Mobilização de líderes do mundo corporativo, economistas, cientistas políticos e outros intelectuais começou em discussões
em grupos de WhatsApp sobre necessidade de deixar claro que sociedade não
aceita retrocessos autoritários.Luíza Trajajo (Magazine Luíza)
São Paulo e Rio – O Globo
- Empresários que assinaram o manifesto de apoio ao processo eleitoral
brasileiro em resposta aos ataques de
Jair Bolsonaro à urna eletrônica e ao presidente do Tribunal Superior
Eleitoral, Luís Roberto Barroso indicaram que tomaram a decisão
de romper o silêncio sobre a ofensiva do presidente ao identificar um risco
real de ameaça à democracia e às instituições.
Então
sentiram a necessidade de mandar um recado claro, reforçando que a sociedade
não aceitará retrocessos autoritários.
Ex-presidente do
Santander e do Grupo Abril, o administrador Fábio Barbosa afirmou que o
manifesto foi importante para externalizar a visão de um grupo grande e diverso
de líderes empresariais, economistas, cientistas políticos e outros intelectuais de que não há duvidas sobre a lisura e credibilidade do processo
eleitoral no país. Ele contou que a mobilização começou informalmente e
logo ganhou uma grande adesão.Fabio Barbosa, ex-presidente do Santander no Brasil
- O manifesto começou com uma conversa de grupos pelo
WhatsApp e logo teve adesão maciça. Mostrou o anseio em se manifestar sobre a
questão e faltava uma posição mais enfática dos empresários - disse,
acrescentando que o manifesto chegou a 7 mil assinaturas.
Barbosa frisou que, em vez desse tipo de crise, há outras
prioridades a serem enfrentadas, como a reforma tributária, administrativa. E
frisou que o processo eleitoral não deve ser o foco neste momento:
- Há muitas outras prioridades no país. Por isso decidimos
nos posicionar.
Sem ‘fulanizar’ - Segundo Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador
da gestora paulista Mauá Capital e ex-diretor de Política Monetária do Banco
Central, o manifesto não menciona diretamente o presidente porque “a ideia não
é fulanizar o debate”.Luiz Fernando Figueiredo, Credit Suisse
- As instituições no Brasil são parrudas. Independentemente disso, é
importante que a sociedade deixe claro que a gente não aceita discussões que
possam colocar em xeque o que a gente já tenha institucionalizado no país. É
para deixar claro que estamos olhando e não estamos brincando. A sociedade não
aceita isso — disse Figueiredo, em entrevista à coluna Capital, do Globo.
'Não se
discute eleição. Cumpre-se a legislação' - Outro signatário do manifesto, Guilherme Leal, um
dos fundadores da Natura e copresidente do conselho de administração da empresa, explicou que considera “totalmente inaceitável” que
lideranças políticas questionem a realização de eleições:
- A sociedade precisa se manifestar em alto e bom
som. Não se discute eleição. Cumpre-se o que está na legislação. A sociedade
precisa se manifestar de forma enfática para defender o Estado democrático de
Direito.
“Nós não conseguimos lidar com as outras crises sem
ter democracia. E a sociedade precisa falar, na sua diversidade, nas suas
lideranças, nas suas elites”
Guilherme Leal fundador da Natura.
Leal, que conta que teve contato com o manifesto
por meio do Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP), organização que
reúne empresários, economistas e cientistas políticos. A troca de mensagens
ganhou força após as declarações do presidente, com a “situação aguda de
confrontação entre Poderes”, descreveu o empresário:
- Infelizmente, é um momento inédito. Fui para
a rua no movimento das Diretas Já e vivi os tempos escuros da ditadura, sei o
valor que tem a democracia. Ela não vem de graça e precisa ser resguardada. Mas
ela vem explicitamente sendo colocada em dúvida. Toda hora se fala de “dentro e
fora de linhas”. Isso é uma ameaça a que a sociedade não pode aceitar e precisa
se manifestar com clareza.
O empresário, que atua politicamente por meio
da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), disse acreditar que a
classe política é sensível à manifestação da sociedade e que a maior parte dos
políticos sinalizou que não “seria parceira de aventuras”.
‘Sociedade
não pode assistir calada’
Outro
líder empresarial influente a assinar a carta, o CEO do Credit Suisse no
Brasil, José Olympio Pereira, disse que o país vive "um quadro dramático
de crise institucional em formação" e que a sociedade "não pode
assistir calada".
- Minha sensação é de que estamos igual ao sapo
na panela. A temperatura está aumentando e a sociedade e os mercados estão
fingindo que nada existe. Isso é muito grave. Temos que pular (da panela)
enquanto é tempo. Não podemos assistir calados. É preciso dar um basta e esvaziar
esse balão antes que a crise se forme — disse José Olympio em entrevista
à coluna Capital, do GLOBO.
Para
Olympio, o mercado financeiro em particular está "surpreendentemente
leniente" em relação à crise institucional provocada por Bolsonaro.
- A situação é mais séria do que o que está refletido nos mercados e
isso tem a ver com um cenário externo muito favorável - avaliou. - Estou
preocupado com o ano que vem. Podemos ter uma bagunça. Não acredito que vamos
ter golpe ou que as Forças Armadas vão tentar algo fora da caixa. Mas podemos
ter muita confusão e radicalização e isso é muito ruim.
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