Jota Parente |
Segundo vários historiadores, houve apoio ao golpe, também, por parte de
segmentos importantes da sociedade: os grandes proprietários rurais, a
burguesia industrial paulista, uma grande parte das classes médias urbanas (que
na época girava em torno de 35% da população total do país) e o setor
conservador e anticomunista da sociedade.
Pouco antes de 1º de abril de 1964, o Brasil era um país que vivia um intenso debate em torno
de reformas sociais, políticas e econômicas, que vinham sendo expressas por
setores da sociedade civil, como sindicatos e as ligas camponesas. Foi o tempo
em que a Reforma Agrária mais avançou no país, o que foi outro motivo para os
donos de grandes propriedades apoiarem qualquer coisa que fosse contra.
Fazia apenas 15 anos que Fidel Castro
havia tomado o poder e implantado uma ditadura de esquerda em Cuba, com apoio
irrestrito da União Soviética, o que representava uma gigantesca preocupação para
os norte-americanos, dada a proximidade da famosa ilha do Caribe em relação ao
território da terra do Tio Sam.
Assim como Simón Bolivar foi o maior
libertador da América Latina, e ele lutava para que todos tivessem liberdade,
não, para implantar ditaduras locais, Che Guevara transformou-se no cavaleiro
da foice e do martelo, lutando para implantar o Comunismo em países sul-americanos,
embrenhando-se na selva, a começar pela Bolívia, onde a carreira do médico revolucionário
argentino terminou.
Pouco antes de 1º de abril de 1964, o Brasil era um país que vivia um intenso debate em torno
de reformas sociais, políticas e econômicas, que vinham sendo expressas por
setores da sociedade civil, como sindicatos e as ligas camponesas. O golpe
militar pôs um fim nisso.
A
ditadura enfrentou resistências, matou muita gente, e nesse meio tem gente que desapareceu
para sempre. Até hoje isso rende processos na justiça, que também trata dos
casos de tortura a presos políticos. Bastava discordar do governo para entrar
na mira.
O
comportamento do governo na ditadura militar no que diz aos direitos humanos
foi o mais lamentável possível. Ninguém, a não ser os próprios militares, tinha
os seus direitos garantidos. Todavia, nunca alimentei nenhuma ilusão sobre a
maioria dos movimentos de guerrilha que combateram o regime de então. Se
tivessem vencido, o Brasil estaria alinhado a Cuba e à União Soviética. Trocar-se-ia
uma ditadura de direta por uma de esquerda, que talvez viesse a ser até mais
sanguinária. O resto da história como seria se isso tivesse ocorrido, o leitor
já pode imaginar.
Depois disso, o tempo em que a
política no Brasil mais causou preocupação quanto a uma guinada rumo ao
Comunismo foi quando o Partido dos Trabalhadores assumiu o poder. A quase
expedição de um decreto presidencial no governo de Dilma Rousseff arrepiou os
cabelos de muita gente, não somente de quem é escancaradamente de direita. Era
o famigerado Decreto número 8.243, de 23 de maio de 2014, que pretendia
instituir a Regulação dos Meios de Comunicação, que foi denunciado e abortado.
Chamado por um editorial do Estadão de
“um conjunto de barbaridades jurídicas” e
por Reinaldo Azevedo de “a instalação da ditadura petista por decreto”,
o Decreto 8.243/2014 foi editado
pela Presidência da república em 23/05/14, tendo sido publicado no Diário
Oficial no dia 26 e entrado em vigor na mesma data. Entender qual o real
significado do Decreto exige ler pacientemente todo o seu texto, tarefa
relativamente ingrata.
O PT quis se perpetuar no poder usando
artimanhas que terminaram não dando certo porque houve reações. Com dificuldade
para emplacar o seu projeto de poder, e com o apoio de diversos partidos,
alguns dos quais hoje fazem parte do grupo de apoio ao presidente Jair
Bolsonaro, além de outros que são oposição, o PT resolveu atacar os cofres. E fez
isso como ninguém tinha feito antes.
Dos 15
partidos representados na Câmara em 2003, 11 apoiavam o governo. Esse grupo reunia
376 deputados, ou cerca de 73% da Casa. Eram eles: PT (90 deputados, PMDB (77),
PTB (52), PP (49), PL (43) PPS (21), PSB (20), PC do B (10 deputados), PSC (7),
PV (6) e PSL (1). Desses, o PP e o PTB estão com a corda toda no governo
Bolsonaro, enquanto o MDB faz uma oposição meia boca, esperando a hora de
voltar a fazer parte de algum governo.
Perguntaram ao
presidente Jair Bolsonaro porque ele negociou com o Centrão, ele respondeu que
é o que ele tem para governar, ou desgovernar, pois gasta a maior parte tempo
discutindo teorias conspiratórias. Quando não tem, ele inventa uma, mas, a sua
preferida é a ameaça do Comunismo ser implantado no país. As instituições tem
se mostrado fortes, tanto para repelir as sandices do presidente, quanto para
não permitir que a democracia seja derrubada por nenhum regime de exceção.
Pelo quadro que se
apresenta no momento, o Brasil parece bem estruturado para sobreviver a esses solavancos
e projetos de aventuras políticas, apesar de ser triste ver uma parte da
sociedade brasileira apoiando as aventuras do presidente, para quem não houve
ditadura e para o qual a tortura pode ser justificada. Seu maior sonho de
consumo é comandar o país com mão de ferro, com o chicote na mão.
A maior parte da
sociedade brasileira repele qualquer coisa que pareça tentativa de romper o
estado de direito. Nem com o alto comando do Exército Bolsonaro conta para
botar tanques de verdade nas ruas, daqueles que não ficam soltando fumaça e
ridicularizando a imagem do Brasil no exterior. A mesma sociedade que apoiou o
golpe de 1964, reage de forma totalmente diferente hoje. Não há clima para
golpe. O Brasil não é uma republiqueta de bananas. Tem um nome a zela no cenário
mundial, e a maioria dos brasileiros sabe disso.
Como diz o professor de História,
Leandro Karnal, quem defende a ditadura, se for jovem, deve ter faltado às
aulas de História, por ignorado fatos, e se for velho, deve estar sofrendo com problema
de esquecimento, porque ditadura nenhuma presta, tanto faz se é de direita ou
de esquerda. Eu quero distância.
Jota Parente
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