Heloísa de Carvalho rompeu com o pai em 2017 e, desde então, vem criticando os seguidores das ideias do escritorSÃO PAULO - Filha de Olavo de Carvalho, escritor que firmou as bases teóricas que mais tarde se popularizaram entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro — campo que ganhou até uma denominação própria, o olavismo —, Heloísa de Carvalho se filiou ao PT nesta segunda-feira. O partido costuma ser referido com palavras pouco elogiosas por seu pai.
Heloísa, de 51 anos, é rompida com Olavo desde 2017, quando ele a bloqueou nas redes sociais. Ela, que diz nunca ter deixado de votar em candidatos de esquerda, a partir de então, tem criticado publicamente o que chama de "bolsolavetes", os seguidores fiéis do escritor e do presidente Jair Bolsonaro, e pregado contra o que considera ser um "obscurantismo" proveniente das ideias do pai.
Ela diz não saber se o pai teve conhecimento de sua filiação, mas dá gargalhadas ao imaginar a reação.
— Ele deve estar com muito ódio. Ele já sabia da minha veia esquerdista, mas nunca podia me acusar de petista porque sabia que eu não era filiada. Agora ele pode, com razão — declara ela.
A filiação calhou propositalmente no mesmo dia em que ela foi vacinada, em Atibaia, onde mora. Enquanto recebia a aplicação da dose, ela tirou uma foto segurando um cartaz em que chamava Bolsonaro de "genocida". Ela diz ter tomado a decisão em razão da campanha antivacina propagada por Olavo.
- Eu perdi uma grande amiga no mesmo dia em que o Olavo tuitou que ninguém morre de Covid. Por conta disso tudo eu achei que seria um momento simbólico me filiar no dia em que tomo a primeira vacina. Eu fiquei revoltada com essa postagem dele - afirma.
Ela diz querer concorrer a deputada estadual em 2022 e encampar sua "bandeira-mor", o combate ao "obscurantismo". Por ter completado o Ensino Médio perto dos 30 anos (o pai era contra colocar os filhos na escola), a pauta da educação também é central para Heloísa.
Próxima aos deputados federais Paulo Teixeira e Alexandre Padilha, ambos do PT de São Paulo, Heloísa tem no vereador paulistano Eduardo Suplicy a maior admiração. Ela diz votar no PT desde a eleição de Luiza Erundina, em 1988, e garante que a petista teve também o voto do pai.
— Ele votava no PT nos anos 80, 90. Depois é que virou isso daí. Eu sempre votei. Lula, Dilma. Fiz campanha para o Haddad. Muita gente não acredita — diz ela.
Além do contraste de se filiar no partido mais atacado pelos seguidores do pai, Heloísa é personagem de outros episódios curiosos do noticiário político recente. Ela é vizinha da casa onde Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) investigado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, foi preso em junho de 2020.
Queiroz estava escondido numa casa de Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, no bairro Jardim dos Pinheiros, em Atibaia. A cidade fica a 65 quilômetros de São Paulo e é onde Heloísa mora desde 1988.
Na ocasião, Heloísa tirou fotos em frente à casa de Wassef segurando uma taça de suco de laranja, em referência ao termo para quem intermedeia transações financeiras fraudulentas.
Fonte: O Globo
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