Médicos da linha de frente no município atestam também a velocidade para a evolução da doença
Profissionais de saúde de Manaus (AM) relatam que a variante do novo coronavírus que tem levado ao caos o sistema de saúde do Estado e provocado muitas mortes, é mais grave ao que se observava na primeira onda.
As infecções causadas pelo vírus agora são mais graves e levam menos tempo para chegar a estágios avançados de comprometimento dos pulmões, por exemplo.
Além da gravidade e velocidade da progressão da doença, dados mostram que pessoas mais jovens estão morrendo agora. Segundo registros de óbitos nos últimos 30 dias, quatro em cada dez vítimas fatais tinham menos de 60 anos no estado.
Jovens
A infectologista Silvia Leopoldina, que atua nas redes públicas estadual e municipal de Manaus, afirma que "sem dúvida muito mais jovens estão morrendo. Não estamos falando só de grupo de risco: isso está em todas as faixas etárias, atingindo bebês, crianças, adolescentes mesmo sem comorbidade".
Silencioso
"Algo de muito diferente está ocorrendo em Manaus. Não sei informar se é uma cepa nova ou se é algo diferente. Mas quem está na linha de frente está vendo um aumento da gravidade dos casos", conta o infectologista e pesquisador Noaldo Lucena, que atua em clínica popular, atendimento domiciliar e hospitais públicos.
Lucena aponta também que exames nesta segunda onda mostram lesões mais graves nos pulmões. "Neste ano, eu já vi mais 150 pessoas aqui na clínica e mais 300 no serviço público. Digo que menos de 2% deles tinham comprometimento leve. Os demais eram comprometidos acima de 50%. Alguns com 70%, 80%, 90%, com necessidade de internação imediata e até suporte ventilatório", diz.
O médico também chamou a atenção para um dado preocupante: menos sintomas são percebidos em um exame clínico. "Você ausculta o pulmão do paciente e não escuta nada. Mas, quando vemos a imagem tomográfica, não acredita como há um comprometimento tão grande com tão pouca repercussão clínica notória."
Evolução rápida
A enfermeira e professora Ana Paula Rocche afirma que "o vírus não é mais o mesmo". A queda de saturação de pacientes ocorre de forma muito mais rápida e silenciosa, segundo ela.
"O paciente começa no primeiro dia sentindo uma dor de garganta; depois sente uma dor de cabeça; no terceiro dia ele já começa uma febre, mas no quarto começa uma falta de ar começa, e quando você coloca um oxímetro nele, a saturação, que era para estar em 98%, está 70%, 75%. Isso não é normal! É uma coisa extremamente grave que ataca as vias aéreas e pulmões, e de forma silenciosa demais", pontua.
"O pulmão parece que vai ressecando, que vai encolhendo; e aí você entra com tudo que é antibiótico, anticoagulante e o pulmão não expande. Isso não é normal", diz.
Ana Paula, que acompanha de perto a situação particular de muitos pacientes internados com covid, afirma que muitos pararam de reclamar de dor e passaram a relatar uma “agonia” no peito.
Fonte: UOL
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