O diagnóstico é correto, mas merece o adendo de que a chegada ao Planalto de um populista de direita resultou da rejeição desse ciclo político que se iniciou nos anos oitenta. Não se pode confundir a democracia que vale a pena defender com o mecanismo nefasto mantido por políticos que a defendem apenas retoricamente.
No quadro de crises permanentes que caracteriza a Nova República, marcada por práticas patrimonialistas e estruturada em um presidencialismo problemático que convive com um sistema loteado por partidos desacreditados que se multiplicam ao sabor de uma legislação permissiva que os engorda com fundos bilionários em relação aos quais mal prestam contas, a Operação Lava Jato deixou à mostra a real engrenagem da nossa perversa política, de modo geral, e do Partido dos Trabalhadores (PT), em particular: a captura do Estado em esquema sistêmico e gigantesco de corrupção por meio de conúbio entre grandes empreiteiras, burocratas estatais e líderes políticos autointitulados democratas.
Bolsonaro ser um desastre pandêmico não torna Lula menos corrupto. Importa repisar isso quando começamos esse estranho abril, no dia da mentira, assistindo à amistosa entrevista concedida por Lula ao autor do “País dos Petralhas” e, nessa mesma Folha, lendo Mario Sergio Conti clamar pelo messianismo de um Lula ressurreto.
Até Luiz Felipe Pondé, avesso à corrupção lulopetista, chegou a ponderar que, em caso de segundo turno entre Alien e o Predador, o menos traumático seria o Predador Lula, dotado de uma forma mais humana. Não há, porém, carma coletivo que nos condene novamente a tão trágico dilema eleitoral.
Catarina Rochamonte
Doutora em filosofia, autora do livro 'Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais' e presidente do Instituto Liberal do Nordeste (ILIN).
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