O mundo da política e o da economia são bem diferentes. Mas o reflexo de um no outro é inevitável. Nos últimos dias, Bolsonaro conduziu uma escalada de ameaças institucionais, insinuações, truques de linguagem e manipulação como parte da mobilização para o ato de 7 de setembro, que ele convocou e comanda. Na política, cada palavra provoca reação, e o barulho aumenta. Na economia, tudo é visto com mais frieza e objetividade. Uma pergunta feita sempre é: o que isso muda de fato? Os que decidem o destino do dinheiro entenderam que Bolsonaro, assim desesperado, achando que está entre a morte e a vitória, não tomará decisões racionais.
— Esse marco recente mostrou que a coisa é bem pior. Até então tinha briga, muita tensão. A frase foi um ponto de inflexão — diz a fonte.
O que o presidente disse não foi tirado do contexto. Ele foi claro e depois repetiu o mesmo raciocínio. Em Goiânia, dia 28, falando para evangélicos para mobilizá-los a participar do evento do dia 7, Bolsonaro afirmou: “Eu tenho três alternativas para o meu futuro. Estar preso, ser morto, ou a vitória. Pode ter certeza, a primeira alternativa, ser preso, não existe.” Portanto, ele acha que tem duas opções: ser morto ou vencer.
Isso afasta investidores em geral. Ninguém quer vir para o país ou, se for local, fazer novos investimentos se o presidente está desesperado achando que luta pela própria vida e que a derrota o levaria à morte. Um presidente assim caminhará cada vez mais para a radicalização, elevando o nível de imprevisibilidades. Capital detesta o imprevisível.
Bolsonaro está encurralado e com muito medo. Aparecem cada vez mais denúncias sobre os crimes cometidos pelos seus quatro filhos e por uma de suas ex-mulheres. A popularidade dele está em queda, o que tem o efeito de derreter o apoio político. Para reverter esse quadro, Bolsonaro decidiu sequestrar a data nacional do 7 de setembro, como se ela fosse da sua facção.
Políticos de centro, com os quais conversei esta semana, afirmam que o evento será grande. Bolsonaro quer dar uma demonstração de força para o mundo político, para reverter esse clima de desidratação, assustar adversários e intimidar o Judiciário. O presidente usou de forma escancarada recursos públicos e a máquina pública para mobilizar seguidores. Em cidades do interior, panfletos são distribuídos convocando para a manifestação e caravanas estão sendo organizadas. Bolsonaro dedicou o tempo do expediente à organização dos atos. Que fique claro: não é uma manifestação à qual Bolsonaro comparecerá, é um ato organizado pelo presidente da República contra a democracia.
O governo perdeu a batalha dos manifestos empresariais. Primeiro, porque a maioria do capital — agronegócio exportador, industrial e financeiro — deixou claro que se opõe à escalada autoritária do presidente. Segundo, dividiu-se a área econômica do próprio governo. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, foi “incendiário”, segundo eu ouvi de duas fontes oficiais. Mentiu dizendo que o documento da Febraban seria uma carta em favor do impeachment, tentou empurrar Bolsonaro para brigar pessoalmente com os bancos e, por fim, criou o clima de “vale tudo” ao fazer ameaças aos bancos. “O Pedro estava incendiário porque é candidato e tem aspiração política”, me disse uma fonte do governo, sobre o presidente da Caixa.
Ouvi de um integrante do governo a seguinte avaliação: “Esta tensão não é boa para o ingrediente mais importante para a reeleição, que é a recuperação econômica. Quanto mais politizar o setor produtivo, quem está fora não entra, quem está dentro prefere esperar”. Bolsonaro criou um bumerangue que atinge a economia e seu próprio projeto.
Mirian Leitão
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