Um artigo publicado na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association) traz quatro possíveis cenários sobre como será a vida pós-pandemia. Segundo pesquisadores da Universidade Brown, nos EUA, no futuro poderemos observar situações de erradicação, eliminação, coabitação e conflagração.
Estes panoramas, dizem os especialistas, vão depender principalmente do avanço da vacinação no mundo, da qualidade das vacinas e do surgimento de variantes.
No Brasil, os especialistas consideram mais prováveis situações de coabitação e, a longo prazo, até de eliminação.
A erradicação significa ter a circulação do Sars-CoV-2 próxima a zero, como aconteceu com a varíola, por exemplo. “A imunidade derivada da vacina e da infecção teria que ser altamente eficaz, duradoura, capaz de prevenir a transmissão secundária e a reinfecção e proteger contra todas as formas de variantes”, afirmam os pesquisadores, reconhecendo a meta como “muito ambiciosa”.
Outro complicador para a erradicação é que, além dos seres humanos, há reservatórios animais do vírus, como em morcegos e martas. Assim, a vacinação teria que ser contínua de qualquer forma.
Já a eliminação surge como um objetivo mais realista, assim como aconteceu com o sarampo e a rubéola. Nesse caso, a redução é regional, e não global, mas a prevalência da doença pode chegar a zero em regiões com alta cobertura vacinal.
O cenário mais plausível, no entanto, seria a coabitação com o vírus, graças à proteção oferecida pelas vacinas, prevenindo as manifestações mais graves da Covid-19, diminuindo a cadeia de transmissão e combatendo a maioria das variantes. Assim, surgiriam bolsões livres de Sars-CoV-2, mas, na maioria dos lugares, ainda persistiriam infecções em níveis mais baixos, principalmente entre os não vacinados.
À medida que o acesso à vacina se expandir globalmente e a geração de variantes for reduzida, o número de áreas livres de vírus pode crescer, mas provavelmente seriam necessários reforços vacinais. Pequenos surtos poderiam ocorrer, exigindo medidas preventivas, como uso de máscaras e distanciamento social.
“No longo prazo, entretanto, à medida que a imunidade global, devido à exposição ou vacinação, se torna comum, os sintomas da doença experimentados podem vir a se assemelhar aos do resfriado comum, que é provocado por coronavírus sazonais”, dizem os autores.
Essa é também a aposta da epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo:
— No Brasil, a pandemia ainda está descontrolada, então é difícil pensar no pós. Como aqui as pessoas querem se vacinar, mas ainda faltam doses, acho que estaremos mais próximos de um cenário de coabitação assim que atingirmos 80% das pessoas vacinadas, incluindo adolescentes.
Vamos ter o vírus circulando ainda, além de surtos, só que de forma mais controlada. No entanto, até o fim do ano devemos seguir no cenário de conflagração.
Este último panorama descrito pelos especialistas de Brown, que deve perdurar por um longo tempo em algumas regiões, consiste em: grande parte da população sem vacinação completa, além da circulação alta do Sars-Cov-2, provocando muitas internações e mortes. Contribuem para essa situação o surgimento de variantes e vacinas que não são 100% eficazes.
Fonte: O Globo
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