Aliados de Ernesto Araújo avaliam que o chanceler foi abandonado à própria sorte, na última quarta-feira, em uma sabatina no plenário do Senado, ao falar sobre a compra de vacinas e insumos para a fabricação de imunizantes contra a Covid-19.
Segundo interlocutores próximos a Araújo, a Secretaria de Governo, que tem à frente o ministro Luiz Eduardo Ramos, "dormiu no ponto".
Durante a sessão, a grande maioria dos senadores presentes pediu a demissão do chanceler de Jair Bolsonaro, por considerar que sua atuação junto a outros países para trazer vacinas para o Brasil foi desastrosa. Ernesto Araújo ouviu por mais de cinco horas que deveria deixar o Itamaraty e ninguém da bancada do governo o ajudou.No mesmo dia, na parte da manhã, Araújo participou de uma audiência pública da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, quando falou sobre o assunto bem mais à vontade. Defensores do governo, incluindo o filho do presidente da República, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), destacaram como positiva a atuação do chanceler e ninguém pediu sua cabeça explicitamente, como aconteceu no Senado, em uma sessão que começou no meio da tarde.
O ministro Luiz Eduardo Ramos é general e, como os demais militares, não mantém boas relações com a ala ideológica do governo, da qual faz parte o ministro das Relações Exteriores. Recentemente, o vice-presidente Hamilton Mourão chegou a dizer que haveria troca de comando no Itamaraty em uma reforma ministerial e acabou desautorizado por Jair Bolsonaro.
Outro integrante da ala ideológica ou olavista — em uma referência ao guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho — é o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Filipe Martins, que está sempre ao lado de Araújo em eventos em que o chanceler precisa prestar esclarecimentos sobre a política externa brasileira.
Filipe Martins está sendo investigado pela política legislativa do Senado, a pedido do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Durante a sabatina com Araújo, o assessor presidencial fez um sinal com a mão direita interpretado como obsceno por alguns parlamentares, mas visto em redes sociais como uma alusão ao supremacismo branco. Martins negou as duas acusações. Disse que estava apenas ajustando a lapela do terno.
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