O mercado financeiro está às turras com o ministro Paulo Guedes, e mostrou todo seu descontentamento nos indicadores mais visíveis dessa relação. A bolsa de valores abriu em queda nesta quinta, chegando aos 2,2% de queda, e o dólar registrou alta, chegando a bater em 5,67 reais, depois que Guedes mostrou que está disposto a furar o ‘sagrado’ teto de gastos, criado durante o governo de Michel Temer, como antídoto fiscal para colocar as contas do Brasil em ordem.
A ideia do ministro é ultrapassar o limite para bancar dívidas, como a dos precatórios que vencem no ano que vem, e o novo programa social do Governo Bolsonaro, o Auxílio Brasil. Há dias o assunto estava em debate, uma vez que o noticiário especulava sobre o lançamento do programa nesta semana. O temor dos investidores se confirmou nesta quarta.
No mesmo dia em que a Comissão do Senado leu o relatório sobre os crimes da pandemia, o Governo decidiu anunciar o lançamento do programa que vai substituir o Bolsa Família, o chamado Auxílio Brasil. Os atuais beneficiários do BF poderão receber 400 reais a partir de novembro, uma boa notícia para as 14,2 milhões de famílias que estão passando dificuldades com a carestia aberta pela pandemia e a inflação que acumula dois dígitos em 12 meses.
Mas o anúncio feito na tarde desta quarta pelo ministro da Cidadania, João Roma, foi um balde d’água para o mercado financeiro, que há dias vem se perguntando de onde esse dinheiro sairá, uma vez que o ministro Paulo Guedes já anunciou que não tem dinheiro em caixa, a ponto de ameaçar não pagar os precatórios que vencem no ano que vem. O ministro Roma explicou que o benefício será transitório e pagará 20% a mais do que o atual Bolsa Família até dezembro de 2022.
Na noite de quarta, Guedes falou em licença para gastar 30 bilhões de reais fora do teto de gastos (ele falou em ‘waiver’, perdão no jargão econômico) para garantir suporte às famílias mais vulneráveis que padecem da inflação que o mesmo Governo não consegue controlar. A medida é vista como uma estratégia eleitoral, uma vez que é estendida pelo ano eleitoral de 2022. Cogitou, ainda, antecipar a revisão do teto de gastos, que estava marcada para 2026. Acusado de ser populista, Guedes argumentou que o o Governo pretende ser “reformista e popular. Não reformista”, disse ele, que participou de dois eventos da área econômica.
Na prática, Guedes contraria o discurso que ele mesmo defendeu desde o início do Governo e com o qual ganhou apoio do mercado. Desgastado pela inflação em alta e a hesitação com o pagamento de precatórios, o ministro agora amplia sua lista de manobras criticadas por investidores cada vez mais céticos de que ele seja capaz de colocar o país nos trilhos da retomada sustentável. O ministro já é alvo de chacota por guardar seu dinheiro no exterior, em offshores, como mostrou a investigação jornalística Pandora Papers, enquanto os brasileiros estão expostos à instabilidade econômica, em parte criada por decisões suas.
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