quarta-feira, outubro 07, 2020

Xeque de Xi em Bolsonaro (por José Casado)

Amadorismo diplomático custa caro

Jair Bolsonaro começa a perceber que fez um mau negócio ao se meter na guerra econômica dos Estados Unidos contra a China.

Apostou num tratado de comércio com Donald Trump. Fracassou. No melhor cenário, vai chegar ao meio do mandato com um acordo de compra de material bélico nos EUA, e “facilidades” de vistos para empresários.

Amadorismo diplomático custa caro. Bolsonaro ajudou a propagar ideias hostis aos chineses, como a do “comunavírus”. Acreditou na ficção da “nova ordem” à margem da China, a potência emergente. Mas, no meio da guerra de Trump contra o “exército tecnológico de 5G” da Huawei, apelou ao líder Xi Jiping por socorro para viabilizar um leilão de petróleo.

Em silêncio, Pequim mudou de tática. Um ano depois, o xeque de Xi: nunca o Brasil esteve tão dependente da China. Entre janeiro e agosto aumentaram em 14% as compras chinesas no mercado nacional. Já as vendas totais aos EUA caíram 32%.

Hoje, Pequim é destino de 40% das exportações do agronegócio. É o maior cliente, e, também, o comprador quase exclusivo (72%) de soja. Suas aquisições de alimentos já superam em US$ 5 bilhões a soma das compras feitas pelos EUA, América Latina, Europa, África e Oriente Médio. A trading estatal chinesa Cofco prevê aumento de importações em 5% ao ano durante a próxima década.

Bolsonaro ficou prisioneiro no front da guerra EUA-China. Terá de decidir se aceita a tecnologia 5G da Huawei. É escolha política com consequências, como nas questões ambientais do acordo Mercosul-União Europeia. Começa a descobrir a falta que faz a diplomacia profissional na condução da política externa.

 Fonte: Ricardo Noblat

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