A eleição de Luis Arce foi uma surra na diplomacia ideológica do governo Jair Bolsonaro. Uma derrota por goleada no time que, oficialmente, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, comanda. Mas no qual também são figuras de proa ministros da ala militar, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, e assessores diretos que circulam pelo Palácio do Planalto.
O Brasil foi um dos primeiros governos a reconhecer a presidência interina de Jeanine Áñez, em novembro do ano passado. Embora Bolsonaro tivesse conseguido uma relação pragmática com Evo Morales, seu governo viu na renúncia sob pressão militar do ex-presidente boliviano a oportunidade de equilibrar a política regional para o lado da direita. Era uma jogada destinada a fortalecer a frente anti-Maduro, chefiada pelos Estados Unidos do presidente Donald Trump.
O Brasil, com seu alinhamento automático ao governo Trump, não duvidou em mostrar-se como um fiador do governo Áñez. Já a Argentina transformou-se em aliado-chave de Morales. O presidente Alberto Fernández concedeu asilo ao ex-chefe de Estado boliviano dois dias depois de ter sido empossado, em dezembro de 2019. Permitiu a Morales fazer campanha eleitoral em território argentino e, em paralelo, nunca reconheceu a presidência interina de Áñez.
Dirigentes da direita boliviana, entre eles o agora ex-candidato presidencial Luis Fernando Camacho, visitaram Araújo em 2019. O encontro foi alguns meses antes da crise que levou à saída de Morales do poder. Já em 2020, o governo brasileiro tentou evitar a derrota da direita na Bolívia. Disse aos principais candidatos com os quais tem um canal de comunicação que somente unidos venceriam.
A dica não foi seguida e o MAS obteve um triunfo contundente. A direita boliviana perdeu o poder e o Brasil, um aliado na América do Sul. Maduro continua sendo presidente da Venezuela, a Argentina voltou a ser governada pelo peronismo e a Bolívia, agora, ficará novamente em mãos do MAS de Morales.
Bolsonaro poderá, novamente, apelar para o pragmatismo: afinal, existem muitos interesses econômicos em jogo com o país com o qual o Brasil tem sua maior fronteira. Mas, do ponto de vista da geopolítica, o Brasil perdeu de lavada.
Fonte: O Globo
Meu comentário: Com um presidente que comanda uma atrofiada política de convivência internacional, e com um ministro das relações exteriores que é um completa anta, muitas outras derrotas virão para a diplomacia brasileira.
Jota Parente
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