Jornalistas e você - Não há democracia que preste no mundo sem uma imprensa livre e forte. Entenda por ”livre” o conceito literal da palavra. Assim como não há meia gravidez, não há meia liberdade. Certa ou errada; parcial ou imparcial; justa ou injusta; de boa ou péssima qualidade; remunerada ou não, qualquer forma de imp+rensa é sempre melhor – ou menos pior – que nenhuma imprensa.
Jornalistas são seres humanos e trabalhadores comuns, como quaisquer desses cretinos que os atacam nas redes sociais, na internet e nas ruas. E grupos de comunicação são o sustento de dezenas de milhares de pais e mães de famílias, como são as fábricas, os shoppings e as lojas. Cercear o trabalho da imprensa é, antes de tudo, cercear o direito ao trabalho e à vida.
Se você não gosta ou não concorda com a linha editorial de um veículo de imprensa, beleza, é um direito legítimo seu. Deixe de segui-lo e critique-o à vontade. Diga a todos que conhece que se trata de uma porcaria – ou “lixo”, para ficar no linguajar atual – e recomende um outro de sua preferência. Mas jamais pregue seu fechamento ou deseje sua extinção. É estupidez.
Governos e Imprensa - O sonho de qualquer péssimo governante, de qualquer tiranete, de qualquer governo fascista é uma imprensa servil. Melhor ainda é imprensa alguma. Não há nem houve um único regime desta espécie, no mundo, em qualquer tempo, que tenha permitido livre circulação de opinião e de informação. Ditaduras e tiranias pseudo democráticas estão aí, aos montes, para provar.
É mentira que a imprensa brasileira – ou a de qualquer país do mundo – seja o agente do mal e o motivo para que as coisas não deem certo com o governo. Como qualquer negócio, se as coisas vão bem, os veículos ganham mais dinheiro, já que terão mais anunciantes. O mesmo ocorre com os jornalistas: quanto melhores as coisas, mais empregos e melhores os salários.
A imprensa, bem ou mal, apenas noticia e opina. Ela não escolhe ministros, não legisla, não julga e nem executa. Não é responsável por políticas econômicas e sociais. Não decide sobre a condução da saúde, educação e segurança públicas. Como poderia, então, ser um entrave ou mesmo derrubar um governo popular e democraticamente eleito? Com palavras? Ora…
Psicologia, Lula e Bolsonaro - Quando a imprensa mostra cenas de aglomerações, você fica com raiva porque também se aglomera e a ataca. Quando divulga o número de mortos por Covid-19, você fica com medo e a ataca. Quando mostra a psicopatia e o negacionismo do presidente, você se dá conta de que foi enganado e a ataca. A culpa, meus caros, não é de quem os alerta para a realidade.
Culpar a imprensa é uma tática velha e conhecida, praticada por todos os maus governantes do mundo. Infelizmente, entra ano, sai ano; entra década, sai década e o embuste se repete. É o tal negócio do “não se mexe em time que está ganhando”. Uma boa parcela das pessoas é presa fácil para populistas cretinos, ladrões e incompetentes. Lula e Bolsonaro sabem bem.
Se você, leitor amigo, leitora amiga, chegou até aqui, ótimo! Se concorda comigo, faça sua parte como defensor(a) da democracia e das liberdades individuais. Ajude a combater estes tiranetes governantes e seus bibelôs na sociedade. Mas, se não concorda, antes de xingar ou de bater em retirada, repense e reflita sobre o que leu. Coloque-se no lugar de quem ofende.
Não há fórmula mágica ou receita única para o sucesso e desenvolvimento de um país. Mas certas coisas são comuns a nações que deram certo. Tolerância e respeito ao contraditório é uma delas. Não há democracia sem divergência. Não há crescimento sem debate. E não há progresso no silêncio. As vozes – quaisquer vozes – têm de ser livres, ouvidas e respeitadas.
Ricardo Kertzman, jornalista, colunista da Revista ISTOÉ
Nenhum comentário:
Postar um comentário