O golpe militar de 1964 contou com expressivo apoio da Igreja Católica, que era bem mais forte do que hoje, pois
as igrejas evangélicas cresceram muito no decorrer desses 57 anos. Havia um
clamor popular e houve apoio dos Estados Unidos, uma vez que a ameaça do Comunismo
ser implantado no Brasil pairava no ar. Jota Parente
Segundo vários historiadores, houve apoio ao golpe, também, por parte de
segmentos importantes da sociedade: os grandes proprietários rurais, a
burguesia industrial paulista, uma grande parte das classes médias urbanas (que
na época girava em torno de 35% da população total do país) e o setor
conservador e anticomunista da sociedade.
Pouco antes de 1º de abril de 1964, o Brasil era um país que vivia um intenso debate em torno
de reformas sociais, políticas e econômicas, que vinham sendo expressas por
setores da sociedade civil, como sindicatos e as ligas camponesas. Foi o tempo
em que a Reforma Agrária mais avançou no país, o que foi outro motivo para os
donos de grandes propriedades apoiarem qualquer coisa que fosse contra.
Fazia apenas 15 anos que Fidel Castro
havia tomado o poder e implantado uma ditadura de esquerda em Cuba, com apoio
irrestrito da União Soviética, o que representava uma gigantesca preocupação para
os norte-americanos, dada a proximidade da famosa ilha do Caribe em relação ao
território da terra do Tio Sam.
Assim como Simón Bolivar foi o maior
libertador da América Latina, e ele lutava para que todos tivessem liberdade,
não, para implantar ditaduras locais, Che Guevara transformou-se no cavaleiro
da foice e do martelo, lutando para implantar o Comunismo em países sul-americanos,
embrenhando-se na selva, a começar pela Bolívia, onde a carreira do médico revolucionário
argentino terminou.
Pouco antes de 1º de abril de 1964, o Brasil era um país que vivia um intenso debate em torno
de reformas sociais, políticas e econômicas, que vinham sendo expressas por
setores da sociedade civil, como sindicatos e as ligas camponesas. O golpe
militar pôs um fim nisso.
A
ditadura enfrentou resistências, matou muita gente, e nesse meio tem gente que desapareceu
para sempre. Até hoje isso rende processos na justiça, que também trata dos
casos de tortura a presos políticos. Bastava discordar do governo para entrar
na mira.
O
comportamento do governo na ditadura militar no que diz aos direitos humanos
foi o mais lamentável possível. Ninguém, a não ser os próprios militares, tinha
os seus direitos garantidos. Todavia, nunca alimentei nenhuma ilusão sobre a
maioria dos movimentos de guerrilha que combateram o regime de então. Se
tivessem vencido, o Brasil estaria alinhado a Cuba e à União Soviética. Trocar-se-ia
uma ditadura de direta por uma de esquerda, que talvez viesse a ser até mais
sanguinária. O resto da história como seria se isso tivesse ocorrido, o leitor
já pode imaginar.
Depois disso, o tempo em que a
política no Brasil mais causou preocupação quanto a uma guinada rumo ao
Comunismo foi quando o Partido dos Trabalhadores assumiu o poder. A quase
expedição de um decreto presidencial no governo de Dilma Rousseff arrepiou os
cabelos de muita gente, não somente de quem é escancaradamente de direita. Era
o famigerado Decreto número 8.243, de 23 de maio de 2014, que pretendia
instituir a Regulação dos Meios de Comunicação, que foi denunciado e abortado.
Chamado por um editorial do Estadão de
“um conjunto de barbaridades jurídicas” e
por Reinaldo Azevedo de “a instalação da ditadura petista por decreto”,
o Decreto 8.243/2014 foi editado
pela Presidência da república em 23/05/14, tendo sido publicado no Diário
Oficial no dia 26 e entrado em vigor na mesma data. Entender qual o real
significado do Decreto exige ler pacientemente todo o seu texto, tarefa
relativamente ingrata.
O PT quis se perpetuar no poder usando
artimanhas que terminaram não dando certo porque houve reações. Com dificuldade
para emplacar o seu projeto de poder, e com o apoio de diversos partidos,
alguns dos quais hoje fazem parte do grupo de apoio ao presidente Jair
Bolsonaro, além de outros que são oposição, o PT resolveu atacar os cofres. E fez
isso como ninguém tinha feito antes.
Dos 15
partidos representados na Câmara em 2003, 11 apoiavam o governo. Esse grupo reunia
376 deputados, ou cerca de 73% da Casa. Eram eles: PT (90 deputados, PMDB (77),
PTB (52), PP (49), PL (43) PPS (21), PSB (20), PC do B (10 deputados), PSC (7),
PV (6) e PSL (1). Desses, o PP e o PTB estão com a corda toda no governo
Bolsonaro, enquanto o MDB faz uma oposição meia boca, esperando a hora de
voltar a fazer parte de algum governo.
Perguntaram ao
presidente Jair Bolsonaro porque ele negociou com o Centrão, ele respondeu que
é o que ele tem para governar, ou desgovernar, pois gasta a maior parte tempo
discutindo teorias conspiratórias. Quando não tem, ele inventa uma, mas, a sua
preferida é a ameaça do Comunismo ser implantado no país. As instituições tem
se mostrado fortes, tanto para repelir as sandices do presidente, quanto para
não permitir que a democracia seja derrubada por nenhum regime de exceção.
Pelo quadro que se
apresenta no momento, o Brasil parece bem estruturado para sobreviver a esses solavancos
e projetos de aventuras políticas, apesar de ser triste ver uma parte da
sociedade brasileira apoiando as aventuras do presidente, para quem não houve
ditadura e para o qual a tortura pode ser justificada. Seu maior sonho de
consumo é comandar o país com mão de ferro, com o chicote na mão.
A maior parte da
sociedade brasileira repele qualquer coisa que pareça tentativa de romper o
estado de direito. Nem com o alto comando do Exército Bolsonaro conta para
botar tanques de verdade nas ruas, daqueles que não ficam soltando fumaça e
ridicularizando a imagem do Brasil no exterior. A mesma sociedade que apoiou o
golpe de 1964, reage de forma totalmente diferente hoje. Não há clima para
golpe. O Brasil não é uma republiqueta de bananas. Tem um nome a zela no cenário
mundial, e a maioria dos brasileiros sabe disso.
Como diz o professor de História,
Leandro Karnal, quem defende a ditadura, se for jovem, deve ter faltado às
aulas de História, por ignorado fatos, e se for velho, deve estar sofrendo com problema
de esquecimento, porque ditadura nenhuma presta, tanto faz se é de direita ou
de esquerda. Eu quero distância.
Jota Parente
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