No Brasil do governo Jair Bolsonaro, o avanço da inflação, até agora, foi tratado com certo desdém. Afinal de contas, o primeiro efeito da alta de preços é positivo sobre o volume de dinheiro arrecadado pela Receita Federal.
O avanço também abre espaço para que o teto de despesas de 2022 — o ano onde os eleitores vão garantir mais quatro anos para Bolsonaro ou escolher um novo inquilino para o Palácio da Alvorada — fique mais alto, o que permite incluir um pouco mais de gasto no já sofrido orçamento federal.
O problema do desdém inflacionário é que o avanço “temporário” da inflação, como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sempre tratou o aumento dos preços até aqui, não tem dado mostras de perda de fôlego.
Para complicar um pouco mais a equação, o tal clima da Terra resolveu dar o ar da graça.
A massa de ar frio que deve atingir o Centro-Sul do Brasil a partir desta quarta-feira será a terceira onda gelada do inverno de 2021, estação que até seu fim ainda pode ver novas “friacas”.
O efeito da geada sobre a lavoura pode ser devastador. E isso é ainda pior, se lembrarmos que os agricultores sofreram até pouco tempo atrás com uma seca extrema. Foi essa seca, aliás, que fez o governo apelar às usinas termelétricas para garantir o abastecimento de energia no país. O efeito da medida foi uma conta de luz bem mais salgada.
Brincar com a inflação nunca foi uma boa escolha para quem está no comando do governo. Quem é assalariado e gasta boa parte do seu dinheiro com comida e moradia sabe bem disso. A irritação do eleitor com pouco dinheiro no bolso e muita conta para pagar pode gerar uma onda de frio cortante sobre os sonhos de quem quer ser reeleito na Primavera de 2022.
O Globo, por Renato Andrade
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