastrosa à
frente do MEC.
O ministro da Educação,
Abraham Weintraub, chamou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de
vagabundos e defendeu mandá-los para a prisão. A declaração, na íntegra, foi
divulgada após a decisão do ministro Celso de
Mello, de liberar o vídeo de uma reunião ministerial na qual o presidente
Jair Bolsonaro teria pressionado o então ministro da Justiça Sergio Moro para
trocar o comando da Polícia Federal. No vídeo, Weintraub também diz odiar os
termos "povo indígena" e "povo cigano". - Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia.
Começando no STF. E é isso que me choca — disse Weintraub.
A mim, o que me
choca é ver pessoas como essas, investidas em cargos públicos de primeiro
escalão, fazendo discursos contundentes e raivosos contra um dos pilares da
democracia, que é o Poder Judiciário, ofendendo ministros do STF. E ainda teve
a raposa no galinheiro, que é o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que
defende aproveitar a preocupação com a pandemia para deixa passar a boiada, ou
seja, fazer tudo de errado agora contra a Natureza, porque a mídia não vai
prestar atenção.
Foi para esse
pessoal que nós, eleitores, entregamos o poder. Entregamos a eles para evitar
que o bando do PT continuasse o assalto ao que restava dos cofres públicos da
nação. Mesmo Bolsonaro não fazendo ideia o que é um programa de governo, a
maioria acreditou que ele poderia ser diferente. De fato, ele segue um caminho
diferente do PT, porém, sua nau navega rumo a qualquer porto.
Acompanho com
preocupação um bando de néscios postando horrores, incitando à violência,
defendendo intervenção militar e agredindo os poderes Legislativos e
Judiciário. Para esses, a divulgação do vídeo da reunião foi um sucesso total,
a consagração do grande ídolo de extrema direita que está sentado na cadeira de
presidente sem saber bem porque está lá.
Como peixes fora
d’agua, ainda fazendo parte da equipe, Sérgio Moro e Nelson Teich testemunharam
aquilo que parecia mais com uma reunião de condomínio do que reunião de
trabalho. O desconforto de Nelson Teich ficou mais do que evidenciado. Ele deve
ter imaginado: o que é que eu estou fazendo aqui no meio desse bando de
malucos? Foi ali que a ficha dele começou a cair, já na sua primeira semana
como ministro da saúde. Aquilo não é ambiente para gente de bem.
Agora ficou do
jeito que Bolsonaro sempre quis. Suas vontades de criança mimada que não gosta
de ser contrariada poderão se materializar sem protestos dentro da equipe de
radicais lunáticos toscos, que governam, ou desgovernam com os olhos voltados
para os que batem palmas para as sandices que o governo faz, a partir do
presidente. A Cloroquina já foi emplacada por ele, e quase com certeza, em
breve poderá ser mudada a bula desse medicamento a mando dele.
Bolsonaro praticou
estelionato eleitoral. Prometeu combate implacável contra a corrupção. Todavia,
ele não moveu uma palha, até agora nesse sentido. Pelo contrário, forçou a
saída do único integrante do seu ministério que tinha um projeto em andamento sobre
a matéria. O que ele tem feito muito é trabalhar para encobrir os malfeitos dos
seus filhos. Desde quando isso é combater a corrupção?
Por fim, faço uso de trechos de um texto de Helena Sut, publicado no dia 5 de junho de 2004, na revista Carta Maior,
que poderia ter sido escrito há um ou dois séculos, ou até mais, ou mesmo no
futuro, pois o povo padece nas mãos dos poderosos desde sempre.
O Rei Está Nu! Os donos do poder alimentam suas
vaidades, vestem as roupas da hipocrisia e desfilam as falsas transparências
nas notícias manipuladas. Com os passos ensaiados, ostentam o poderio sob os
céus comprometidos. As falas decoradas são repetidas sem compreensão, a
ideologia está trajada em bordões de fácil memorização.
O grito se dispersa na multidão. As tantas notícias
confundem os personagens do espetáculo. Falsos brilhos são lançados sobre a
multidão apática, os grupos rivais perpetuam suas desavenças, a sociedade
permanece dividida com as notícias manipuladas, o séquito real acompanha o
desfile dos soberanos...
O séquito real enaltece-se com a
proximidade das autoridades, diverte-se com as performances dos empobrecidos
bobos da corte...
Nas fotos de dor e desespero, os
personagens vestem roupas encardidas, perdidas entre a carne e a ficção. Os
olhos desesperados, o silêncio de um grito sem legendas, a mulher, a criança...
Fragmentos de vestimentas verdadeiras que já não protegem. Retratos da real
indiferença, retratos da morte pulsando na angústia de permanecer, da vida
iluminada por faíscas de esperança...
As novas vestes do rei... Fatos novos
sobrepõem-se à tragédia. Todos os óbitos, pedaços de corpos fragmentados, são
trapos inservíveis... Os soberanos ganham novas perspectivas e escondem a
responsabilidade na perversão dos facínoras, na possessão do demônio...
Inquéritos que se perderão nos calabouços, na culpa dos sobreviventes, na
perversão dos mortos, no desamparo dos desvalidos...
Qualquer semelhança com os acontecimentos
nacionais do presente, não terá sido mera coincidência, mas, exercício de
vaticínio da autora.
Jota Parente
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