Quando o ex-presidente Michel Temer
sentou na cadeira que era ocupada pela então presidente Dilma Rousseff, a Rede
Globo carregou nas tintas contra ele. Matreiro como ele só, Temer pediu que
Wellington Moreira Franco, ex-governador do Rio de Janeiro e seu ministro,
fosse ao Rio conversar com irmãos Marinho.
Ao voltar para Brasília, Moreira Franco
informou ao presidente, que os Marinho não queriam conversar. Temer então declarou guerra. E passou a ordenar a execução de eventuais
dívidas da emissora com a União, de impostos e de financiamentos no BNDES. No
contra-ataque, a emissora determinou a aproximação de seus principais
executivos com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na tentativa de fazê-lo
presidente da República. Mesmo que fosse por um ano, até a eleição direta.
Temer conseguiu terminar o restante do
mandato no qual começou como vice, sob fogo cerrado da Globo, que tudo fez para
apeá-lo do poder. Usou o escândalo dos irmãos Wesley à exaustão, mas, liso como
limo, Michel Temer conseguiu escorregar das mãos da Justiça.
Esse é apenas um dos exemplos de como
age a Rede Globo quando seus interesses particulares são contrariados.
Prefeitos, governadores e até presidentes da República que não se garantem, por
frouxidão ou por culpa, terminam comendo na mão dos Marinho, cujo apoio é caro.
Globo e Bolsonaro já estavam em lados
opostos muito antes da eleição. A emissora não fez esforço algum para tentar
uma aproximação durante a campanha, porque não acreditava que ele pudesse
chegar ao segundo turno. Aliás, inicialmente, pouca gente acreditava. E foi
nesse tom que os dois lados se deram mal.
Essa briga de foice no escuro tem sido
ruim, tanto para a Rede Globo, quanto para o presidente Jair Bolsonaro. A Globo
porque teve fechada a torneira da gorda verba publicitária. Isso, junto com a
crise econômica por conta da pandemia fez cair a renda. Tanto é verdade, que
muita gente boa já foi mandada embora pela emissora. Ruim para Bolsonaro,
porque o linchamento diário de sua imagem que é exibido diariamente, causa um
desgaste inevitável na sua já desgastada imagem de governante.
Por conta de todo esse clima, criou-se
uma verdadeira guerra entre o presidente e todos que o seguem, contra a Globo,
que perdeu muito espaço na briga pela audiência nos últimos anos, por causa do grande
crescimento das redes sociais. Hoje em dia, nem tudo que a Rede Globo diz é
visto como verdade inquestionável. Dependendo do que ela publica, pode haver
questionamentos nas redes sociais. Isso é bom.
Se por um lado a emissora merece a
desconfiança dos telespectadores, que preferem checar informações por ela veiculadas,
consultando outras fontes, por outro lado, hoje, a maioria dos brasileiros também
desconfia de muitas afirmações de Bolsonaro, cujas contradições tornaram-se
rotineiras.
Ficamos emparedados entre uma rede de
televisão que tem a sua própria “verdade” e um presidente para o qual a única “verdade”
que deve existir é a sua. Sidarta Guatama (Buda), no começo de sua pregação,
disse em um encontro com pessoas do norte da Índia, onde hoje se localiza o
Nepal, quando lhe perguntaram qual era a verdade, porque o sumo sacerdote dos
Brâmanes afirmara há poucas semanas, que a única verdade válida era a sua.
“Desconfie de toda pessoa que afirmar
que a única verdade que vale é a sua; desconfie, inclusive de mim, se algum dia
eu disser isso”. (Buda)
No nosso caso, o que parece mais
correto é seguir o conselho de Buda, desconfiando da “verdade absoluta” da Rede
Globo e da “verdade absoluta” do presidente Jair Bolsonaro. Se assim fizermos,
se não nos envolvermos passionalmente com nenhuma das duas “verdades”, seremos
capazes de fazer um julgamento mais isento possível da situação para nos
posicionarmos como cidadãos livres e como seres pensantes.
Jota Parente
Nenhum comentário:
Postar um comentário